André Ventura admite “não apresentar uma moção de rejeição” a um Governo liderado por Luís Montenegro. E se for outro partido a apresentar? “Depende”. O foco, diz e repete: quer sentar-se com a AD para “encontrar pontos de convergência”.
Estabilidade. “Estou disponível para sacrificar tudo para os portugueses terem estabilidade”. André Ventura repetiu várias vezes a essa mesma palavra e chutou essa mesma estabilidade para Luís Montenegro. Uma estabilidade que, no seu entender, foi pedida pelo “mais de milhão de portugueses” que votou no Chega. “Os portugueses disseram ‘não queremos uma maioria do Chega ou PSD, queremos um governo a dois”, naquela que entende ser uma mensagem para Luís Montenegro e para Marcelo Rebelo de Sousa.
“Estamos disponíveis para nos sentarmos para criar um Governo. Nós cedemos, fomos responsáveis, não vi o PSD a fazer isso. Estamos disponíveis para dar um Governo estável a Portugal”, afirmou André Ventura, em declarações à TVI e à CNN Portugal, naquela que foi a primeira entrevista do candidato depois da grande vitória que o fez quadriplicar o número de deputados, a partir de agora 48.
Para Ventura, o acordo com a Aliança Democrática teria de passar pela “convergência de decisões quanto à composição de Governo, ao que será esse Governo, às medidas principais desse Governo e aos objetivos que queremos alcançar”. E questionado se tem de estar no Governo, Ventura foi menos taxativo: “Eu, pessoalmente, não exijo estar no Governo, mas o que faz sentido é serem os dois partidos a decidirem que compõe o governo, por isso é que é um acordo de governo”.
“O nosso ponto nunca foi lugares, é haver um acordo sobre quem é o ministro das Finanças, da Educação,...”, destaca. Ainda assim, revela que “o Chega não aceitará nenhuma solução que não respeite a diferença relativa e a distribuição relativa de votos”, pois, vincou, “não faz sentido nós saltarmos do primeiro para o quarto, para o quinto ou para o sétimo. A seguir ao primeiro vem o segundo”, reiterou, abrindo “portas a independentes”, desde que queiram um “Governo para o futuro e não para o passado”.
Quando questionado se tem algum nome em mente, Ventura disse que não, traçando isso como prova de que “os lugares são a última coisa que nos importa”, mas avisou que “no Chega estará a forma da solução” se Luís Montenegro não ouvir o partido quanto à composição do Governo e do Orçamento do Estado. “Só tenho uma coisa em mente, é dar um Governo estável para Portugal para os próximos quatro anos”, sublinhou.
Naquela que foi a primeira entrevista depois de ter conseguido quadruplicar o número de deputados eleitos, o presidente do Chega disse que “o PSD não quer convergir, tem medo que se lhe dermos a mão nós lhe levemos o braço” e traçou o Orçamento do Estado como linha vermelha para um entendimento com a AD, acusando até a coligação entre o PSD, CDS-PP e PPM de estar a preparar-se “para evitar uma maioria e levar o país para a total irresponsabilidade”.
“Já fiz tudo o que é possível, e mais não digo porque envolve pessoas, e já disse ao PSD 'ajudem-nos a criar um Governo estável'”, destacou o presidente do Chega, que garantiu estar disponível a ceder e discutir medida a medida - e até aprovar temas como a taxa de 15% para o IRS dos jovens, baixar o IRC, isenção de IMI e imposto de selo na primeira habitação, reposição da carreira dos professores -, mas “sem ser muleta de ninguém”, mesmo havendo “a nível de matéria fiscal, vários pontos de convergência com a AD”, sobretudo a descida de impostos, que crê que não seja uma conversa difícil. Neste sentido, deixou claro que tem de ser ouvido, até porque, “provavelmente, haverá um orçamento retificativo” que tem de ser discutido. E é aqui que abre e fecha a porta a Luís Montenegro. E a um “orçamento socialista, não é o nosso”.
“Se não houver negociação do OE é uma humilhação para o Chega, votarei contra”, disse, entrevista exclusiva à TVI e CNN Portugal, colocando temas como corrupção, pensão e policiais entre os pontos de não cedência.
Mas há outros pontos em que André Ventura está disposto a ceder. “Vou dar um exemplo que se calhar me vai fazer perder votos, mas imagine que o Luís Montenegro me dizia assim: ‘Olhe, abandonam a questão da prisão perpétua, nós aumentamos as penas noutros crimes, e em troca damos o suplemento aos polícias e aumentamos as pensões’. Eu assinava na hora”, revelou Ventura - embora dizendo que irá “defender sempre” este tipo de pena. Quanto à castração química para violadores e pedófilos, o presidente do Chega está "disponível a que [esta medida] não seja parte de uma negociação de Governo”. “Eu acho que sou uma pessoa sensata”, atirou.
Se não houver negociações ou se a Aliança Democrática mantiver o Orçamento do Partido Socialista, Ventura não deixou dúvidas: votará contra. “Não é o Chega que fará cair o governo, é a AD que não quer negociar com o Chega”.
André Ventura admitiu ainda “não apresentar uma moção de rejeição” a um Governo liderado por Luís Montenegro. E se for outro partido a apresentar essa moção? “Depende”, deixando em aberto o motivo. “Estamos disponíveis para nos sentarmos para criar um Governo, nós cedemos, fomos responsáveis, não vi o PSD a fazer isso. Estamos disponíveis para dar um Governo estável a Portugal”, disse, vincando que o resultado do Chega deu ao partido “a capacidade de criar uma maioria à direita”.
De resto, Ventura ainda não conversou com Luís Montenegro - que “admito que não goste de mim” -, apenas enviou uma mensagem ao presidente do PSD a felicitá-lo pela vitória.
Sobre a recente notícia do semanário Expresso, Ventura assegura que Marcelo Rebelo de Sousa lhe disse “o contrário”. “Marcelo foi muito claro, não se oporia a nenhuma presença do Chega no Governo, nem a qualquer tipo de convergência”, revelou, dizendo acreditar naquilo que o chefe de Estado lhe disse. “Se eu não acreditar no meu Presidente da República, ele também é meu, candidatei-me a ele, mas ele venceu legítima e democraticamente”. Para André Ventura, a notícia é “Marcelo Rebelo de Sousa a tentar, à última hora, influenciar o resultado de umas eleições, o que não é aceitável, e talvez por isso os portugueses tenham mandado a mensagem”. E se assim for, então, foi uma “traição”.