Varzim-Benfica, 2-1 (crónica)

16 nov 2002, 23:54

Desatinos de uma águia com traços de esquizofrenia É difícil de acreditar, mas era a mesma equipa que goleou o o Paços por 7-0. Mérito, também, de um super-Varzim: raça, fibra e... Rui Baião.

Voltaram os dias cinzentos para o Benfica. Depois de duas vitórias animadoras, o estigma da crise regressou à equipa de Jesualdo Ferreira. Os mesmos problemas, os mesmos receios, a mesma falta de consistência. E mais do que isso, paira sobre o Benfica uma ideia de imaturidade nas alturas decisivas. Tal como aconteceu nas Antas, quando as coisas começaram a aquecer, e quando seria necessário manter a calma e apelar ao discernimento, os jogadores encarnados perderam a cabeça e falharam no momento da verdade. Será que é sina?

Destino ou... desatino, o facto é que esta vitória do Varzim sobre o Benfica é consequência de duas tendências confluentes: a inconstância benfiquista e o excelente momento poveiro. O Varzim voltou a provar que é uma das boas equipas desta Superliga, confirmando o rótulo de sensação do primeiro terço do campeonato. O conjunto poveiro fez um jogo à sua imagem: uma mescla de raça, fibra e pormenores de talento. O lado da arte esteve mais a cargo de Rui Baião (que jogo!), mas também de Jorge Ribeiro. Mas o jogo cheio de Rodolfo, Gilmar e Quim Berto ajudam, também, a perceber o êxito poveiro.

Que não restem, por isso, quaisquer dúvidas: este resultado está longe de constituir escândalo ou surpresa. A vitória do Varzim é clara e límpida: de tal modo que, pelo número de oportunidades falhadas pelos poveiros, a diferença no marcador poderia, até, ter sido bem maior. E, com pezinhos de lã, o Varzim está já a um ponto do Benfica, em quarto na tabela. Notável.

Vinte minutos de sonho do Varzim

Se já era previsível que o Benfica iria conhecer dificuldades na Póvoa, os primeiros 20 minutos tiraram todas as teimas quanto a essa indicação. O Varzim entrou de rompante, criando três ou quatro situações que levaram muito perigo para a baliza de Moreira. Rui Baião, Jorge Ribeiro e companhia avisaram ao que vinham: mais adaptados a um relvado em péssimo estado (muito empapado e escorregadio), os poveiros davam-se melhor com os caprichos que a bola insistia em fazer. Muitos passes conheciam desfechos inesperados e a defesa do Benfica, no início do encontro, foi várias vezes apanhada desprevenida.

O golo do Varzim começava a adivinhar-se, mas a verdade é que o Benfica, embora tenha demorado a compor-se, acabou por refazer o seu jogo. A partir, sensivelmente, do minuto 20, o conjunto lisboeta reequilibrou as coisas e ensaiou, finalmente, uma ou outra jogada com nexo.

Jesualdo repetiu a experiência (bem sucedida) dos últimos dois jogos, colocando um meio-campo com três médios de contenção: Tiago, Andersson e Ednilson. É sabido que são jogadores com características diferentes, mas a intenção de reforçar a zona central foi óbvia. Com Roger no banco, Simão voltou ao onze, mas não para a posição que se adivinhava. Em vez de ocupar uma das alas, deixando a outra para Mantorras, com Nuno Gomes no eixo do ataque, o Benfica experimentou um modelo em que Simão funcionou como o «joker», que tinha como incumbência municiar dois homens abertos na frente.

Rapidamente se percebeu que esse duplo triângulo (Andersson-Ednilson-Tiago e Simão atrás de Mantorras e Nuno Gomes) não se estava a dar bem com a raça poveira. Faltou ao Benfica, ao longo de todo o embate, capacidade de divergir o seu jogo para as alas. Sem extremos em campo, os laterais não estiveram à altura de compensar: Éder bem tentou, mas é nitidamente um lateral com limitações. Cabral, então, não contou no jogo de ataque: valeram-lhe alguns cortes importantes lá atrás.

Porquê, Benfica?

A pergunta é inevitável: como é que uma equipa que vira um resultado desfavorável nos Açores e que 7-0 ao Paços cai nos erros em que o Benfica caiu neste jogo? Sem que haja uma resposta pronta para tal inquietação, o facto é que o jogo na Póvoa voltou a apontar uma certa... esquizofrenia da águia. Os problemas estão lá e não se apagam mesmo depois de boas exibições.

O jogo estava aberto e, apesar da reacção encarnada, continuava a ser o Varzim quem melhor se entendia com o estado do relvado. Num de vários lances de ataque dos poveiros pela esquerda, Andersson faz um corte limpo. Lucílio Baptista assim não entendeu e marcou falta. Gilmar, de cabeça, aproveitou para abrir o activo.

Mas nem houve tempo para os varzinistas saborearem o tento. A polémica voltou, num lance em que Rodolfo toca a bola com a mão na área. O lance parece ser involuntário, mas a verdade é que a jogada é cortada de forma irregular: e Nuno Gomes estava à espreita, nas costas de Rodolfo. O árbitro marcou grande penalidade e Simão fez o empate.

Varzim outra vez melhor

O 1-1 ao intervalo fazia adivinhar uma segunda parte emocionante. O Varzim voltou a arregaçar as mangas e, ainda que não com o fulgor dos primeiros 20 minutos de jogo, repetiu o domínio inicial. O Benfica voltou a ficar baralhado e remeteu-se, instintivamente, à sua defesa.

A troca de Andersson por Miguel revelou-se arriscada: o sueco até estava a ser dos benfiquistas mais esclarecidos, Miguel pouco ou nada trouxe de novo ao ataque encarnado. O Varzim mandava ainda mais a meio-campo. O 2-1 aproximava-se a passos largos.

Noutro lance polémico, fica a ideia de que João Manuel Pinto carrega mesmo Pepa. Lucílio tinha deixado seguir, mas por indicação do seu auxiliar (que estava numa posição privilegiada para julgar), assinala grande penalidade. Quim Berto não perdoa e põe o Varzim outra vez em vantagem.

Começavam a ser reveses a mais para um Benfica a menos. O segundo amarelo de Simão foi uma machadada demasiado forte. A derrota encarnada era uma inevitabilidade: só um remate de Nuno Gomes ligeiramente por cima da barra quase evitava o triste fado benfiquista. Mas isso seria injusto para este super-Varzim.

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