Empresa liderada por José Neves, que foi o primeiro unicórnio português, está em conversações avançadas com capitais de risco para obter centenas de milhões de dólares em financiamento de emergência
A Farfetch está a tentar fechar um acordo de “resgate” antes do Natal para evitar a insolvência, de acordo com o The Sunday Times (acesso pago, conteúdo em inglês). Em cima da mesa estará um acordo com um comprador, suportado em private equity e já em estado avançado de negociações.
Na semana passada, a Sky News noticiou que a empresa de origem portuguesa estaria em conversações com vários players para obter centenas de milhões de dólares em financiamento de emergência, sendo um deles o fundo de capital privado Apollo Global Management.
Não é claro se o novo capital seria fornecido como dívida ou capital, ou uma combinação dos dois. Assim como o valor que está em causa, embora o The Sunday Times tenha noticiado que a empresa de origem portuguesa deverá precisar de levantar cerca de 500 milhões de dólares.
Estas negociações surgem depois de ser conhecido que José Neves, fundador da Farfetch, estaria a considerar tornar a empresa privada, retirando-a da bolsa de Nova Iorque. O Público noticiou que o primeiro unicórnio português pode despedir cerca de 2.000 trabalhadores este ano, ao invés dos 800 que estavam previstas, cortando até 25% da força de trabalho para garantir a viabilização.
O marketplace fundado em 2008, que tem sede fiscal em Londres, tem estado sob pressão dos mercados nas últimas semanas, depois de ter adiado a apresentação de resultados do terceiro trimestre, prevista para 29 de novembro. Na semana passada, a agência de rating Moody’s baixou ainda mais a classificação de crédito da empresa para território de “lixo” e colocou-a em revisão para um novo corte, citando a deterioração da sua posição financeira.
A Farfetch estreou-se na Bolsa de Valores de Nova Iorque em setembro de 2018, com um IPO de 20 dólares por ação. Atualmente, está a cotar nos 0,64 dólares.
De volta aos prejuízos
Depois dos lucros nos últimos dois anos, à boleia do boom do comércio online durante a pandemia, a empresa fundada por José Neves deverá voltar aos prejuízos este ano.
O ministro da Economia português já disse estar a “acompanhar com atenção o que se está a passar” na Farfetch, que “era um dos nossos grandes unicórnios”. António Costa Silva sustenta que as empresas têm “altos e baixos”, esperando que “esta situação possa ser estabilizada e a Farfetch possa regressar àquilo que foi antes”.
A Farfetch está também a ser visada numa ação coletiva nos EUA que argumenta que a empresa fez “afirmações enganadoras” que prejudicaram os investidores. Apesar de estar a ser fortemente penalizada em Wall Street, assim como pelos resultados e prejuízos que tem acumulado, conseguiu nos últimos dias obter um novo investidor. A Point72 Asset Management, juntamente com entidades associadas e o investidor Steven Cohen, dono da equipa de basebol New York Mets, adquiriram uma participação de 5,1% na empresa.