Cinco coisas que o GPT-4 pode fazer que o ChatGPT não pode

CNN , Samantha Murphy Kelly
20 mar 2023, 16:56
ChatGPT, inteligência artificial. Foto: Adobe Stock

No primeiro dia após ter sido revelado, o GPT-4 impressionou muitos utilizadores em testes iniciais e numa demonstração da empresa com a sua capacidade de redigir processos judiciais, passar exames padronizados e construir um site funcional a partir de um esboço desenhado à mão

Na semana passada, a OpenAI anunciou a próxima geração da tecnologia de inteligência artificial que está na base da sua ferramenta de chatbot viral, o ChatGPT. O mais potente GPT-4 promete arrasar com as versões anteriores, potencialmente mudando a forma como utilizamos a Internet para trabalhar, brincar e criar. Mas poderá também lançar questões desafiantes sobre a forma como as ferramentas de inteligência artificial podem abalar profissões, permitir que os estudantes copiem, e mudar a nossa relação com a tecnologia.

GPT-4 é uma versão atualizada do modelo linguístico da empresa, que é treinado em grandes quantidades de dados online para gerar respostas complexas às solicitações dos utilizadores. Está agora disponível através de uma lista de espera e já está presente em alguns produtos de terceiros, incluindo o novo motor de pesquisa da Microsoft alimentado por inteligência artificial (IA) Bing. Alguns utilizadores com acesso antecipado a esta ferramenta estão a partilhar as suas experiências e a destacar algumas das utilizações mais convincentes.

Aqui está um olhar mais atento sobre o potencial do GPT-4:

Analisar mais do que texto

Basicamente, a maior alteração do GPT-4 é a sua capacidade de trabalhar com fotografias que os utilizadores carregam.

Um dos casos mais fascinantes veio de uma demonstração de um vídeo da OpenAI que mostrou como um desenho podia ser transformado num website funcional em minutos. O utilizador carregou a imagem no GPT-4 e depois copiou o código resultante numa janela de pré-visualização que mostrava como poderia tornar-se um website funcional.

No seu anúncio, a OpenAI também mostrou como o GPT-4 foi solicitado para explicar uma piada a partir de uma série de imagens – que apresentavam um smartphone com o carregador errado – e descreveu porque é que isso era engraçado. Embora possa parecer simples, dissecar uma anedota é mais complicado para as ferramentas de inteligência artificial por causa do contexto necessário.

Noutro teste, o The New York Times mostrou ao GPT-4 uma imagem do interior de um frigorífico e pediu-lhe que apresentasse uma refeição com base naqueles ingredientes.

A funcionalidade das fotografias ainda não está disponível, mas espera-se que a OpenAI a implemente nas próximas semanas.

Programar tornou-se ainda mais fácil

Alguns utilizadores iniciais do GPT-4 com muito pouco ou nenhum conhecimento prévio de programação também o utilizaram para recriar jogos icónicos como o Pong, o Tetris ou o Snake depois de seguirem as instruções passo a passo fornecidas pela ferramenta sobre como o fazer. Outros fizeram os seus próprios jogos originais. (O GPT-4 pode escrever código em todas as principais linguagens de programação, de acordo com a OpenAI.)

"As poderosas capacidades linguísticas do GPT-4 serão utilizadas para tudo, desde o storyboarding, a criação de personagens à criação de conteúdos de jogos", disse Arun Chandrasekaran, um analista da Gartner Research. "Isto poderá dar origem a mais fornecedores de jogos independentes no futuro. Mas, para além do jogo em si, o GPT-4 e modelos semelhantes podem ser utilizados para criar conteúdos de marketing em torno de antevisões de jogos, gerar artigos noticiosos e até mesmo moderar os fóruns de discussão de jogos."

Tal como com os jogos, o GPT-4 poderá mudar a forma como as pessoas desenvolvem aplicações. Um utilizador no Twitter disse ter feito uma simples aplicação de desenho em minutos, enquanto outro afirmou ter codificado uma aplicação que recomenda cinco novos filmes todos os dias, disponibilizando ainda os trailers e detalhes sobre onde vê-los.

