Depois de Sporting e Benfica, Carlos Martins lançou-se nos negócios

21 fev 2019, 09:19
Carlos Martins

O antigo internacional português afastou-se completamente do futebol, que já nem sequer joga com os amigos, para se dedicar ao imobiliário: uma atividade que também o faz feliz e que lhe permite manter o nível de vida. E saudades, há? Dos treinos, pelo menos, não há muitas.

Carlos Martins é um nome que dispensa apresentações.

Jogou catorze épocas no Sporting, esteve cinco anos no Benfica, jogou 92 vezes pelas equipas nacionais (17 das quais pela seleção principal), foi enfim um dos melhores médios da sua geração.

Teve, portanto, uma carreira cheia, que terminou aos 34 anos ao serviço do Belenenses, quando resolveu pendurar as botas para se dedicar em exclusivo à sua outra paixão: o imobiliário de luxo.

«Neste momento invisto em casas. Compro, remodelo e vendo ou alugo. A empresa é minha, sou apenas eu que trabalho nela, é uma empresa de compra, venda e gestão de imóveis», conta.

«Como é que surgiu? Sempre estive atento ao mercado, sempre gostei de casas e de obras, portanto apareceram-me uns negócios interessantes e comecei a debruçar-me sobre eles. Comecei ainda quando era jogador do Belenenses. Estava atento ao mercado e tentei fazer os meus negócios.»

Curiosamente, e ao contrário de outros antigos companheiros no futebol, Carlos Martins não foi introduzido no mundo dos negócios imobiliários por ninguém.

«Foi mesmo uma coisa minha. Sempre gostei de imobiliário. Para além disso, estava a chegar ao fim da minha carreira e achei que era uma boa hipótese para preparar o pós-futebol. Convém ter alguma coisa para quando o futebol acaba, preferencialmente algo que gostasse de fazer», refere.

«E de facto gosto muito disto. Aliás, devo dizer-lhe que a minha saída do futebol tem um pouco a ver com isto. Às tantas já tinha algum dinheiro investido e senti que tinha de estar presente na gestão desses investimentos. Nesta área, convém estarmos presentes para as coisas correrem bem.»

Ora o final da carreira aconteceu em 2016 e de uma forma prematura, como Carlos Martins já referiu, impulsionado pela vontade de se lançar de alma e coração para os negócios imobiliários. Mas será que o futebol deixou saudades?

«Não tenho saudades dos treinos. Lembro-me dos primeiros dias em que não fui treinar e confesso que os vivi com alguma satisfação, por não ter de cumprir horários. Poder gerir o meu tempo era uma das minhas ambições. Agora sou eu que levo os meus filhos à escola, por exemplo. Era uma coisa que eu queria, poder gerir o meu tempo, e a vida também foi simpática comigo nisso», diz.

«Claro que o futebol é a minha grande paixão, o meu grande amor, mas também tenho consciência que o futebol é um par de anos e depois temos tanto ou mais tempo pela frente para viver. Fui frio para dizer basta ao futebol e para iniciar uma outra atividade, da qual eu também gosto muito.»

Acima de tudo, garante Carlos Martins, houve um trabalho de mentalização muito forte ao longo dos últimos anos da carreira, quando foi atirado para o Benfica B e depois para o Belenenses.

«Tudo tem o seu tempo, tudo tem a sua hora, e temos que ser fortes para deixarmos para trás o que fazíamos. Somos jovens e a vida não para porque o futebol parou. Temos de olhar em frente.»

Carlos Martins sublinha por isso que a transição de uma carreira de jogador para uma carreira de empresário imobiliário não lhe trouxe suores frios ou pesadelos durante a noite. Foi uma transição suave e que lhe permitiu ter duas conquistas: manter o estilo de vida e ganhar tempo com a família.

