opinião
Diretor de Informação da TVI

Derrotados, humilhados e culpados

31 jan 2022, 08:06

De todos os cenários que se colocavam nestas eleições legislativas, o de uma maioria absoluta era, para mim, o menos provável. Para mim, para as sondagens e até, estou em crer, para o próprio António Costa. Mas este resultado alcançado pelo Partido Socialista tem várias leituras e não se resume apenas ao mérito da governação dos últimos seis anos.

Em qualquer eleição há vencedores e vencidos. Mas nesta, em particular, não há apenas partidos derrotados, há líderes políticos que saem humilhados politicamente e outros ainda que devem dar-se por “culpados” pelo que não fizeram. 

Comecemos pelos derrotados. Bloco de Esquerda e PCP provaram, nestas eleições, do seu próprio veneno. Provocaram uma crise política absolutamente desnecessária, mediram mal a dimensão eleitoral que têm e acabaram reduzidos a um punhado de deputados. Esticaram a corda e a corda partiu-se. A meio do caminho, decidiram regressar aos partidos de protesto que eram e, no fim da estrada, acabaram por se despistar.

Depois temos os humilhados da noite. Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos. Dois juntos que nunca fizeram um e que nem perante as brechas abertas pela geringonça foram capazes de se apresentar ao país com um programa alternativo e capaz de mobilizar o eleitorado. Enquanto Rio se foi encostando ao centro, “Chicão” foi-se encostando ao abismo. No fim, caíram os dois.

E o que é que os derrotados e os humilhados têm em comum? São todos diretamente culpados pelo crescimento de um partido que, sendo de extrema-direita, cresceu à custa do eleitorado da extrema-esquerda. Que sendo, até agora, um partido de um homem só, conseguiu agigantar-se, ganhar a relevância política que não tinha e tornar o Parlamento um lugar mais perigoso. Rui Rio, em particular, que aceitou governar com o Chega nos Açores, que foi sempre errático no discurso sobre André Ventura, e que foi incapaz, como líder do maior partido do centro-direita, de aglutinar um eleitorado que anda perdido há muitos anos e que agora fugiu para o Chega, para o Iniciativa Liberal e para… o PS.

Durante os últimos meses temi que estas eleições servissem apenas para nos deixar num pântano ainda maior. Enganei-me. Estas eleições foram absolutamente clarificadoras sobre várias coisas: sobre o estado calamitoso a que chegou a direita em Portugal e a necessidade que tem de ser reformada. Sobre a forma como o país quis castigar o Bloco de Esquerda e o PCP pelo comportamento nos dois últimos anos. E, sobretudo, pelo voto de confiança que os eleitores decidiram dar a António Costa e a responsabilidade que ele tem, a partir de agora, para fazer as reformas que têm sido sucessivamente adiadas e para colocar o país a crescer com números que dignifiquem o trabalho e as pensões. A partir de agora, não há desculpas.

Colunistas

Mais Colunistas

Mais Lidas

Patrocinados