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O murro na mesa da indústria europeia

4 mar, 18:36

A indústria europeia acaba de lançar a maior declaração de intenções das últimas décadas. A Declaração de Antuérpia foi assinada a 20 de Fevereiro deste ano. Num curto fio na rede social X (antigo Twitter), o consultor Simon Wakter resume a peça de opinião que escreveu com Hannah Stengren no maior jornal de negócios sueco, Dagens Industri.

Dos dez pontos originais da declaração, as duas principais mensagens para o próximo executivo Europeu e dos vários estados membros são:

  1. A Europa deve fazer da sua competitividade um objetivo prioritário.
  2. O fator mais importante para o conseguir é um fornecimento competitivo de moléculas verdes e eletrões verdes.

Os signatários representam 7,8 milhões de empregos na Europa e proporcionam um valor acrescentado de 549 mil milhões de euros à economia Europeia. Entre eles encontramos a ArcelorMittal, L'Oréal, ThyssenKrupp, Bayer, GlaxoSmithKline, TotalEnergies, Shell, LyondellBasell, Ineos, Air Liquide, a Portuguesa Bondalti, e o gigante petro-químico alemão BASF. Todos concordam: a energia na Europa deve ser limpa e competitiva e a Europa deve ser soberana o mais possível das suas cadeias de abastecimento. “A próxima Comissão Europeia precisa de dar prioridade a novos projectos de energia renovável e nuclear, abundante e acessível, com baixas emissões de carbono”.

A própria BASF tem sido pioneira na migração da indústria Europeia para outras paragens onde a energia é mais barata, como nos Estados Unidos. Como a Declaração de Antuérpia diz “Uma economia dos USA, que beneficia do apoio financeiro da Lei de Redução da Inflação (IRA) e da sua facilidade de acessibilidade, uma sobrecapacidade chinesa e o aumento das exportações para a Europa aumentam ainda mais a pressão sobre a indústria europeia”. Na Alemanha, após mais de 500 mil milhões de Euros gastos na sua transição energética nos últimos 20 anos, os objetivos climáticos parecem alcançáveis… mas da pior maneira. Sim, as emissões totais alemãs têm diminuído, e o consumo total de carvão também. Mas graças à destruição da procura devido a uma desindustrialização galopante. De acordo com o Gabinete Federal de Estatísticas, um quinto do setor industrial intensivo em necessidades de energia (energieintensive industriezweige) simplesmente desapareceu desde 2015, se olharmos para o seu índice de produção.

Ao questionar o Vice-Chanceler Robert Habeck acerca da situação, este diz que “não é a situação que está má, os números é que não estão bons”.

Mas não é só na Alemanha que a indústria exige mais dos governos. Aqui ao lado, em Espanha, devido ao encerramento forçado de 7 reatores nucleares por motivos ideológicos, o fornecimento elétrico pode não estar assegurado num futuro próximo. Quem o diz é José Bogas, CEO da ENDESA. De relembrar que no “Plano Nacional Integrado de Energia e Clima” Espanhol, não há planos para encerrar centrais a gás natural. No entanto, a Ministra da Transição Ecológica, Teresa Ribera, não encontra razões para que as centrais nucleares espanholas continuem a funcionar. Curiosamente, e alinhada com a sua colega de partido, Nadia Calviño, atual dirigente do Banco Europeu de Investimento, apoiam um plano ambicioso de investimento para novos projetos de energia nuclear na Europa. Calviño é também uma das arquitetas do plano de encerramento do nuclear espanhol. Calviño foi nomeada para o cargo com o apoio de França, na condição que Calviño abandonasse a sua posição anti-nuclear. “Estes são os meus princípios, se não gostarem tenho outros”, já dizia Groucho Marx.

É preciso dar a conhecer estes casos e simultaneamente desmistificar a energia nuclear. É a isso que se dedica o engenheiro Alfredo Garcia, mais conhecido nas redes sociais como “Operador Nuclear”. Alfredo Garcia é operador sénior da central nuclear de Ascó, e é também um dos maiores divulgadores de ciência do país vizinho, tendo mesmo publicado dois best-sellers. A posição de cada país do mundo em relação à energia nuclear é representada de forma clara na infografia seguinte, gentilmente cedida pelo próprio autor:

Como se pode constatar, encerrar centrais nucleares por motivos ideológicos é um exclusivo europeu.

No próximo dia 23 de Março terá lugar aquela que será a primeira manifestação de apoio público ao nuclear Espanhol, em Barcelona. Portugal far-se-á representar pela associação ambientalista WePlanet (da qual faço parte) e do grupo Nuclear Vision Portugal.

Precisamos de uma visão de futuro com mais e melhor indústria, com empregos bem pagos e com um impacto mínimo no meio ambiente.

Que o próximo governo Português faça cumprir a Declaração de Antuérpia!

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