Chico Buarque foi a figura mas também houve Marielle Franco e luta contra o racismo: o quarto dia de Lula em Portugal

24 abr 2023, 21:38
Marcelo Rebelo de Sousa, Chico Buarque e António Costa (Lusa/António Cotrim)

Marcelo falou em português do Brasil para alinhar com Lula nas críticas a Bolsonaro. Costa quer o Brasil para ficar

Entre um prémio atrasado e uma condecoração. Entre relatos de racismo e o aumento do ativismo. O quarto e penúltimo dia do presidente do Brasil em Portugal fez-se de polos, com muita amizade entre os dois países, coroando, ao fim de quatro anos, Chico Buarque com o Prémio Camões.

Já antes disso o primeiro-ministro português tinha sido condecorado por Lula da Silva com a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco, o mais alto grau daquela ordem atribuído a chefes de Estado e Governo.

“Agora que o Brasil voltou não vamos mais deixá-lo sair”, afirmou António Costa, numa das várias alusões feitas durante a visita de Estado à reaproximação dos dois países, depois de um afastamento durante a presidência de Jair Bolsonaro.

E foi esse afastamento, ou antes a chegada de Lula da Silva, que permitiu o momento maior do dia. A partir do Palácio da Ajuda, e quatro anos depois de o Prémio Camões ter sido anunciado, Chico Buarque pôde finalmente receber o prémio.

Já no fim dos discursos de Lula da Silva e Marcelo Rebelo de Sousa, que até falou em português do Brasil, o cantor dedicou o galardão a “tantos autores humilhados e ofendidos” nos “anos de estupidez e obscurantismo”, lembrando que “a ameaça fascista persiste no Brasil e um pouco por toda a parte” - o alvo foi portanto Jair Bolsonaro e seguidores do seu pensamento.

"Meu caro amigo, me perdoe, por favor, essa demora", disse Marcelo Rebelo de Sousa, dirigindo-se ao compositor, cantor e escritor brasileiro, citando versos de uma canção sua, e pedindo-lhe que não chore sobre "leite derramado". “Finalmente a democracia venceu no Brasil e é por isso que estamos aqui hoje”, declarou o presidente brasileiro, entre criticas à “extrema-direita” de Jair Bolsonaro, que Lula disse ter voltado a imprimir “obscurantismo e censura das artes” no país.

Relatos de racismo e mais um prémio

Pelo meio dos festejos do dia, a ministra brasileira da Igualdade Racial anunciou que os relatos de racismo dos imigrantes brasileiros em Portugal, em particular as mulheres, vão ser objeto de um levantamento das autoridades brasileiras a entregar junto dos parceiros portugueses.

Em entrevista à agência Lusa, após um encontro no Observatório do Racismo e Xenofobia português e com um coletivo de mulheres migrantes, Anielle Franco disse que há uma busca de “soluções em ambos os países para acolher” devidamente os imigrantes, particularmente as mulheres que em Portugal têm sido objeto de xenofobia, segundo vários ativistas.

“A gente sabe que a maioria das pessoas brasileiras que moram aqui são mulheres e é importante que a gente possa cuidar do povo tanto aqui quanto lá”, explicou a ministra, que integra uma visita a Portugal da comitiva governamental brasileira liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na sequência do mesmo encontro, e quase que respondendo aos relatos referidos pela ministra brasileira, o Observatório do Racismo e Xenofobia português informou Anielle Franco de que vai criar um prémio com o nome de Marielle Franco para premiar investigadores que tratem do racismo e xenofobia.

A governante, irmã da ativista que morreu assassinada em 2018 e que se tornou um símbolo das vítimas da violência política no Brasil, destacou que a sua irmã, de quem se assume “herdeira espiritual”, é um símbolo “da falta de acesso das mulheres negras a diversos setores” e também lamenta “uma violência política extrema que cresce” em todo o mundo no quadro da polarização e dos extremismos existentes.

No Brasil houve “uma polarização muito grande nos últimos anos, politicamente falando e ideologicamente também”, com um “populismo e essa onda crescente de ódio” - a desinformação também acentua a violência, afirmou a ministra, que diz nunca esquecer a irmã nas suas posições políticas.

“A gente tem uma missão de falar dos que já se foram mas que deixaram tantos exemplos, tanta força” para os tempos atuais, justificou a ministra, que integra a comitiva oficial do governo brasileiro na visita de Estado de quatro dias a Portugal do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que termina esta terça-feira.

Negócios pelo meio

Várias empresas aeroespaciais portuguesas e a brasileira Embraer assinaram um memorando de entendimento. Com a presença de Lula da Silva e António Costa, o momento serviu para cimentar “o contínuo desenvolvimento de tecnologias relacionadas com o A-29 Super Tucano, na sua recém-lançada versão A-29N, voltada para o atendimento das necessidades dos países membros da NATO”, salientou na ocasião Bosco da Costa Júnior, presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança.

“Damos hoje, com a assinatura deste memorando de entendimento, mais um passo importante no contínuo desenvolvimento de tecnologias relacionadas com o A-29 Super Tucano”, afirmou Bosco da Costa Júnior.

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