"A programação é como aprender a conduzir - desde que o principiante receba alguma orientação, qualquer pessoa pode programar", disse Lian Jye Su, um analista da ABI Research. "A IA pode ser uma boa professora."

Passar nos testes com distinção

Embora a OpenAI tenha dito que a atualização é "menos capaz" do que os humanos em muitos cenários do mundo real, ela exibe "desempenho a nível humano" em vários testes profissionais e académicos. A empresa disse que o GPT-4 passou recentemente um exame simulado de acesso à Ordem dos Advogados norte-americana com uma pontuação em torno dos 10% melhores resultados. Em contraste, a versão anterior, GPT-3.5, teve uma pontuação em torno dos 10% piores resultados. A versão mais recente também teve uma forte pontuação em exames de Direito e outros de acesso ao Ensino Superior, de acordo com a OpenAI.

Em Janeiro, o ChatGPT fez manchetes pela sua capacidade de passar em prestigiados exames de faculdade, tais como um da Wharton School of Business da Universidade da Pensilvânia, mas não com notas particularmente altas. A empresa disse que passou meses a tirar lições do seu programa de testes e do ChatGPT para melhorar a precisão e a capacidade do sistema para se manter dentro de um tópico.

Fornecendo respostas mais precisas

Em comparação com a versão anterior, o GPT-4 é capaz de apresentar respostas escritas mais longas, mais detalhadas e mais fiáveis, de acordo com a empresa.

A última versão pode agora dar respostas com até 25.000 palavras, anteriormente eram cerca de 4.000, e pode fornecer instruções detalhadas mesmo para os cenários mais singulares, desde como limpar um aquário de uma piranha até à extração do ADN de um morango. Um dos primeiros utilizadores disse que tinha fornecido sugestões detalhadas para frases de engate com base numa pergunta de um perfil num site de encontros.

Racionalização do trabalho em várias indústrias

Joshua Browder, CEO do chatbot de serviços jurídicos DoNotPay, disse que a sua empresa já está a trabalhar na utilização da ferramenta para gerar "processos judiciais num clique" para processar chamadas feitas por robôs, numa primeira indicação do vasto potencial do GPT-4 para mudar a forma como as pessoas trabalham em diferentes áreas.

"Imagine receber uma chamada, clicar num botão, a chamada é transcrita e é gerado um processo judicial com 1.000 palavras. O GPT-3.5 não era suficientemente bom, mas o GPT-4 lida extremamente bem com este trabalho", escreveu Browder no Twitter.

Entretanto, Jake Kozloski, CEO do site de encontros Keeper, disse que a sua empresa está a utilizar a ferramenta para melhorar a correspondência entre os seus utilizadores.

De acordo com Lian Jye Su, da ABI Research, é possível que vejamos também grandes avanços em "carros ligados [painéis de instrumentos], diagnóstico remoto em cuidados de saúde, e outras aplicações de IA que anteriormente não eram possíveis".

Um trabalho em curso

Embora a empresa tenha feito grandes melhorias no seu modelo de IA, o GPT-4 tem limitações semelhantes às versões anteriores. A OpenAI disse que a tecnologia carece de conhecimento dos acontecimentos que ocorreram depois da data-limite da sua base de dados (setembro de 2021) e não aprende com a experiência. Pode também cometer "simples erros de raciocínio" ou ser "excessivamente ingénuo ao aceitar declarações obviamente falsas de um utilizador", e não fazer um trabalho de dupla-verificação, disse a empresa.

Chandrasekaran disse que isto também se reflete em muitos modelos de IA atuais. "Não esqueçamos que estes modelos de IA não são perfeitos", disse. "Podem produzir informação imprecisa de tempos a tempos e podem ser uma caixa negra por natureza".

Por agora, a OpenAI disse que os utilizadores do GPT-4 devem ser cautelosos e usar "com muito cuidado" a ferramenta, particularmente "em contextos de alto risco".

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