Os afetos de um cão podem mesmo ajudar quem está doente

CNN , Madeline Holcombe
26 mar 2022, 15:00
Os animais concordam. Não poderíamos ter sobrevivido à pandemia sem eles

Os cães também podem ser o melhor amigo do médico.

Para doentes que estão a sofrer com dores nas urgências, apenas 10 minutos com um amigo de quatro patas pode ajudar a reduzir esse sofrimento, segundo um novo estudo publicado recentemente.

Os resultados sustentam o que os amantes de cães de todo o mundo há muito suspeitavam e também proporciona algum otimismo aos doentes e aos prestadores de cuidados de saúde que lidam frequentemente com a falta de recursos hospitalares no meio da pandemia de covid-19.

"Há investigações que demonstram que os animais de estimação são uma parte importante da nossa saúde, de vários modos diferentes. Motivam-nos, fazem-nos levantar, (dão-nos) rotinas, a ligação humano-animal" afirmou a principal autora do estudo Colleen Dell, a diretora de pesquisa da One Health and Wellness e professora na Universidade de Saskatchewan.

O estudo, publicado no jornal PLOS One, pediu a mais de 200 doentes no serviço de urgências que relatassem o seu nível de dor numa escala de 1 a 10 (sendo 10 o nível de dor mais elevado). Um grupo de controlo não teve intervenção para a dor, enquanto os participantes no outro grupo tiveram 10 minutos de tempo com um cão de terapia e os doentes classificaram novamente os seus níveis de dor, segundo o estudo.

Os que tiveram a companhia dos cães relataram menos dor.

O estudo tem uma forte metodologia, afirmou Jessica Chubak, investigadora sénior do Kaiser Permanente Washington Health Research Institute. Chubak, que não esteve envolvida no estudo, salientou que ainda há muito para aprender sobre cães de terapia.

"Os resultados do estudo são prometedores", disse num email. "O nosso entendimento atual dos efeitos das visitas de cães de terapia no ambiente dos nossos departamentos de urgências é relativamente limitado. Por isso, é particularmente importante ter mais pesquisa nesta área."

Dell espera que a pesquisa como a deste estudo signifique que podemos parar de perguntar se os cães de terapia são úteis em contexto médico e começar a perguntar como podem ajudar e como integrá-los melhor nas equipas de cuidados de saúde.

No hospital

A experiência do serviço de urgências pode mesmo contribuir para a dor do doente.

As luzes fortes, as longas esperas, a ansiedade e o foco nas doenças agudas e imediatas podem tornar a sensação pior, afirmou Erin Beckwell, dona de um cão que viveu com dor crónica a maior parte da vida.

"Não é um local em que normalmente sejamos levados para uma sala confortável e sossegada e nos façam algum tipo de intervenções específicas," afirmou. "São muitas vezes sugestões do que já experimentámos e depois mandam-nos para casa, após muito tempo de uma espera angustiante, dolorosa e que causa ansiedade."

"Podemos sair de lá com a sensação de que nem sequer fomos ouvidos."

Há quem tenha a perceção errónea de que utilizar cães de terapia pode transmitir doenças e é um risco para a higiene em ambiente hospitalar, mas Dell lembrou que há formas de os prestadores de cuidados de saúde os utilizarem de um modo sanitário para que todo o sistema funcione melhor.

Mike MacFadden, um enfermeiro residente no Canadá, disse que vê muito potencial na incorporação de cães de terapia como parte de uma abordagem holística ao tratamento da dor no serviço de urgências e que pode ajudar todos os envolvidos.

"As equipas dos serviços de urgências podem sentir-se em conflito e experienciar angústia moral devido à sua incapacidade de satisfazer as suas próprias expectativas para um cuidado otimizado. A experiência das pessoas no que diz respeito à dor é multifacetada e sabemos que uma abordagem multifacetada é mais benéfica para satisfazer as necessidades dos doentes," afirmou MacFadden. "A presença de um cão de terapia não só tem o benefício de apoiar a experiência do doente, mas penso que também serve de conforto aos prestadores de cuidados.

No lar

A dor pode ser pensada como uma experiência tanto física como social, afirmou Michelle Gagnon, professor assistente de psicologia e estudos de saúde na University of Saskatchewan. Gagnon não esteve envolvida no estudo.

Ansiedade, depressão, ter apoio ou ser descartado, tudo isso pode ter um impacto no modo como experienciamos a dor, afirmou. Faz sentido que passar tempo com uma criatura que nos traz alegria e não invalide os nossos sentimentos possa ajudar-nos a melhorar.

"O que se pode ganhar com os animais de estimação e algumas das emoções positivas que podem surgir por termos animais por perto, penso que pode ter um impacto na própria experiência de dor," afirmou.

Beckwell disse que passou por isso com a sua cocker spaniel de 10 anos, Reilly, ao sofrer de artrite e doenças autoimunes.

"Sinto-me mais com a situação controlada e com menos pânico e ansiedade devido à gravidade da minha dor, à duração da minha dor, esse tipo de coisas, quando tenho o apoio incondicional da minha cadela," afirmou Beckwell. "Ela aproxima-se, e aprendeu, ao longo dos anos, quando tenho dores, e senta-se no meu colo."

"Não preciso de falar com ela – ela sabe," afirmou Beckwell.

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