«Receio pelo Euro 2004», confessa Pinto da Costa

15 dez 2000, 17:49

Presidente do F.C. Porto comenta demissão de Armando Vara Pinto da Costa assegura que a saída de Armando Vara do Governo pode travar o ritmo organizativo do Euro 2004. As trocas ministeriais não consolidam a imagem de estabilidade que Portugal quer passar e duplicam os receios do presidente do F.C. Porto, que comenta ainda as declarações recentes de Manuel José.

Os temas justificavam uma espera que começava a ser desesperante. Seria importante registar as opiniões de Pinto da Costa sobre a saída de Armando Vara do Governo e sobre os efeitos nefastos que a notícia pode ter na organização do Euro 2004. A ocasião permitiria ainda abordar o jogo do F.C. Porto em Leiria, com as atenções a circularem em torno das polémicas declarações de Manuel José, o treinador dos leirienses. 

O presidente chegou à Torre das Antas por volta das 16 horas e desapareceu ao volante do seu Opel prateado para o interior do parque subterrâneo. Os jornalistas seguiram-no, certos de que Pinto da Costa falaria da perspectiva azul-e-branca sobre os dois assuntos. «Não faço parte de nenhum partido político, por isso não me peçam comentários sobre as entradas ou saídas do Governo», começou por avisar antes de partir para a enunciação das ideias que criara depois de escutar, durante a manhã, as notícias que davam conta da demissão de Armando Vara. «Como pessoa do desporto, devo dizer que Portugal está a tentar passar para o estrangeiro uma imagem de estabilidade que fica abalada», garantiu. «E isso é muito triste». 

O discurso de Pinto da Costa assumia um tom progressivamente mais sério, que anunciava preocupações e quase dispensava insistências. «Começo a recear pelo Euro 2004». A confissão desencadeava um cálculo mental que não lhe deixava dúvidas. «Estou a pensar que o F.C. Porto fez mal quando já investiu cerca de um milhão de contos no projecto do novo estádio». A troca de Ministro do Desporto, por outro lado, traduz-se num revés importante para o futebol luso. «Penso que é uma grande perda para o desporto português e para o futebol em particular, uma vez que o Armando Vara mostrou sempre uma grande capacidade negocial». 

«É o país que temos e a oposição que temos». Pinto da Costa encolhia os ombros, não resistindo à resignação. «Nem quero saber quem é o próximo ministro, pois quando o conhecer corro o risco de já estar um outro no seu lugar», brincou, tentando desanuviar um capítulo que encerraria com uma derradeira observação. «É lamentável que tenham exigido a saída de um homem muito importante para o sucesso de um projecto como um Europeu de futebol». 

«Manuel José não tem autoridade para carimbar ninguém» 

Chegava o tópico mais escaldante, talvez o mais importante num horizonte próximo. Pinto da Costa autorizava que lhe recordassem as declarações recentes de Manuel José sobre o árbitro Paulo Costa e o poder dos clubes grandes. O presidente garantia que não falaria muito sobre a partida de Leira, para «evitar lugares comuns», chavões sobre dificuldades esperadas, abnegação obrigatória e resultado imprevisível. «Só vos digo que será um jogo difícil», frisava. «Sobre aquilo que disse o Manuel José não farei comentários até ao final do encontro, pois se o fizesse neste momento teria forçosamente de me referir ao árbitro e isso nunca faço antes das jornadas». 

Pinto da Costa lembrar-se-ia de um pormenor que lhe consentia uma opinião que achava obrigatória. «Ele disse que se o presidente do Leiria fosse o Pinto da Costa talvez o árbitro do jogo fosse outro. Eu digo apenas que se o presidente do Leiria fosse o Pinto da Costa, o senhor Manuel José não seria seguramente o treinador do clube». A resposta estava dada, numa sonoridade inquestionável, que o presidente manteria até ao último instante do tempo que dispensara aos jornalistas. «O senhor Manuel José não tem autoridade para carimbar ninguém», contrariava quando lhe apresentavam a possibilidade de Paulo Costa vir a actuar com um carimbo prévio que pode condicionar o seu desempenho. «Se isso acontecesse, de resto, teríamos de aceitar o carimbo de incompetente que o Benfica quis atribuir ao senhor Manuel José».

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