Belenenses-Marítimo, 1-0 (crónica)

11 nov 2000, 18:44

Erro de segundos para eternidade de sofrimento A bola rolou por segundos, aqueles que Porfírio terá tentado ganhar. O erro valeu-lhe a expulsão e o Marítimo jogou 41 minutos com menos um elemento. O destino de um jogo que os madeirenses controlavam mudou e o golo do Belenenses passou a ser uma questão de tempo. Cafu acabou com a tormenta e deu mais uma vitória à nau do Restelo.

Um erro de segundos custou uma eternidade de sofrimento. 27 minutos de aflição constante, que terá parecido muito mais aos maritimistas, e depois mais um quarto-de-hora de nervos na procura de um golo que nem com o mesmo número de jogadores que o adversário parecia coisa provável, embora por acidente pudesse ter acontecido por duas vezes. 

Que erro foi esse, então, que levou a que o Marítimo, depois de uma vitória em casa sobre o Benfica por 3-0, saísse do Restelo derrotado pelo Belenenses? O pecador foi Porfírio e o pecado foi ainda mais grave sabendo que o décimo primeiro mandamento do jogador de futebol é: «Não chutarás a bola para fora com o jogo parado quando já tens o amarelo e o árbitro tem uma doença que faz com que os cartões no bolso lhe causem alergia.» 

Porfírio, que nestas coisas do futebol devia saber mais que muita gente, porque já jogou em mais sítios que muita gente (embora poucos árbitros sofram como os portugueses da alergia do cartão), não fez caso do mandamento e mordeu a maçã. A tentação foi de segundos - de ganhar segundos quando o jogo estava empatado, embora estivéssemos ainda a 2460 do final e mais cinco ou seis não parecessem muito relevantes, mas enfim... Ou talvez o pontapé de Porfírio na bola, depois de fazer uma falta, tenha sido inconsciente, segundos de um gesto talvez habitual mas nem por isso menos reprovável. 

Com um árbitro menos severo o erro teria passado impune. Com Francisco Ferreira o castigo foi máximo, o segundo amarelo e a expulsão, e a penitência sobrou para a equipa, que teve de jogar 41 minutos com menos um jogador. 

Primeiro tempo vagaroso 

Até aí o Marítimo tinha o encontro mais ou menos controlado. O jogo arrastava-se vagarosamente, o Belenenses falhava passes atrás de passes, as grandes oportunidades da primeira parte pertenceram até aos madeirenses - por falhas defensivas dos azuis, mais que por mérito dos forasteiros. 

Na primeira Filgueira falha a intercepção e Musa Shannon (que substituiu Lagorio, que no fim-de-semana anterior fez os três golos da vitória sobre o Benfica) remata à trave. Na segunda a falha é na colocação do liberiano em fora-de-jogo. O avançado do Marítimo escapa-se à justa da manobra da defensiva contrária e, isolado, finta Marco Aurélio para o lado errado, ficando sem ângulo para chutar à baliza. 

O Belenenses, no quarto-de-hora final do primeiro tempo, enfim atacou. Deu um pouco mais de velocidade às suas jogadas e o perigo apareceu. Guga, de cabeça, sozinho na área, desperdiçou a melhor ocasião da sua equipa, ao atirar por cima. 

Só que, quatro minutos depois de recomeçar o encontro, Porfírio tudo mudou. Até aí o Marítimo defendia-se bem, com todos os jogadores a acompanharem um adversário, impedindo a criação de superioridade numérica fosse em que zona do terreno fosse. Isso levava a que todos os jogadores estivessem já, normalmente, atrás da bola, embora o desdobramento para o ataque fosse rápido. 

Marítimo aposta no empate 

Com menos um jogador, Nelo Vingada decidiu apostar no empate. Já depois de Marinho Peres estar a jogar com mais um avançado (Marcão substituira o inoperante Lito), o treinador do Marítimo tirou o avançado que lhe restava (Shannon) e um médio ofensivo (Iliev) para fazer entrar outro médio (Jokanovic) e um central (Jorge Soares). Conclusão: quando o Belenenses tinha a bola, o jogador mais adiantado dos madeirenses estava a 70 metros da baliza contrária. Por muito rápida que fosse a saída do Marítimo para o contra-ataque, era impossível o Belenenses não recuperar defensivamente até que a bola chegasse à sua baliza. 

O Marítimo fechou bem no centro do terreno e lá ia evitando algumas jogadas de perigo, mas o sufoco do Belenenses era tal que o golo parecia uma questão de tempo. Demorou mais do que se supunha, pelo facto de a equipa da casa ter escolhido a solução errada para atacar (pelo meio) e pelo desperdício de algumas oportunidades, mas lá apareceu. Da cabeça de Cafu, depois de canto de Pedro Henriques. 

Sem qualquer dúvida, o resultado estava feito. O Marítimo veio para a frente, mas para quem está a 70 metros da baliza isso pode não querer dizer muito. Teve em 15 minutos duas boas situações para rematar com perigo à baliza, mas Albertino e Bruno estiveram desastrados. Também não havia muito a censurar. O erro acontecera 41 minutos antes.

Mais Lidas

Patrocinados