Passos Coelho "é o cimento da esquerda", Marques Mendes "é o menos carregado", Portas "ainda vai a tempo". À direita, a quem poderá Marcelo entregar as chaves do palácio?

10 abr, 07:00
Palácio de Belém (Getty Images)

Ainda faltam dois anos para a corrida presidencial, mas o assunto já é objeto de especulações à direita. E para os três putativos candidatos o caminho está cheio de obstáculos

O primeiro já assumiu sem equívocos a sua vontade, o segundo foi empurrado por André Ventura para uma candidatura a Belém esta semana e o terceiro já conta com o apoio de Nuno Melo. Ainda faltam dois anos para se conhecer a quem Marcelo Rebelo de Sousa vai entregar as chaves do Palácio de Belém, mas à direita são muitos aqueles que apontam Luís Marques Mendes, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas como os candidatos mais fortes à Presidência da República. “São nomes a quem lhes é reconhecido prestígio, mas muitas vezes isso não é suficiente para ganhar”, confessa um ex-deputado e dirigente social-democrata. “Terão um caminho com obstáculos, tanto por dificuldades a galvanizar as bases de apoio, tanto por estarem demasiado afastados da esquerda”, acrescenta.

Luís Marques Mendes foi o primeiro a sacudir a corrida presidencial em direto, na televisão, e é visto pelos sociais-democratas como a “opção com menos anticorpos”. “É aquele que tem uma ligação mais próxima com as pessoas, tem grandes audiências no seu programa, mas está muito dependente do apoio do seu partido”, constata Fernando Negrão, antigo líder parlamentar social-democrata durante a liderança de Rui Rio.

Opinião diferente é aquela em torno de Passos Coelho, que esta segunda-feira ouviu de André Ventura que tinha o apoio do Chega se o seu nome estivesse no boletim de voto em 2026. O antigo primeiro-ministro é tido como o potencial candidato “com maior capacidade de unir a direita”, diz um anterior-deputado do PSD que não integrou as listas este ano, advertindo, no entanto, que seria, igualmente, “o nome mais combatido pela esquerda”. "Seria mesmo o cimento da esquerda".

Também o nome de Paulo Portas tem vindo a ser sinalizado como uma opção para canalizar os votos da direita na corrida presidencial. Nuno Melo, presidente do CDS-PP e atual ministro da Defesa, já assumiu, em 2022, que gostava de o ver como Presidente da República e o antigo líder centrista foi uma das personalidades que mais marcaram a campanha da Aliança Democrática. “Tem capacidade para se assumir como candidato, mas o tempo é escasso e já começa muito atrás na corrida”, sublinha Fernando Negrão.

Ao mesmo tempo que estes nomes vão gerando eco nos corredores do poder, para os politólogos a certeza é que a direita só se vai unir se a candidatura for “suficientemente notória”. “É preciso alguém com reconhecimento do sistema político para criar consensos entre a AD, Chega e Iniciativa Liberal”, sublinha Paula do Espírito Santo.

Marques Mendes: o candidato da "tatuagem laranja" é o que tem o passado "menos carregado"

Luís Marques Mendes

Marques Mendes, até ao momento, foi o único que demonstrou uma clara vontade em concorrer à Presidência da República. O antigo presidente do PSD é apontado como alguém “muito competente e preparado” para liderar uma candidatura a Belém e, considera um dirigente social-democrata, “o programa de comentário que tem aos domingos tem-lhe permitido falar muito para o mainstream, para pensionistas e reformados e para o eleitorado que não é típico do PSD”. Isso, reflete a mesma fonte, “tem vindo a alargar a sua base natural de apoio”. “É aquele que tem uma ligação mais próxima com as pessoas, através do seu programa que tem níveis de audiência muito grandes”, aponta, por seu lado, Fernando Negrão. 

É também o candidato com o passado “menos carregado” dos três, sublinha a politóloga Paula do Espírito Santo, que o considera como a “figura mais consensual entre o eleitorado do PSD”. No entanto, alerta a especialista, “quando Marques Mendes, no verão de 2023, se mostrou disponível para o partido, o partido não deu resposta”. “Pode não ser a opção evidente por parte de Montenegro, que ainda está à espera para encontrar a figura certa”, considera.

Entre os sociais-democratas que falaram à CNN Portugal, a principal dificuldade para Marques Mendes é mesmo a falta de capacidade de se “libertar da tatuagem laranja”, sublinha um ex-deputado. “Passos Coelho e o próprio Paulo Portas têm perfis que não se confundem com os partidos políticos, o mesmo já não acontece com Marques Mendes”, refere, por sua vez, Fernando Negrão. O nome é também visto com maus olhos pelo partido de André Ventura. “Nunca teve grande visibilidade a nível nacional”, considera Pedro Pinto, presidente do grupo parlamentar do Chega.

