Este cruzeiro consegue levar quase 10 mil pessoas. Entre a bordo

CNN , Terry Ward
11 fev, 15:00

Os pormenores do Icon of the Seas prometem impressioná-lo

Não há nada de subtil no maior navio de cruzeiro do mundo.

O novo Icon of the Seas [Ícone dos Mares, em tradução livre] da Royal Caribbean, com cerca de 365 metros de comprimento e 250.800 toneladas – que partiu do porto de Miami, pouco antes do por do sol, para a sua viagem inaugural a 27 de janeiro – ergue-se como um bolo de aniversário com várias camadas.

A cobertura deste bolo tem a forma de sete piscinas, um extravagante carrossel às riscas, bosques de vegetação tropical e contorcidos escorregas de água, em tons verdes, rosas, azuis e laranjas.

Quando o navio avaliado em dois mil milhões de dólares chegou a Miami, com muita música à mistura, a 10 de janeiro, depois de cruzar o Oceano Atlântico – com uma paragem em Porto Rico -, vindo do estaleiro naval em Turku, Finlândia, onde foi construído, foi recebido num ambiente cacofónico, com saudações de um barco de bombeiros e bandeiras publicitárias. O interesse parou o trânsito na ponte para Miami Beach, paralela ao canal dos navios de cruzeiro.  

Até o famoso futebolista argentino Lionel Messi integrou a fanfarra inicial do Icon of the Seas como “padrinho”, batizando o navio de 20 andares a 23 de janeiro.

A embarcação é oficialmente o maior navio de cruzeiro do mundo. Logo atrás fica o Wonder of the Seas, também da Royal Caribbean, inaugurado no início de 2022, com cerca de 362 metros de comprimento e 235.600 toneladas brutas.

Os passageiros da viagem inaugural, esgotada, puderam desfrutar de sete noites na parte oriental das Caraíbas, com experiências de primeira categoria a bordo.

Entre as atrações está o parque aquático Category 6 (Royal Caribbean International)

Lista de superlativos e novidades é longa no Icon of the Seas

É preciso tempo para conseguir fazer tudo o que há disponível no Icon of the Seas, já que o navio promete manter os passageiros ocupados. E falando de passageiros, o navio pode transportar o impressionante número de 7.600 hóspedes quando atinge a capacidade total, a que se juntam os 2.350 membros da tripulação – algo como toda a população de Sedona, Arizona [nota do tradutor: ou de Reguengos de Monsaraz, em Portugal].

Entre as atrações deste gigante está o Category 6 – o parque aquático do navio, com cerca de 16 mil metros quadrados, atualmente o maior no alto mar, espalhado entre os conveses 16 e 17, com seis escorregas que incluem o Frightening Bolt (o mais alto, com 14 metros) e as primeiras jangadas familiares a bordo (Hurricane Hunter e Storm Surge)

O navio tem a primeira piscina infinitiva suspensa a bordo, bem como a maior piscina no alto mar (a Royal Bay, com quase 152 mil litros) e a maior pista de gelo no mar (a Absolute Zero, onde os hóspedes podem patinar a assistir a espetáculos).

Cerca de 50 músicos e comediantes mantêm os passageiros entretidos com atuações, que incluem a maior orquestra a bordo de um navio (16 membros) bem como a primeira apresentação no mar de “O Feiticeiro de Oz”, recheada de macacos voadores. Há até uma golden retriever residente, Rover, conhecido como “Chief Dog Officer” [Presidente Executiva dos Canídeos, em tradução livre], que ainda é cachorrinha e que surge acompanhada por um dedicado treinador.

O burburinho é real – tal como a reação negativa

Muito antes de chegar a Miami, as imagens do Icon of the Seas publicadas nas redes sociais geram burburinho entre os turistas mais ansiosos, bem como opiniões altamente polarizadas sobre o exagerado navio, em particular sobre o potencial impacto ambiental de uma embarcação tão grande.

Um porta-voz da Royal Caribbean afirmou que o Icon of the Seas é 24% mais eficiente em termos energéticos face aos requisitos para os navios de cruzeiro que são produzidos atualmente. A empresa planeia introduzir um navio com zero emissões até 2035.

O navio é o primeiro da Royal Caribbean a ser movido por gás natural liquefeito (GNL). Nem toda a gente se deixa impressionar com essa escolha.

“A decisão da Royal Caribbean em usar GNL é o seu maior erro climático”, afirmou Bryan Comer, diretor para o programa marítimo do The International Council on Clean Transportation [Conselho Internacional de Transporte Limpo].

O novo navio tem 20 andares, 18 dos quais para hóspedes (Royal Caribbean International)

“O GNL é sobretudo metano, um gás com efeito de estudo que retém mais do que 80 vezes o calor face ao dióxido de carbono nos primeiros 20 anos após a sua emissão. O Icon of the Seas utiliza motores que libertam metano para a atmosfera, na forma de ‘deslizamento de metano” [quando o GNL não é totalmente queimado pelo motor, provocando emissões de metano].

