opinião
Diretor executivo CNN Portugal

Corruptos contra fascistas

14 nov 2023, 15:39
Parlamento português ilumina-se com a bandeira ucraniana (Tiago Petinga/Lusa)

A campanha eleitoral vai ser de verniz nas unhas e garras de fora. Esquerda contra direita. Papões contra lobos maus. Corre qu’é corrupto contra foge qu’é fascista

Uma semana de dias bem vividos e noites mal dormidas bastou, já percebemos ao que vamos na campanha eleitoral: radicais a fazer de moderados para alargar fronteiras, moderados a fazer de radicais para segurar territórios. Vão vestir os melhores fatos e engraxar belos sapatos, mas só para rasgar vestes e pontapear credos. Não vai ser bonito.

Do alto olha-se para baixo com medo de cair, de baixo olha-se para cima com vontade de escalar. No PS ainda se contam espingardas e afiam baionetas, mas tanto José Luís Carneiro como Pedro Nuno Santos precisam de começar por salvar o partido da ravina do descrédito; no PSD, Luís Montenegro colide inanimado entre muita aspiração e pouca inspiração; no Chega exibe-se saúde no partido falando da doença do sistema; nos demais, mostra-se o dedo médio contra o poder preparando o dedo anelar para ser consorte.

Se o PSD continuar com tão pouca imaginação, o foco da campanha oscilará entre o quanto o PS desce e o quanto o Chega sobe. O trunfo do primeiro é vassourar o medo ao segundo; o trunfo do segundo é sangrar as feridas do primeiro. O PS dirá todos os dias que votar PSD será levar o Chega para o poder, repetindo a fórmula que deu a maioria absoluta a António Costa. O Chega dirá todos os dias que votar PS será manter o sistema podre, insistindo no combate ao sistema onde já se instalou. E o PSD ficará como erva numa luta de elefantes, repisado pela necessidade de se distanciar todos os dias do partido que se lhe aproxima.

Supondo-se que não haverá maioria absoluta – que o PS já desmereceu e o PSD não augura -, o combate será esquerda contra direita. O Bloco de Esquerda e o PCP (e o Livre) quererão provar que o PS é melhor quando condicionado à esquerda; e a Iniciativa Liberal sonhará drenar votos como alternativa ao Chega, dispondo-se a gritar por isso.

Esta imensa previsibilidade permite antever uma campanha agressiva, mais de ataque do que de defesa, com emoções e projeção de fantasmas: o de José Sócrates; o de António Costa; o de Passos Coelho; o da Justiça; o da corrupção; o da austeridade; o da extrema-direita. Será provavelmente uma campanha pela negativa. Votem em nós contra um governo de austeridade e de fascistas. Votem em nós contra um governo de corruptos e cobradores de impostos.

E aqui surgirá a vítima final: as contas públicas. Dirão todos, como estadistas, que elas são sagradas, mas desfilarão um leilão de promessas. Aumentos para os médicos? Dar. Tempo de carreira dos professores? Repor. Salários? Aumentar. Impostos? Descer. Como? Vão comer o excedente. Aliás, vão comê-lo várias vezes. Há vida além do excedente.

Estas não são eleições normais, elas sucedem-se a uma crise política que rasa o declínio das instituições. É preciso regenerar células desta cinquentenária democracia e, sem guerra franca nem paz podre, poder crer. Para já, das tábuas farão trampolins e tampas de caixão, mas no final desta campanha terá de haver mais do que vencedores e vencidos - e mais que presentes comprados e futuros vendidos.

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