Inteligência artificial. "Quem não receber formação pode ficar para trás" - e não será só no mercado de trabalho

6 set 2023, 09:00
Inteligência Artificial (Getty Images)

A psicóloga Jerri Lynn Hogg tem-se debruçado sobre temas que envolvem as novas tecnologias e o comportamento humano e esteve no Porto para uma palestra a propósito do Dia Nacional do Psicólogo

A estimativa pode ser alarmante: cerca de 14 milhões de postos de trabalho podem ser eliminados nos próximos cinco anos por causa da inteligência artificial, de acordo com um estudo do World Economic Forum designado “Future of Jobs”. O assunto tem gerado as mais diversas reflexões sobre o futuro das nossas sociedades e, particularmente, sobre o mercado de trabalho como o conhecemos. Mas a psicóloga Jerri Lynn Hogg, que se tem debruçado sobre temas que envolvem as novas tecnologias e o comportamento humano, está mais otimista: não tem dúvidas de que a transformação promovida pela inteligência artificial vai acontecer, mas acredita que essa mudança terá uma concretização mais positiva do que negativa.

“Acredito que o mercado trabalho vai mudar - e há já vários estudos que apontam para isso – mas que, em certos tipos de trabalho, essa mudança vai acontecer de uma forma muito mais positiva do que pensamos e outras funções vão evoluir”, afirma em entrevista à CNN Portugal.

Jerri Lynn Hogg é presidente da Divisão de Sociedade, Media, Psicologia e Tecnologia da Associação de Psicólogos Americana (APA) e diretora do Programa de Psicologia na Fielding Graduate University e esteve no Porto, esta segunda-feira, para uma palestra a propósito do Dia Nacional do Psicólogo, promovido pela Ordem dos Psicólogos. A especialista admite que em certos empregos como, por exemplo, funções mais administrativas, existam tarefas que possam ser delegadas para os sistemas de inteligência artificial. No entanto, para a psicóloga isto pode trazer um impacto positivo, permitindo que os profissionais se possam focar noutro tipo de competências. É o que pode acontecer na área da psicologia. 

“Falemos do caso de um psicólogo: toda a gente está muito preocupada com a utilização de inteligência artificial nesta área, mas e se tivermos a inteligência artificial a funcionar como um sistema que tira notas para deixar o psicólogo completamente focado no paciente? Outro aspeto em que a inteligência artificial pode ajudar é, por exemplo, durante uma sessão lembrar o psicólogo de possíveis diferenças culturais que podem ser importantes para a sua avaliação”, sublinha.

Se restam poucas dúvidas de que não será preciso muito tempo para a inteligência artificial estar integrada no nosso quotidiano e nos nossos espaços de trabalho, existem ainda muitas questões sobre a forma como essa implementação vai acontecer. Jerri Lynn Hogg lembra que os receios em torno da inteligência artificial são os mesmos que envolveram outras tecnologias, no passado.

“Aconteceu com cada tecnologia que foi surgindo: a uma dada altura pensa-se sempre que vai trazer coisas muito más para as nossas vidas, que vai eliminar postos de trabalho. É da natureza humana ter medo da mudança, por isso, acho que temos de abordar essa parte”, nota.

O medo em torno da inteligência artificial pode ser tão forte quanto o entusiamo, mas o caminho parece mais ou menos traçado: a inteligência artificial já é uma realidade e veio para ficar, pelo que o melhor que temos a fazer, diz a psicóloga, é estarmos envolvidos na sua implementação, procurando desenvolver as competências necessárias para a sua utilização.

“Acredito que a inteligência artificial vai estar integrada nas nossas vidas e, por isso, a melhor coisa que temos a fazer é acolhê-la. Mas com protocolos, com as melhores práticas possíveis e com ferramentas próprias. Temos de pensar no impacto psicológico da interação com a inteligência artificial, que aspetos podem não ser tão transparentes como gostávamos que fossem e temos também de criar formas que os permitam tornar mais transparentes”, defende.

A questão da formação é, por isso, crítica para Jerri Lynn Hogg e deve abranger tanto o ensino como as próprias empresas: “temos de educar, de formar as pessoas para que elas saibam como criar inteligência artificial e para que saibam como a usar”.  

“É um dos assuntos sobre os quais devemos estar mais preocupados: quem não receber essa formação pode ficar para trás no mercado de trabalho e pode ter dificuldades nas rotinas do quotidiano, no geral, porque a inteligência artificial vai fazer parte das nossas vidas”, frisa a especialista.

A inteligência artificial tem sido um dos temas que mais debates tem gerado nos últimos tempos e, esta segunda-feira, esteve em destaque na conferência organizada pela Ordem dos Psicólogos, no Porto, a propósito do Dia Nacional do Psicólogo. Num evento que contou com a participação de vários especialistas, foram abordados os riscos, desde os efeitos no mercado de trabalho à sua utilização para o desenvolvimento de armas, mas também as suas amplas vantagens: a inteligência artificial pode melhorar o acesso dos cidadãos à saúde e à educação, pode aumentar a produtividade das empresas e pode ser ainda um motor de promoção de um desenvolvimento mais sustentável. 

A Ordem dos Psicólogos publicou ainda um documento sobre estas reflexões, que concluiu que a inteligência artificial tem um potencial transformador em todos os setores da sociedade, mas é necessário que seja regulada para que seja possível ultrapassar os seus desafios, alavancar as vantagens e mitigar os riscos.

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