Fotos manipuladas por IA nas redes sociais? “Estamos todos sujeitos" a ter a imagem usada em vídeos de cariz sexual

19 set 2023, 17:00

O caso das jovens de Almendralejo, em Espanha, volta a acordar consciências: É preciso ter cuidado com o que se publica na internet e urgente regulamentar a Inteligência Artificial

Almendralejo é já ali, do outro lado da fronteira. A pouco mais de 60 quilómetros de Badajoz e a menos de uma hora de Elvas, já em Portugal. Mas o que está a acontecer em Almendralejo nem sequer tem fronteiras e pode passar-se com qualquer um de nós: quase três dezenas de pais já apresentaram queixa, depois de descobrirem que andavam a circular fotografias das suas filhas completamente nuas nas redes sociais e nos telemóveis dos colegas. Fotografias onde só a cara é verdadeira e tudo o resto é criado com recurso a uma aplicação de Inteligência Artificial.

“Isto não é novo. O que está a ser novo é a utilização destas aplicações que estão acessíveis a qualquer um, sem necessidade de grandes conhecimentos de programação ou de informática. Os precursores disto eram as fotomontagens, mas identificava-se perfeitamente que eram montagens. Atualmente são feitas com mais perfecionismo, e mais rapidamente, através da Inteligência Artificial”, alerta Tito de Morais, cofundador do projeto Agarrados à Net.

Em conversa com a CNN Portugal, o especialista vai ainda mais longe no aviso: “Estamos todos sujeitos. Não são só os jovens. Todos. E estamos sujeitos, por exemplo, a que a nossa fotografia seja usada para criar vídeos de cariz sexual ou em crimes graves”.

“Esta manipulação já começou a acontecer com vídeos. Partindo de fotos minhas em redes sociais, é possível usá-las para criar em vídeos em que eu apareço praticar atos sexuais, por exemplo. E mais: já começamos a ter situações de fraude usando a voz, de filhos que ligam aos pais a pedir ajuda, porque estão com problemas ou precisam de dinheiro e é um computador a falar. Com trechos da minha voz, conseguem criar diálogos, onde pareço mesmo ser eu a falar”, sublinha.

Regulamentação precisa-se

Tito de Morais lembra que é preciso redobrar cuidados com o que se publica na internet. Mas desengane-se quem acha que, por não ter redes sociais ou não publicar imagens suas nas redes, está livre destes problemas: “A única maneira de nós nos defendermos é não publicarmos nada nas redes sociais. Mas mesmo assim, não estamos livres de ir na rua e sermos fotografados e usaram essas fotografias para este tipo de atividade”.

Assim, reforça, é necessário regulamentar a Inteligência Artificial, para evitar que outros crimes sejam cometidos. “Já há imagens de abusos sexuais de crianças e jovens integralmente criadas com recurso a Inteligência Artificial. Ainda recentemente uma organização do Reino Unido alertou para isso. Imagens de abusos sexuais de menores falsas que são difíceis de distinguir das verdadeiras. E também é possível usarem a cara dos nossos filhos nestas imagens”, denuncia Tito de Morais.

E se fosse comigo?

Em relação ao caso de Almendralejo, Tito de Morais lembra que “quem tem essas imagens dessas jovens, quem as produz e quem as distribui está a cometer um crime de pornografia de menores”.

Por isso, o cofundador do Agarrados à Net alerta os pais portugueses: “Se se depararem com uma situação deste género, lembrem-se que é um crime. Sendo crime, tem de ser denunciado às autoridades judiciais, à Polícia Judiciária, que é quem detém a responsabilidade por este tipo de crimes. Na página da Internet da PJ, podemos encontrar os contactos todos dos piquetes e das diferentes delegações”.

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E, acrescenta, é preciso estar ainda mais atento ao mundo tecnológico em que vivem os nossos filhos. É fundamental cultivar-lhes a literacia digital e acompanhar de perto o uso que fazem de telemóveis, tablets, consolas e computadores. “Consultar os telemóveis regularmente e instalar software de controlo parental, que também pode ajudar nesta tarefa, é muito importante”, adianta.

Mas o que é verdadeiramente fundamental é o diálogo com os nossos filhos: “Se suspeitarem que uma situação destas está a acontecer com os vossos filhos, é importante criar canais de comunicação com os jovens para que eles estejam à vontade para falar aos pais desta situação. Muitas vezes, os miúdos sentem-se culpados, como se tivessem feito alguma coisa de mal para merecer que lhes faça isto, têm vergonha e escondem que estão a ser vítimas deste crime.”

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