Após o fracasso do Life at Sea, novo cruzeiro de três anos e meio, da Villa Vie, fundada por antigos membros da equipa executiva do cruzeiro que não chegou a acontecer, planeia partir em maio
À medida que a poeira assenta na Life at Sea Cruises, que cancelou a sua viagem de três anos pouco antes da partida, por não ter conseguido assegurar um navio, surge outro possível herdeiro do trono.
A Villa Vie Residences, outra startup de cruzeiros de longa duração, confirmou a compra de um navio para a sua própria viagem de três anos e meio à volta do mundo. A partida está agendada para maio de 2024.
A empresa comprou o MS Braemar à Fred. Olsen Cruise Lines, mudando-lhe o nome para Villa Vie Odyssey. O navio foi construído em 1993 para a Crown Cruise Line e comercializado pela Cunard, antes de passar para a Majesty e depois para a NCL, regressando novamente à Crown, sendo finalmente adquirido pela Fred. Olsen em 2001.
Peter Deer, diretor-geral da Fred. Olsen Cruise Lines, confirmou à CNN a venda do navio à Villa Vie. "A entrega está prevista para o final de fevereiro de 2024", acrescentou.
Apesar de ter 30 anos, o Braemar não sofreu desgaste durante este tempo. Em 2009 foi ampliado durante uma remodelação e novamente restaurado em 2019, o mesmo ano em que se tornou o maior navio a atravessar o Canal de Corinto, na Grécia. A empresa colocou-o à venda em novembro de 2022.
Tem capacidade para 924 passageiros, distribuídos por 485 camarotes, e o seu tamanho relativamente pequeno permite-lhe atracar no coração dos destinos, afirmou a Villa Vie num comunicado partilhado em exclusivo com a CNN. O seu casco mais plano também possibilita que navegue em vias navegáveis interiores.
Tal como o Odyssey, o navio terá oito decks, uma promenade envolvente e uma piscina ampliada, ligando as atuais duas, para que os passageiros possam nadar à volta. Estão também a ser adicionadas banheiras de hidromassagem, elevando o total no convés para quatro.
Terá três restaurantes, oito bares e quatro lounges, bem como um spa, um centro de fitness, uma biblioteca e um centro médico.
Até aqui, tudo normal. Mas depois há os detalhes pensados para quem viaja durante 1.301 dias por 147 países e 425 portos: Internet rápida e fiável da Starlink e da Viasat 3, e um "centro culinário interativo" para quem sente falta da cozinha e para aulas de culinária.
Haverá também um programa de golfe com um simulador a bordo e excursões a campos de golfe ao redor do mundo.
As estadias nos portos variam entre dois e sete dias, o que permite explorar os destinos para além da abordagem habitual dos navios de cruzeiro de "ver e partir rapidamente".
Para os curiosos com a ideia de um cruzeiro de longa duração, mas que não querem comprometer-se com três anos e meio, haverá a possibilidade de reservar "segmentos" a partir de 35 dias a bordo. Há também boas notícias para aqueles para quem 1.301 dias não são suficientes: o plano é fazer outro cruzeiro, e depois outro, para que as pessoas possam passar a vida no mar.
"Na verdade, não se trata tanto de um cruzeiro, mas de um estilo de vida: uma casa com quintais em constante mudança", sublinha o CEO Mikael Petterson.
Cruzeiros a partir de 30 mil euros por ano
A Villa Vie foi fundada por antigos membros da equipa executiva da Life at Sea que se demitiram quando a equipa original se separou em maio de 2022.
O CEO Mikael Petterson - antigo CEO da Life at Sea - diz que o conceito foi inspirado no feedback de clientes interessados no outro cruzeiro.
"Falei com milhares de pessoas e criámos o Villa Vie com base no que aprendemos com o Life at Sea", explica à CNN. "As pessoas querem ter a flexibilidade de pagar consoante a utilização, entrando e saindo, em vez de pagar adiantado durante três anos. Muitos queriam ser proprietários de um camarote e ter uma palavra a dizer no negócio."
Considera-o "muito diferente" da oferta dos seus antigos colegas, com um navio mais pequeno e estadias mais curtas a bordo, e com o conceito de "pagar conforme utiliza".
