Lisboa: criação de Chinatown é «inaceitável»

18 set 2007, 21:59

Afirma o Observatório da China após afirmações de Maria José Nogueira Pinto

O Observatório da China repudiou esta terça-feira as afirmações da ex-vereadora da Câmara de Lisboa Maria José Nogueira Pinto, que este mês defendeu uma quota de lojas chinesas na baixa lisboeta e a criação de uma Chinatown noutro local, escreve a Lusa.

A associação, que afirma promover e aprofundar a investigação e reflexão científica multidisciplinar sobre a China, «insurge-se e repudia as afirmações discriminatórias da Drª Maria José Nogueira Pinto face à laboriosa e ordeira comunidade chinesa em Lisboa», lê-se em comunicado.

«Não é aceitável que a ex-vereadora da CML e possível futura responsável pelo Projecto de Reabilitação da Baixa-Chiado queira marginalizar e impedir um determinado grupo étnico - os chineses - de comerciarem naquela área da cidade de Lisboa» - prossegue a nota de imprensa.

Além de lembrar que a Constituição Portuguesa proíbe a «exclusão ou discriminação económica ou urbana com base em critérios étnicos ou religiosos», o Observatório da China salienta que «é simplista, redutor e inexacto centrar nos chineses, ou noutro qualquer grupo étnico, a responsabilidade pela decadência do comércio tradicional de proximidade».

Considerando a criação de uma Chinatown «inaceitável e seriamente procupante», Rui Lourido, presidente do Observatório, assinala ainda que, «para assegurar uma mais eficaz integração social e a segurança global de pessoas e bens», uma sociedade «não deve estimular a segregação».

De acordo com o responsável, cada um deve ser livre de escolher «onde quer residir ou trabalhar» pelo que, se os chineses quiserem concentrar serviços comerciais, lúdicos ou outros em determinado bairro, «é uma decisão sua, mas que não deve ser imposta».

Na edição de 8 de Setembro do semanário Expresso, Maria José Nogueira Pinto admitiu pretender «travar a proliferação das lojas chinesas» na Baixa-Chiado «porque, se continuam naquele território, nunca mais vai ser possível deitar mão ao pequeno comércio».

Dia 13, o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, afirmou ser «absolutamente estranha» a criação de uma «Chinatown» na baixa lisboeta e assegurou que a possibilidade «não está na agenda da autarquia, nem sequer na agenda de ponderação».

«Não está no meu espírito nem no espírito da Câmara uma iniciativa desse tipo que aliás me foi referida, não por Maria José Nogueira Pinto, mas pela Associação de Comerciantes Industriais Chineses que, durante a campanha eleitoral me transmitiram que gostariam de uma iniciativa desse tipo», declarou António Costa.

As declarações da ex-vereadora do CDS-PP na Câmara de Lisboa mereceram igualmente fortes críticas do Bloco de Esquerda, que rejeita Maria José Nogueira Pinto para coordenar o Projecto de Reabilitação da Baixa-Chiado.

Também a União das Associação de Comércio e Serviços manifestou dúvidas sobre a legalidade de medidas destinadas a concentrar as lojas chinesas numa «Chinatown».

A SOS Racismo foi ainda mais crítica ao acusar Maria José Nogueira Pinto de querer desenvolver uma «limpeza étnica», ao propôr o controlo das lojas chinesas e a criação de «um gueto».

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