Passos Coelho: o candidato "consensual" no Chega será "o nome mais combatido pela esquerda"

Pedro Passos Coelho (Tiago Petinga/Lusa)

A dúvida paira no ar e foi atiçada esta semana quando André Ventura lançou o repto: “Porque não Passos Coelho?”, disse em declarações aos jornalistas, refletindo sobre potenciais candidatos a Presidente da República. Horas antes, durante a apresentação do livro “Identidade e Família”, que reuniu ideias de várias figuras da direita conservadora portuguesa, o antigo primeiro-ministro tinha já sugerido que PSD e Chega deviam aproximar-se e que não o fazer é um "insulto".

Entre os deputados do Chega não há dúvidas: Passos é mesmo “o candidato mais consensual”. “É o protótipo do candidato à direita”, frisa Pedro Pinto, líder do grupo parlamentar do partido. Também o sinal dado pelo antigo primeiro-ministro durante a apresentação do livro é observado por Fernando Negrão como o início “da construção do seu percurso para a candidatura à presidência da República”. “Passos Coelho está a começar por tentar agregar a direita, depois verá se pode alargar ao centro-direita e mais tarde verá se consegue chegar ao centro”.

Este percurso, continua Negrão, pode ajudar o PSD a segurar o eleitorado de direita e a não dispersar votos. “Pode ajudar o PSD a crescer à direita e a tornar-se numa força verdadeiramente alternativa”, diz, referindo que “o PS e o PSD estão demasiado juntos e as pessoas quando vão votar não sentem que têm uma alternativa e daí o crescimento do Chega”.

Ao mesmo tempo, Passos é, entre os putativos candidatos, aquele que “melhor agrega a esquerda contra a direita”, sublinha um ex-deputado do PSD. “Tem um índice de rejeição brutal à esquerda e depois tem outro problema relacionado com a capacidade de agregar o voto de protesto”, continua, acrescentando que tem “dúvidas de que os eleitores comunistas, bloquistas e abstencionistas, que nestas eleições tenham votado no Chega, se revejam numa figura como Passos Coelho”.

Na mesma linha, Paula do Espírito Santo aponta que Passos Coelho tem-se dedicado a assuntos que dividem a sociedade portuguesa, tanto durante a campanha - quando foi atacado por estabelecer uma ligação entre a insegurança e a imigração -, como no elogio que fez do livro apresentado esta segunda-feira, com textos que alertam contra a “destruição da família” tradicional. “Traz algum posicionamento desconfortável, porque o PSD pode não querer assumir as mesmas visões de Passos Coelho”, sublinha a politóloga.

Paulo Portas: "tempo escasseia" mas antigo líder do CDS "é suficientemente inteligente para recuperá-lo"

Paulo Portas na Convenção da Aliança Democrática (António Pedro Santos/Lusa)

Depois de vários anos afastado, Paulo Portas marcou o seu regresso à política ativa após o partido que liderou durante 16 anos ter saído do Parlamento. Ajudou Nuno Melo a trazer os descontentes de volta para o partido e foi um dos rostos que esteve nas negociações entre o PSD e o CDS para a reedição da Aliança Democrática. 

Desde aí não voltou a tirar o pé da política nacional e foi por várias vezes convidado de honra em eventos da Aliança Democrática durante a campanha e a pré-campanha. Portas, que Nuno Melo já apontou como um bom candidato a Presidente da República, tem evitado perguntas sobre uma possível candidatura, mantendo que “a prioridade para o espaço não socialista é construir uma alternativa que suceda ao dr. António Costa, não é encontrar um sucessor para o professor Rebelo de Sousa”, como referiu na última Universidade de Verão do PSD. 

“As pessoas ainda olham para o Paulo Portas mais interessado, desde que deixou a política, mais interessado na sua vida profissional, privada, do que propriamente no espaço público”, considera Fernando Negrão, sublinhando que o tempo para se assumir firmemente como candidato está a escassear. “Ele é suficientemente inteligente para poder recuperá-lo, mas eu diria que o tempo é curto, as presidenciais não estão propriamente à porta, mas não temos de esperar muito tempo para que elas ocorram”. 

Do lado dos sociais-democratas há também a convicção de que as próximas eleições presidenciais são demasiado cruciais para o partido entregar o apoio a um histórico do CDS. “Não estou a ver o PSD a abdicar de indicar alguém alaranjado, militante ou simpatizante social-democrata, para entregar esse nome ao CDS”, diz um ex-deputado. “O cargo é demasiado importante, o PSD não fará isso, muito mais tendo em conta este CDS, que é um bocadinho renascido”. 

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