A organização diz que o GNL apenas pode “contribuir significativamente para alcançar as metas climáticas” quando o deslizamento de metano e outros fatores forem fortemente reduzidos ou eliminados, o que para o conselho ainda é um grande desafio.

A proa curva do navio – uma estreia para a Royal Caribbean – foi projetada para ajudar a embarcação a mover-se mais facilmente na água e ajuda a reduzir o consumo de combustível e as emissões, diz Comer, acrescentando que também ajuda nos resultados da empresa.

O navio produz mais de 93% da sua água doce através de osmose inversa. E o Icon of the Seas também é o primeiro da marca com um sistema de pirólise de resíduos em energia, assistido por micro-ondas, usado para converter resíduos a bordo, que o navio pode usar como energia.

O Icon of the Seas tem oito ‘bairros’ diferentes (Miguel J. Rodriguez Carrillo/AP)

Alto interesse de viajantes ávidos

O interesse por este enorme navio é inegável entre os devotos dos cruzeiros.

Colleen McDanie, editor-executivo do Cruise Critic, disse à CNN Travel que, até agora em 2024, o Icon of the Seas é o tópico mais procurado no site.

Para os ávios apreciadores de cruzeiro, disse McDaniel, o maior burburinho à volta do Icon of the Seas é o facto de ser o primeiro de uma classe inteiramente nova da Royal Caribbean, que tinha estreado uma nova classe de navios pela última vez em 2014, a Quantum Class.

“Quando pensamos naquilo que mudou no mundo dos cruzeiros – e das viagens – nos últimos 10 anos, percebemos que há tantos novos conceitos e opções a entusiasmar-nos a bordo”, disse McDaniel, considerando o Icon of the Seas “absolutamente inovador para a indústria”.

A próxima novidade da classe Icon da Royal Caribbean é o navio Star of the Seas [Estrela dos Mares], que está em construção na Finlândia e com estreia prevista em agosto de 2025 com viagens nas Caraíbas, partindo de Port Canaveral, na Flórida, perto de Orlanda, e com comodidades similares ao Icon of the Seas

“A procura sem precedentes pelo Icon of the Seas levou a Royal Caribbean a abrir as reservas para o Star of the Seas – um navio irmão – três meses antes do que estava originalmente previsto”, disse um porta-voz da empresa.

Pode transportar praticamente 10 mil pessoas (Miguel J. Rodriguez Carrillo/AP)

Novos ‘bairros’ a bordo

Os oitos diferentes “bairros” a bordo do Icon of the Seas são projetados para atrair múltiplas gerações bem como passageiros com diferentes interesses, incluindo famílias com crianças pequenas e grupos apenas com adultos.

As ofertas variam desde o primeiro bar a bordo da Royal Caribbean onde é possível mergulhar, o Swim & Tonic, no bairro Chill Island, até ao Lemon Post, num bairro dedicado às famílias chamado Surfside, onde é possível pedir cocktails para os pais e as versões dos mesmos sem álcool para os filhos, a poucos passos de um parque aquático para crianças.

Apesar de a Royal Caribbean já ser conhecida pelos seus bairros a bordo, entre os quais onde os hóspedes podem circular, McDaniel diz que o Icon of the Seas elevou o conceito neste navio.

“Sem sombra de dúvida, este navio foi criado para competir diretamente com resorts em terra, em particular aqueles dedicados a famílias”, disse.

O elemento mais esperado pelas famílias neste novo navio deverá ser o Surfside, no sétimo andar. Virado para famílias com crianças até aos seis anos, desenvolve-se a partir de um carrossel com aspeto Seussiano [nota do tradutor: do universo de livros infantis Dr. Seuss], no qual as crianças fazem a derradeira escolha sobre as personagens que entram a bordo (um narval com dentes de arco-íris ou um flamingo ao estilo boia de piscina, entre outras criaturas extravagantes).

O refeitório Surfside oferece comida à discrição para as famílias (Michael Verdure/Royal Caribbean International)

O carrossel fica a poucos passos de várias opções gastronómicas direcionadas para as famílias, incluindo um ‘buffet’, uma ala de snacks e um novo restaurante de especialidade, o Pier 7, com ‘brunch’ [refeição intermédia que junta pequeno-almoço e almoço] durante todo o dia e onde as crianças com menos de 12 anos não paga. Nas proximidades ficam duas áreas de lazer com água, mesmo junto à piscina Water’s Edge, onde os pais podem ficar de olho nos filhos enquanto relaxam com a vista para o mar.

