Paulo Madeira: «Uma equipa não se forma de um dia para o outro»

4 ago 2000, 18:05

Defesa do Benfica deixa aviso Paulo Madeira sabe que as expectativas para esta época são muito altas, mas lembra os muitos jogadores novos que o plantel do Benfica tem (a maior parte deles jovens) para travar euforias. Consciente do seu papel na intregração desses novos elementos, o defesa português tem tentado afastar a pressão, que diz ter tendência a aumentar, dos seus ombros.

«Uma equipa não se forma de um dia para o outro.» Paulo Madeira, um dos jogadores mais experientes do Benfica, tem consciência de que as expectativas quanto a esta época são muito grandes, que a pressão tem tendência a aumentar, mas procura evitar euforias. 

«Houve várias contratações e há que dar tempo ao tempo. Chegou um lateral-direito novo, um lateral-esquerdo novo, um central novo, jogadores que vêm de outros campeonatos e que têm de se ir adaptando ao nosso futebol.» 

Escalona, um dos reforços encarnados (20 anos), apontava ontem Paulo Madeira como o jogador que poderá conferir experiência a uma equipa muito jovem. O central português considera que a juventude do plantel «não é um risco» mas reconhece que todas as alterações registadas no defeso vão obrigar a um período de adaptação. «As pessoas esperam muito do Benfica, mas uma equipa não se consegue fazer rapidamente. Precisamos de algum tempo, muitos jogadores entraram agora e não é de um dia para o outro que se faz uma equipa.» 

«Ganhar é a nossa palavra de ordem» 

Paulo Madeira tem noção de que desempenha um papel importantíssimo na adaptação dos reforços. «Analisando a idades de todos os jogadores trata-se realmente de uma equipa muito jovem. Dos onze que começaram o jogo com o Linfield seis são novos no Benfica e com excepção de Pierre Van Hooijdonk são todos jovens. Como um dos mais velhos procuro mostrar que a mística do Benfica é tentar vencer tudo em que participamos. Mística é fazer tudo a cem por cento, a 120 por cento se for preciso, e ganhar é a nossa palavra de ordem.» 

Depois de no ano passado o Benfica ter voltado a desiludir, não conquistando qualquer troféu, o defesa sabe que a pressão tem tendência a aumentar. «Sinto que as exigências e a pressão serão cada vez maiores à medida que os anos passam sem nada ganhar. É outra das coisas que procuro mostrar aos mais novos - há muita pressão em todos os aspectos e incentivo os jogadores a ultrapassá-la, a não a levar para dentro do campo.» 

Conselhos aos mais novos 

A ideia de que o Benfica precisa de algum tempo para ultrapassar as saídas de João Pinto e Nuno Gomes e integrar os novos elementos está presente em todo o discurso de Paulo Madeira. Apesar disso, o defesa não considera que o Benfica parta «em desvantagem» em relação à concorrência. «Poderá levar-se algum tempo a conseguir os índices que os treinadores ambicionam, nomeadamente estar fisicamente a cem por cento, e tacticamente iremos melhorando com o decorrer dos jogos», admite, mas isso não limita as ambições da equipa. 

«Os jogadores que vieram de novo estão a adaptar-se bem ao futebol português e espero que possamos formar uma equipa coesa e jogar mais do que na segunda parte com o Linfield.» 

Paulo Madeira também já foi um jovem no plantel benfiquista, a procurar adaptar-se à realidade do clube. «Quando comecei a jogar no Benfica havia muitos jogadores com muita experiência. O que gostava era que esses jogadores nos acarinhassem, nos pusessem à vontade, e dentro do possível é isso que tento fazer com os jogadores novos, dando um ou outro conselho sobre coisas de que eles não se apercebem.»

«Todos têm de defender» 

O Benfica reforçou muito o sector defensivo mas Paulo Madeira não gosta que se fale na procura de uma defesa mais segura. «Quando se perde a bola não se pode pedir só à defesa para a recuperar. Temos aprendido muito com os italianos e os espanhóis e quando eles perdem a bola colocam 10 jogadores atrás da linha da bola. É o que se tem de passar no Benfica, todos têm de defender», lembra. 

Uma das grandes esperanças do Benfica para esta época é o espanhol Marchena, que custou 1,2 milhões de contos e irá rivalizar com Paulo Madeira, Ronaldo e Sérgio Nunes na luta por um lugar no centro da defesa. Paulo Madeira define o antigo jogador do Sevilha como um central «novo, com grande futuro à sua frente e que ainda pode mostrar muito mais». 

Dois testes britânicos 

O jogo de amanhã com o Liverpool é um dos grandes testes aos encarnados antes do início da temporada, pela qualidade do adversário. Paulo Madeira sabe que é altura de começar a mostrar o que o Benfica pode fazer, mas dá a entender que há ainda espaço para melhorar. 

«Faltam 16 dias para o início do campeonato e teremos pelo menos dois jogos muito difíceis, com Liverpool e Aston Villa, em que teremos de estar a cem por cento e aguentar os 90 minutos a bom nível. O jogo de amanhã (16 horas) é um teste bastante forte. No último jogo, com o Linfield, estivemos bem nos primeiros 45 minutos, mas depois quebrámos. Espero que amanhã consigamos aguentar os 90 minutos e encontrar ritmo de competição.» 

O Benfica começa o campeonato com uma deslocação às Antas. A última vez que F.C. Porto e Benfica se encontraram na jornada inaugural do campeonato o jogo terminou empatado a três golos e o clube da Luz acabou por se sagrar campeão nessa época (o seu último campeonato conquistado). Paulo Madeira, que na altura não actuava no Benfica, não pretende ver a História repetida. «Espero que o resultado não seja 3-3 mas uma vitória para nós. Vamos tentar contrariar o favoritismo que o F.C. Porto goza há algum tempo nas Antas.» 

Tristeza pelo que aconteceu com a Selecção 

Os objectivos pessoais de Paulo Madeira para esta época confundem-se com os da sua equipa. O defesa fala em «contribuir para as vitórias do Benfica» e refere-se com mágoa ao seu afastamento dos 22 jogadores que participaram no Europeu, não considerando a Selecção uma meta. 

«Depois do que aconteceu no último Europeu fiquei triste com a maneira como fui tratado. Com o decorrer dos meses caiu tudo em cima de mim, por isso prefiro trabalhar bem no meu clube e depois logo pensarei na Selecção.» 

Paulo Madeira lamenta a atitude do ex-seleccionador Humberto Coelho e a passividade da comunicação social, que não o defendeu. «Tudo aconteceu e o Paulo Madeira ficou esquecido a um canto. Não tive apoios de lado nenhum, ninguém questionou nada... Não é normal um jogador que faz toda a qualificação a titular - só falhei dois jogos e por lesão - ficar de fora. O seleccionador também não me disse nada. Mais valia ter dito que não me levou porque eu não jogo nada, mas nem isso.» 

Agora que Humberto Coelho é passado e António Oliveira é presente, o benfiquista mostra-se esperançado na sua recuperação, mas procura não se deixar entusiasmar. «Espero que a mudança seja boa, tenho boas recordações do Oliveira, que me convocou para o Campeonato da Europa de 96 quando eu jogava no Belenenses. Talvez porque na altura já tivesse qualidades...»

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