Zelensky já aprendeu a dizer "obrigado". Como está a ser preparado o discurso no Parlamento

19 abr 2022, 18:00

O presidente ucraniano tem estado a acertar com a Embaixada da Ucrânia em Portugal os últimos detalhes da sua intervenção no Parlamento. A sessão solene decorre esta quinta-feira mas numa hora diferente da prevista "porque os horários do presidente da Ucrânia estão sempre a mudar em tempos de guerra"

Para preparar o discurso que vai fazer no Parlamento nesta quinta-feira, o presidente Zelensky tem mantido, nos últimos dias, contactos frequentes com a Embaixada da Ucrânia em Portugal para obter informações úteis para o momento. Por outro lado, decidiu aprender a dizer em português a palavra "obrigado", apurou a CNN Portugal junto de fonte oficial da embaixada.

Nos contactos com os diplomatas que estão em Portugal, o líder do governo ucraniano já fez questão de mostrar que tinha aprendido a pronunciar aquela palavra, que pode usar para terminar o discurso que vai fazer à Assembleia da República. Os detalhes da sua  intervenção estão a ser preparados com ajuda da embaixada, sendo certo, que a mensagem irá refletir o que a guerra com a Rússia significa para o futuro da Europa, sem ignorar o passado histórico português e a relação de amizade entre os dois países.

Na Assembleia da República, onde vai discursar através de um ecrã e poderá ter acesso a tradução simultânea feita por um intérprete nomeado pela embaixada. Essa foi, aliás, uma recomendação da própria embaixada da Ucrânia, não havendo ainda esta terça-feira uma decisão final quanto ao assunto. 

Certo é que o presidente ucraniano não tem limite de tempo para falar, até porque não haverá intervenções de qualquer grupo parlamentar, nem de deputados nesse dia.

A sessão solene estava prevista para as 15:00 de quinta-feira, mas foi alterada para as 17:00 após um pedido da Embaixada da Ucrânia ao presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva. A razão, apurou a CNN Portugal, está relacionada com o motivo que leva Zelensky, virtualmente, a São Bento: a guerra. “O horário mudou, porque os horários do presidente da Ucrânia estão sempre a mudar, em tempos de guerra, isto é compreensível”, explicou fonte da embaixada.

Na Assembleia a assistir ao discurso estará, para além dos deputados, ministros e ex-presidentes convidados, a embaixadora Inna Ohnivets. Para além disto, Santos Silva convidou as restantes entidades incluídas no protocolo de Estado, nomeadamente representantes das Regiões Autónomas, do Conselho de Estado, Tribunais de Estado e representantes da Associação Nacional de Municípios e de Freguesias. A cerimónia vai terminar com a execução dos hinos de ambos os países, pela banda da GNR, nos Passos Perdidos. 

Entre os presentes, deverão estar também os líderes das cerca de 12 associações que representam a comunidade ucraniana em Portugal. Isto em resultado do convite da deputada Inês Sousa Real do PAN, que também foi a autora da proposta para que o presidente ucraniano discursasse na Assembleia da República - aprovada apenas com oposição do PCP, partido que só esclarece se vai assistir ao discurso esta quarta-feira.

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Esta segunda-feira, Bernardino Soares, do PCP, voltou a justificar essa oposição ao discurso do presidente ucraniano em São Bento, salientando que estranhará um aplauso dos deputados comunistas se a sessão reproduzir um apelo à intervenção da NATO neste conflito. “O PCP naturalmente terá uma posição que será o seguimento da posição que tomou até ao momento em relação à presença de Zelensky. Certamente, não será uma posição de aplaudir efusivamente da intervenção”, disse o comunista e ex-presidente da Câmara Municipal de Loures, reiterando que “há uma grande intolerância a opiniões que sejam divergentes da verdade absoluta instaurada”.

 

História como catalisadora

Volodymyr Zelensky, de 44 anos, tem aparecido de várias formas nos seus diários discursos gravados e perante um conjunto diferente de cenários. Falando quase sempre a partir de Kiev, onde raramente permanece no mesmo sítio, o presidente ucraniano é visto ou com uma t-shirt verde tropa, ou com uma camisola da mesma cor, ao lado de uma bandeira da Ucrânia, sempre presente que esteja a falar numa mesa de reuniões, ou num escritório pessoal. 

Em mais de 50 dias de guerra, o presidente ucraniano tem sido presença assídua em inúmeros parlamentos em todo o mundo. E os discursos, da Ásia à Europa, passando pela América do Norte têm sempre uma tendência comum: Zelensky invoca um momento histórico do país que o acolhe e faz o paralelismo com o momento que o mundo vive atualmente. 

Foi assim no Reino Unido, onde canalizou a retórica de Churchill durante os dias mais sombrios de junho de 1940, quando a França caiu nas mãos dos nazis e as forças britânicas foram retiradas à pressa de Dunquerque, ao mesmo tempo que o povo britânico estava a preparar-se para meses de bombardeamentos aéreos levados a cabo pela Luftwaffe. Na Câmara dos Comuns, no início de março, Zelensky pediu emprestadas as palavras de Churchill e declarou: “Lutaremos nos bosques, nos campos, nas praias, nas cidades e aldeias, nas ruas. Lutaremos nas colinas... nas margens do Kalmius e do Dnieper. E não nos renderemos”. Há 82 anos, na mesma sala, Churchill fazia um discurso idêntico que marcou o século XX. 

Mas Londres não foi caso único. Mais recentemente, na Coreia do Sul, Zelensky comparou a guerra atual com a invasão da Coreia do Norte nos anos 50 e, ao discursar no parlamento finlandês, pediu ajuda a travar Putin com a “mesma coragem que os finlandeses salvaram o seu país de uma invasão de Stalin”, durante a guerra de Inverno em 1940.

Esta quinta-feira, ainda não é claro que momento histórico português Zelensky irá invocar. O segredo ainda não foi descortinado e, questionada pela CNN Portugal sobre que aspeto da cultura portuguesa poderá ser salientado no discurso, a Embaixada refere apenas que tem “ajudado a preparar” essa matéria.

Para além de Zelensky, também Augusto Santos Silva irá discursar nesta Sessão Solene, onde estarão também presentes o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, além de convidados em representação de outras entidades oficiais. 

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