Doping: a surpresa de um mundial totalmente «limpo»

5 jul 2002, 19:40

Uma discrepância em relação a uma época muito conturbada Os vários casos no futebol europeu não impediram que o mundial-2002 fosse totalmente «limpo».

O mundial-2002 foi completamente limpo no que toca a casos de doping. As centenas de análises que foram feitas deram todas negativo, de acordo com as informações oficiais divulgadas pela FIFA.

Depois de uma época tão conturbada nesse capítulo, em vários campeonatos europeus, não deixa de ser surpreendente que as coisas tenham corrido tão bem. No historial dos mundiais, não há registos de grandes casos de doping (Maradona não incluído, claro...). Como explicar a discrepância em relação aos campeonatos nacionais? «São situações muito distintas», considera José Augusto, fisiologista do esforço e professor na Faculdade das Ciências do Desporto e de Educação Física (FCDEF).

«No mundial, existe um muito maior cuidado dos jogadores, porque é uma situação muito mais mediatizada. Por outro lado, as próprias equipas médicas são muito rigorosas, porque é uma situação em que não se pode mesmo pisar o risco», observa. José Augusto ressalva, no entanto, que «não podemos ser totalmente ingénuos numa questão tão complexa como o doping». «Não vamos esperar que nenhum jogador que tenha estado no mundial seja totalmente limpo. A questão é que as substâncias dopantes têm períodos de repouso, isto é, alturas em que não são tomadas. É a chamada fase da cura. Ora, o defeso é a óbvia altura para se fazer isso».

Aposta nos controlos cegos...

Na perspectiva de José Augusto, os chamados controlos cegos, controlos que são feitos fora da competição, em treinos e noutro tipo de situações, usando o trunfo do efeito-surpresa, têm contribuído, também para «uma luta mais incisiva e eficaz no combate ao doping».

«Mas há muito por onde batalhar nesta luta», avança José Augusto. «A engenharia genética será, talvez, a maior ameaça do futuro próximo. Quando em determinadas polémicas, como em relação à nandrolona, se discute uma eventual produção endógena do atleta, é no mínimo preocupante concluir que o futuro nos vai reservar situações bem mais complicadas. A hormona de crescimento, por exemplo, pode ser uma das formas de dopagem mais eficazes. E a questão é que, como se trata de um caso em que é o próprio organismo a produzir, produto de avançada engenharia genética, será difícil tornar ilícita uma prática dessa natureza. E, no entanto, houve um evidente favorecimento a uma determinada performance...»

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