Para os maiores de 18 anos, há outro bairro a bordo, o The Hideaway, que se inspira nos clubes de praia internacionais, com um terraço de vários andares e uma vista desafogada para o mar, bem como a primeira piscina infinita suspensa a bordo, a 41 metros acima do nível do mar.

As características do navio serão particularmente impressionantes para aqueles que nunca fizeram um cruzeiro antes, diz Rob Clabbers, fundador e presidente da Q Cruise + Travel, uma agência da rede Virtuoso em Chicago.

“Para o Icon of the Seas, as famílias com crianças pequenas são os clientes que estão mais entusiasmados”, disse Clabbers, destacando aspetos como o parque aquático, as piscinas ou simulador de surf.

O navio está também a gerar interesse junto de clientes que não viajam necessariamente com crianças, disse, especialmente o bairro Suite, uma área que é como se fosse um barco dentro do próprio barco, reservada apenas aos hóspedes com suite. Aquele que é o maior bairro de suites da Royal Caribbean até à data estende-se por quatro andares e tem a sua própria zona de espreguiçadeiras, piscina, jacuzzi e dois restaurantes exclusivos.

“O entretenimento, as comodidades, os restaurantes, a qualidade dos espetáculos e diversidade de atividades – e até o design das áreas interiores e exteriores – é simplesmente incompreensível para aqueles que estão acostumados a ficar em resorts em terra”, diz Clabbers. “E isso nem sequer inclui as coisas que é possível fazer em terra, ao desembarcar”.

Os mais de 40 restaurantes, bares e ‘lounges’ a bordo do Icon of the Seas trazem 21 novas opções. Entre elas, com um pagamento adicional, uma vitrine de sushi, o restaurante de especialidade Empire Supper Club (com bife wagyu e lagostim escalfado em manteiga incluídos num menu de oito pratos que custa 200 dólares [cerca de 185 euros] por pessoa e uma área dedicada a champanhe no Bubbles, na área Central Park do navio.

As 28 diferentes tipologias de alojamento a bordo variam dos 14,5 metros quadrados nas cabines interiores superiores, que começam nos 3.600 dólares por semana para duas pessoas [cerca de 3.345 euros], até à tipologia Ultimate Family Townhouse, de três andares, com direito a zona exterior privada, cinema, jacuzzi exterior e um escorrega entre os diferentes andares, que custa em média 100.000 dólares por semana [cerca de 93 mil euros] e que pode acomodar oito pessoas.

Uma maravilha da engenharia e grandes aspirações

Feitos impressionantes da engenharia estão à vista de todos no Icon of the Seas. O AquaDome, com 25 metros de altura, feito de aço e vidro, coroa o navio, abrigando um teatro onde se apresentam mergulhadores, uma parede de água com 17 metros, um bar e uma área de restauração.

Este é o Overlook Lounge, no interior do AquaDome que coroa a parte superior do navio
(Michael Verdure/Royal Caribbean International)

O Pearl, em forma de esfera, na zona do navio chamada World Promenade, eleva-se com uma altura de três andares, com desenhos de luz, atraindo pessoas para uma ‘selfie’. Ao mesmo tempo, fornece apoio estrutural a meio do navio e abre espaço para vistas mais amplas para o oceano.

Numa recente conferência de imprensa a bordo do navio, Michael Bayley, presidente e CEO da Royal Caribbean International, disse aos jornalistas que o navio “preenche todos os requisitos” face àquilo que a empresa deseja criar.

“É grande, é arrojado, é perfeito para as Caraíbas, é perfeito para o nosso mercado”, disse Bayley.

Os serviços do navio respondem às exigências que a marca recebeu dos viajantes, tanto novos como leais à Royal Caribbean, disse Jay Schneider, responsável para área da inovação de produto da Royal Caribbean.

“Pesquisámos, testámos os conceitos e ouvimos as mesmas coisas”, disse, destacando os desejos de criação de memórias, de “primeiras” experiências em conjunto, de criação de laços e da existência de uma gama de opções que permitem uma “mistura de desafio e relaxamento”, como elementos que se repetiram em múltiplas sessões de pesquisa.

“Não há nada no nosso escritório que diga ‘Vamos construir o maior navio do mundo’”, disse Schneider à CNN Travel. Os planos iniciais eram para a construção de um navio com menos 50.000 toneladas brutas.

A Royal Caribbean International está, claramente, a lançar o Icon of the Seas para um mercado que vai para lá dos cruzeiros.

“Não criámos o Icon para competir com outros navios de cruzeiro”, disse. “Concebemo-lo para competir com qualquer outro produto de férias em família que exista no planeta – como esquiar, ir a Las Vegas ou ao Grand Canyon”.

Terry Ward é jornalista ‘freelancer’ e escreve sobre viagens a partir de Tampa, Florida. Os filhos estão constantemente a pedir para fazer um cruzeiro, para poderem ‘desaparecer’ na zona das crianças durante dias.

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