«Sim, consigo manter o nível de vida que tinha enquanto jogador. A minha prioridade sempre foi dar aos meus filhos uma vida estável. Nada de luxos. Uma vida estável e que tenha a ver comigo. E essa parte mantém-se igual ao que tínhamos: não falta nada à minha família», refere.

«Se me ocupa muito tempo? Depende. Neste momento não tenho nenhuma obra em andamento, portanto é só fazer a gestão dos investimentos. O que, dependendo dos dias, me ocupa algumas horas. Quando tenho uma casa a ser remodelada, aí sim, ocupa-me muito tempo. Posso dizer até que trabalho mais do que quando era jogador. Tento estar sempre presente na obra, saio de casa de manhã e chego ao final da tarde, porque quero acompanhar tudo.»

O futebol, esse, está definitivamente encerrado numa gaveta. Até um dia que apeteça abri-la.

«Nem futeboladas com os amigos faço. Jogo ténis com um amigo ou outro, mas futebol não. Tenho tido convites, mas estou numa fase em que ainda não sinto necessidade de jogar», frisa.

«Não sei como vai ser daqui a algum tempo, mas neste momento não sinto essa necessidade e, para além disso, também não quero jogar futebol, porque depois de terminar a carreira é quando surgem as lesões graves a jogar e eu já não estou a caminhar para novo.»

Carlos Martins teve, aliás, uma carreira marcada pelas lesões, que talvez até lhe tenham travado um sucesso mais precoce: e esse é um pesadelo que não quer voltar a viver.

«Agora estou completamente afastado do futebol. Claro que gosto de ver e estou sempre em casa a ver. Adoro ver um bom jogo. Não costumo ir ao estádio, e os meus filhos estão a fazer pressão para eu voltar ao estádio, pelo que tenho de começar a pensar nisso, mas sim, adoro ver futebol.»

E a que estádio está a ser pressionado para ir, Alvalade ou Luz?, pergunta-se.

«Aos dois, ao Benfica e ao Sporting», atira Carlos Martins, soltando uma gargalhada.

«O Gustavo, que é o meu filho mais velho, é do Sporting, o Martim, que é o meu filho do meio, é do Benfica, e a minha menina mais nova, a Maria Inês, fala muito do Belenenses. E os dois rapazes insistem muito para voltar ao estádio, talvez um dia destes volte mesmo.»

Ora a resposta não desfaz uma das dúvidas que toda a gente coloca: depois de jogar no Sporting e no Benfica, por qual dos clubes o coração de Carlos Martins bate mais forte?

«Fui feliz em todos os clubes por onde passei. Iniciei a minha carreira de jogador e tornei-me homem no Sporting, cheguei com 11 anos, estive lá longas épocas, toda a minha formação foi feita lá e tenho um grande carinho pelo Sporting. Amei jogar no Benfica também, foi o clube onde fui campeão, as pessoas trataram-me bem, ainda tenho lá amigos e tive muito prazer também em jogar no Benfica. Por fim, o Belenenses, mostrou-me ser um clube familiar, que me tratou muito bem. Isto para além da Académica e todos os outros», responde.

«Mas a essa pergunta que me fez eu não consigo responder, porque não é justo da minha parte escolher um clube em detrimento de outro, sendo que todos me trataram tão bem.»

Há quem diga que ainda é sportinguista, mas o médio recusa-se a admitir isso pessoalmente. Pelo respeito que todos os clubes lhe merecem. Mas há algo que admite: apesar da saída do Sporting para o Recreativo Huelva não ter sido pacífica, Carlos Martins não guarda mágoa.

«Se sair do Sporting chateado me deixou alguma mágoa? Não, não, nada disso. Não sou uma pessoa rancorosa, acredito que todos nós já errámos, há alturas em que temos de decidir e não decidimos da melhor maneira. Falo por mim», lembra.

«Não guardo rancor a ninguém, sou uma pessoa completamente feliz e agradecida ao futebol pela vida que me proporcionou. Sinto-me um felizardo.»

Não tem razões para se sentir de outra maneira, aliás.

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