Os preços não diferem muito das ofertas iniciais do Life at Sea, embora existam mais opções: nomeadamente, os passageiros podem comprar um camarote (que será designado por "villa") ou alugar um.
Quem alugar (basicamente paga pela viagem, como num cruzeiro normal) pagará a partir de 89 dólares (cerca de 82 euros), por pessoa e por dia, por um camarote interior. Isto equivale a 32.485 dólares por pessoa por ano (30.000 euros), ou 97.455 dólares por três anos (89 mil euros). Os camarotes exteriores custam a partir de 119 dólares (109 euros) por pessoa por dia, e com varanda a partir de 199 dólares (182 euros).
A inscrição para os três anos e meio não é obrigatória. Os 1.301 dias serão divididos em segmentos que variam entre 35 e 120 dias. Os passageiros podem comprar os segmentos que quiserem.
No entanto, a compra implica o pagamento direto de um camarote: a partir de 99.000 dólares (90 mil euros) por um camarote interior, 149.000 dólares (136 mil euros) por um camarote exterior e 249.000 dólares (228 mil euros) por um camarote com varanda. Os proprietários terão também de pagar taxas mensais a partir de 1.750 dólares (1.600 euros), 2.500 (2.300) ou 4.000 (3.600) por pessoa, respetivamente, ou 21.000 dólares (19 mil euros), 30.000 (27 mil) ou 48.000 (44 mil) por ano. Os proprietários poderão alugar a outras pessoas por conta própria (sem custos) ou através da Villa Vie, mediante pagamento de uma taxa.
Quem comprar um camarote terá uma garantia de 15 anos, a vida útil estimada do navio.
Petterson diz que o objetivo a longo prazo é comprar mais navios - neste caso, os proprietários podem receber um crédito de 50% para passar para outro navio ao fim de 15 anos. Se isso não acontecer, eles receberão de volta 15% do valor pago como valor de sucata.
Os preços são baseados em ocupação dupla. Os viajantes individuais beneficiam de descontos de 30% para um camarote interior, 20% para um camarote exterior e 10% para um com varanda.
"Se a estadia for inferior a três anos, vale a pena alugar; se a estadia for superior a três anos, é melhor comprar", aconselha Petterson.
Toda a comida e bebidas não alcoólicas estão incluídas, bem como bebidas com álcool ao jantar. O wi-fi e as visitas médicas (sem procedimentos ou medicação) também estarão incluídos, o que torna a proposta atrativa para clientes dos EUA. Haverá serviços de limpeza semanais e serviço de lavandaria a cada duas semanas sem custos adicionais.
"Muito diferente" do cruzeiro de três anos
Muitas pessoas ficaram desapontadas com o fracasso do Life at Sea, mas Petterson garante que o Villa Vie partirá como planeado.
Os passageiros têm de fazer um depósito de 10% para garantir o seu lugar e todos os depósitos são mantidos em caução até 15 de fevereiro, altura em que serão pagos os primeiros 90 dias do cruzeiro. A partir daí, os pagamentos para cada segmento serão pagos 90 dias antes da sua data de início.
O navio foi pago com investimento privado. Petterson assegura ainda que "nem um cêntimo" dos depósitos será gasto antes de 15 de fevereiro.
Agora que o navio foi comprado, o próximo passo é uma remodelação de dez semanas, incluindo duas semanas em doca seca.
Os camarotes, ou "villas", como serão chamados, serão melhorados, será acrescentado um centro de negócios e a piscina será ampliada.
Os bares e restaurantes permanecerão em grande parte como estão, indica Petterson, que assevera também que o navio está em bom estado.
Então, por que confiar no Villa Vie após o fracasso do Life at Sea? "Somos muito diferentes", destaca Petterson. "Não estamos a pedir às pessoas centenas de milhares de dólares adiantados. Estamos a pedir uma pequena percentagem para ver quem está realmente comprometido e virá."
Como os antigos inscritos no Life at Sea "demonstraram o seu compromisso" num projeto semelhante, só pagarão 5% de depósito, oferece o CEO do Villa Vie.
