Corrupção na Madeira: Albuquerque e presidente da câmara alvo de operação

Henrique Machado , notícia atualizada às 16:50
24 jan, 09:39

Buscas ocorreram em vários locais do país, incluindo na Grande Lisboa e no Porto

A Polícia Judiciária e o Ministério Público realizaram mais de 100 buscas por suspeitas de corrupção e outros crimes associados que envolvem os mais altos titulares de cargos públicos e políticos na Madeira, sabe a CNN Portugal. Dois dos alvos da operação são o próprio presidente do governo regional, Miguel Albuquerque, e o presidente da Câmara Municipal do Funchal, Pedro Calado, que entretanto foi detido, bem como outros dois empresários.

Posteriormente, e em comunicado, o Departamento de Ação e Investigação Penal (DCIAP) confirmou a realização de um total de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias que se realizaram na Madeira, mas também em várias zonas do Continente. De acordo com as autoridades, além dos concelhos madeirenses de Funchal, Câmara de Lobos, Machico e Ribeira Brava, foram também conduzidas buscas na Grande Lisboa (Oeiras, Linda-a-Velha, Porto Salvo, Bucelas e Lisboa) e, ainda, em Braga, Porto, Paredes, Aguiar da Beira e Ponta Delgada). Para estas buscas a Polícia Judiciária contou com a colaboração da Polícia Judiciária.

“As diligências executadas visaram a recolha de elementos probatórios complementares, a fim de consolidar as investigações dos crimes de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência”, lê-se numa nota divulgada pela Polícia Judiciária.

De acordo com uma nota do DCIAP, em causa na investigação estão factos ocorridos a partir de 2015, “suscetíveis de consubstanciar crimes de atentado contra o Estado de direito, prevaricação, recebimento indevido de vantagem, corrupção passiva, corrupção ativa, participação económica em negócio, abuso de poderes e de tráfico de influência”.

Entre outros factos, de acordo com o Ministério Público, a investigação incide “sobre atuações que visariam condicionar/evitar a publicação de notícias prejudiciais à imagem do Governo Regional [PSD/CDS-PP] em jornais da região, em moldes que são suscetíveis de consubstanciar violação da liberdade de imprensa”.

Sucessor de Albuquerque visado

Quanto a Pedro Calado, trata-se daquele que era até aqui considerado o potencial sucessor de Albuquerque à frente dos destinos do PSD/Madeira. Foi vice-presidente do governo regional até ter assumido a liderança da câmara, em 2021. Antes, trabalhara para o grupo empresarial AFA, que detém os hotéis Savoy – e é com este grupo que o Ministério público considera que Pedro Calado tem um pacto corruptivo, de favorecimento com as devidas aprovações de licenciamento camarário, em troca de contrapartidas.

Mas há suspeitas de corrupção também para Miguel Albuquerque e outros altos decisores políticos do poder regional, nas relações de alegada promiscuidade com grupos económicos. A megaoperação na ilha da Madeira conta com mais de uma centena de inspetores da PJ e procuradores do DCIAP e prende-se com três processos distintos, em que se cruzam alguns dos protagonistas. 

No caso do presidente do governo regional, alvo de buscas em casa, está por exemplo em causa uma relação suspeita com o grupo Pestana – os sócios de Cristiano Ronaldo, entre outros hotéis, no Pestana CR7 Funchal. Neste caso, a suspeita prende-se com a venda de uma quinta de Albuquerque a um fundo imobiliário com sede em Lisboa, em 2017, por 3,5 milhões de euros. A investigação nasceu dois anos depois e em março de 2021 a PJ já tinha feito buscas ao presidente do governo regional. A quinta do Arco, ou das Rosas, passou a ser arrendada ao grupo Pestana para exploração turística – o que coincidiu no tempo com a renovação da concessão da Zona Franca da Madeira ao grupo Pestana.

A investigação suspeita da participação de Albuquerque nesse fundo que adquiriu a propriedade da quinta – e que os 3,5 milhões de euros tenham sido uma contrapartida paga em atos corruptivos. Sobre a concessão da exploração da zona franca ao grupo Pestana, por ajuste direto, o Tribunal de Contas concluiu que estava ferida de ilegalidade: o processo conduzido por Pedro Calado, na altura vice-presidente de Albuquerque, violou o princípio da concorrência.

Logo em 2021, o DCIAP confirmou as suspeitas neste caso, referindo-se a “factos suscetíveis de integrar a prática de crimes de prevaricação, corrupção e participação económica em negócio". E o Ministério Público assumiu que as buscas da altura tinham “igualmente por objeto a investigação de uma eventual relação dessa adjudicação com a venda, a um fundo imobiliário, de um conjunto de imóveis onde se encontra instalada uma unidade turística".

Miguel Albuquerque, que na altura não foi constituído arguido e goza de imunidade dadas as funções que ocupa, volta agora a ser alvo de buscas.

Autarquia confirma buscas

“A Câmara Municipal do Funchal informa que um grupo de inspetores da Polícia Judiciária deu entrada esta manhã nas instalações do edifício dos Paços do Concelho, para a realização de buscas”, lê-se num comunicado divulgado pela autarquia (PSD/CDS-PP), citado pela Lusa.

No documento, o município, presidido pelo social-democrata Pedro Calado, acrescenta que “está a colaborar na investigação em curso e a prestar toda a informação solicitada, num espírito de boa cooperação”.

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