Esta é a lista que "impressionou muito" Paulo Portas: os maiores recebedores do PRR são todos do Estado

29 jan, 15:13

A "bazuca" de Bruxelas está a privilegiar entidades públicas. A CNN publica aqui a lista dos 50 dos maiores beneficiários, na qual apenas duas entidades são controladas por capitais privados. Do dinheiro já pago desta lista, quase 99% foi entregue a entidades públicas. "Não me parece que seja isto que vá fazer a nossa economia crescer", diz Paulo Portas. O Governo confirma os factos mas desmente as conclusões. O dinheiro, diz, acaba por chegar aos privados.

"Não me parece que seja isto que vá fazer a nossa economia crescer". Paulo Portas qualifica assim a lista dos maiores beneficiários do PRR, frisando que nos dez maiores beneficiários, "são todos Estado". A primeira empresa da lista aparece em 13º lugar: é a Efacec, empresa que... foi intervencionada pelo Estado.

A análise foi feita este domingo à noite no "Global", espaço semanal de Paulo Portas na TVI. Logo a abrir (no vídeo que pode ver em cima), Portas chamou-lhe "Estadão". Porque os maiores beneficiários do PRR, "da chamada bazuca, são todos Estado". 

A lista em causa resulta da avaliação feita pelo Estado à implementação do Programa de Reestruturação e Resiliência (PRR) e pode ver no portal Recuperar Portugal. A CNN Portugal expandiu a análise de Portas (que falara apenas dos 10 maiores beneficiários) até às 50 entidades que mais dinheiro receberam até agora. Na lista das 50, além do caso da Efacec, há apenas duas empresas controladas por capitais privados. As demais 48 têm capitais públicos, seja do Estado central, de municípios ou das regiões autónomas.

As duas empresas privadas estão, aliás, no fim da lista: a Bondalti H2 (42ª da lista) e a Petrogal (48ª da lista).

No total, a lista movimenta 6,8 mil milhões de euros de valores aprovados, dos quais 1,74 mil milhões já estão pagos (ou seja, 26% dos apoios aprovados já estão pagos). Destes valores, as duas empresa controladas por capitais privados receberam 24,4 milhões de euros: 1,4% do total. Os restantes 98,6% dos valores pagos foram entregues a entidades públicas.

Eis a lista, conforme disponibilizada pelos serviços do Estado a 29 de janeiro de 2024:

Os 50 maiores beneficiários do PRR (por valores já pagos, em milhões de euros)
BENEFICIÁRIO Valor aprovado Valor Pago
1. Banco Português de Fomento 250 250
2. Sec. Geral da Educação e Ciência 234,2 232
3. Infraestruturas de Portugal 496,6 114,4
4. Metropolitano de Lisboa 554 74,3
5. Metro do Porto 418 63,7
6. Instituto de Informática 181,5 52,4
7. Serv. Partilhados Ministério da Saúde 301 52,4
8. Inst. Habitação e Reabilitação Urbana 631 44,3
9. Agência Modernização Administrativa 168 43,4
10. Inst. Emprego Formação Profissional 202,2 42,2
11. Município de Lisboa 150,6 41,5
12. CEIIA Centro Eng.ª e Desenvolvimento 142,7 39,5
13. Efacec Power Solutions 35 35
14. Inst. Conservação Natureza e Florestas 146,6 34
15. Adm. Reg. Saúde Lisboa e Vale do Tejo 173,1 34
16. Força Aérea Portuguesa 74 33,4
17. Sec. Reg. Finanças, Planeamento e AP 81,7 31,9
18. Ent. Serv. Partilhados Administ. Pública 161,6 23,3
19. Sec. Geral Min. Administração Interna 62,3 26,8
20. Universidade de Aveiro 97 22,6
21. Inst. Gestão Financeira da Educação 172,2 22,4
22. Universidade de Lisboa 58,4 21,5
23. Empresa Eletricidade da Madeira 69 20,6
24. Sec. Geral Min. Negócios Estrangeiros 54,7 19,6
25. Investimentos Habitacionais Madeira  136 19,2
26. Instituto Camões 18,9 17,7
27. Universidade do Porto 80,7 17,4
28. Município de Setúbal 77,7 17,2
29. Águas do Algarve 169,5 17
30. CIM do Alto Alentejo 141,6 16,5
31. Dir. Regional Obras Públicas 74,4 16,5
32. Min. Defesa Nacional - Marinha 151,5 16,4
33. Universidade de Coimbra 72 15,6
34. Assc. Turismo de Lisboa 57 14,2
35. Inst. Politécnico de Coimbra 58 14,2
36. Universidade do Minho 64,7 13,7
37. INESC TEC 57,7 13,7
38. Município do Seixal 39,6 13,7
39. Águas e Resíduos da Madeira 70,2 13,6
40. Dir. Reg. de Energia 6,9 13,2
41. Transportes Urbanos de Braga 100 13
42. Bondalti H2 56,3 13
43. Dir. Regional de Habitação 60 12,6
44. Autoridade Tributária e Aduaneira 48,3 11,9
45. LIN - Lab. Ibérico Int. Nanotecnologia 51,5 11,8
46. Sec-Geral Ministério da Justiça 53,2 11,7
47. Câmara Municipal Coimbra 46,7 11,6
48. Petrogal SA 49,5 11,4
49. Uni. Nova de Lisboa 64,8 11,3
50. Univ. Trás os Montes e Alto Douro 48,4 10,8
Fonte: Recuperar Portugal

Foi esta lista que "impressionou muito" Paulo Portas. "Sempre achei que ele [o PRR] tinha uma distopia em relação à realidade portuguesa, que era [prever] dois terços para o Estado, um terço para o sector privado", afirmou o comentador no domingo. Ora, "o sector privado representa 80% do emprego e praticamente 100% do valor acrescentado da nossa economia", disse. 

"Sou pela execução do PRR, já não há tempo para o discutir. Foi o que um governo legitimado pelo voto popular escolheu. Mas não me parece que seja isto que vá fazer a nossa economia crescer. Nominalmente, por ventura; mas do ponto de vista do valor acrescentado, da inovação, da capacidade de empreendimento, não é isto - por mais que cada uma destas entidades tenha necessidades que estavam há bastante tempo por satisfazer, sobretudo porque houve corte no investimento público", acrescentou. E concluiu:

"Se nós pensarmos a médio prazo, isto não é muito reprodutivo".

O governo contesta esta análise. Já esta segunda-feira, fonte oficial da Presidência do Conselho de Ministros defendeu em declarações à TVI e à CNN Portugal que "a ideia de que o PRR apenas beneficia o Estado não corresponde à verdade".

"No conjunto do PRR e PT2030, as empresas poderão contar com 13,8 mil M€ de apoios, um acréscimo de +142% face ao ciclo de programação anterior (PT2020), reforçado após a reprogramação do PRR – reprogramação que foi maioritariamente dirigida ao reforço das verbas para empresas."

O principal argumento do governo é o de que "o financiamento PRR dirigidos a entidades públicas, tais como as apresentadas na lista de maiores beneficiários, correspondem muitas das vezes a as medidas dirigidas às empresas e famílias."

Veja os esclarecimentos completos do governo aqui.

Relacionados

Decisão 24

Mais Decisão 24

Patrocinados