«Queria recuperar a minha imagem em Portugal», diz Marinho Peres

17 nov 2000, 12:10

Os passos de um regresso feliz em entrevista a Maisfutebol O pretexto foi a excelente carreira do Belenenses na I Liga. Mas claro que uma entrevista com Marinho Peres não poderia ficar-se por aqui. Não quando se foi colega de equipa de Pelé e Cruyff, capitão do «escrete» num Campeonato do Mundo e quando se tem um percurso como treinador que oscila entre episódios felizes em Portugal e aventuras em El Salvador.,

Voltou uma das grandes personagens que o futebol português já conheceu. Catorze anos depois de se ter estreado como treinador principal, no Vitória de Guimarães, Marinho Peres troca outra vez o Brasil por Portugal, estacionando no Estádio do Restelo, desta vez com perspectiva de ficar mais tempo, vai dizendo, mais de quatro meses depois de ter começado a trabalhar. 

Compreende-se o ânimo do treinador. Marinho olhou para a classificação do ano passado e viu que ia pegar numa equipa que tinha lutado até ao fim para não descer de divisão. Pediram-lhe para contratar quatro jogadores no Brasil para juntar aos poucos que já estavam assegurados em Portugal e de repente a equipa passa a ganhar jogos e a fazer boas exibições, de tal modo que só ainda perdeu um jogo no campeonato, frente ao Benfica. 

Marinho Peres diz que tem sorte. Que pode escolher os melhores jogadores do mundo, que já aprendeu quais as características mais importantes na contratação de um jogador que vem para um país estrangeiro, mas que é impossível saber como esses reforços se vão adaptar e vão ser recebidos. 

Depois de dois terceiros lugares no campeonato nos dois primeiros anos como treinador e da conquista de uma Taça de Portugal no ano seguinte, o raio ameaça ter caído uma quarta vez no mesmo sítio. 

- O Belenenses começou muito bem a época, os novos jogadores adaptaram-se depressa e a sua equipa está no quarto lugar da classificação. Acha que pode manter este ritmo até ao fim?

- Não tenho uma vara de condão para saber, mas creio que vamos fazer um bom campeonato. O plantel é bom, temos opções e do jeito que está o campeonato podemos ficar em sexto, sétimo. 

- Contratou Eliel, Cléber e Beto, três brasileiros, o Belenenses reforçou-se também com Verona, Guga, Marcão, Fábio, mais brasileiros que jogavam em Portugal. Como é que se consegue uma adaptação tão rápida de novos jogadores?

- A harmonia do grupo é fundamental. Encontrei aqui um grupo com uma ligação grande e que aceitou muito bem quem veio de fora. Jogadores como Wilson, Tuck, Filgueira, Marco Aurélio ou Lito foram fundamentais na recepção e adaptação de quem veio, porque não pensam que o treinador contratou este ou aquele para lhes tirar o lugar, mas para fortalecer a equipa. Outros jogadores ficaram como suplentes e não criaram problemas, como o Franklim, o João Paulo Brito ou o Neca. 

- O Verona e o Guga não foram contratados por si mas têm sido fundamentais no bom início da equipa. Marinho Peres também teve sorte nas aquisições do clube?

- É verdade, o Verona já estava contratado quando me chamaram e o Guga foi requisitado pela SAD. Quando falaram comigo tínhamos combinado que eu ia trazer quatro jogadores, porque estava convencido que Guga e Verona eram comunitários e aí teria quatro estrangeiros mais aqueles. Queríamos fazer o que o Boavista faz. O futebol não tem nacionalidade, o torcedor quer ver é os melhores jogadores em campo. 

- No ano passado o Belenenses começou bem o campeonato e em Dezembro perdeu dois dos melhores jogadores, Gouveia e Rui Pataca. Teme que o mesmo possa acontecer este ano?

- No que me falaram não querem correr esse risco do passado, em que quase desceram de divisão, mas no futebol tudo é possível. O Belenenses está a fazer uma campanha fantástica e o objectivo é que volte gradualmente a ser um grande do futebol português. É um clube muito querido em Portugal mas muitas vezes isso acontece porque não oferece grande perigo ou resistência. Há clubes que investem há mais tempo, como o Braga, o Boavista - não é por acaso que fez dois jogos fortíssimos com a Roma, em que foi infeliz -, o Guimarães. Essas equipas já estão um passo à nossa frente, queremos aproximar-nos delas. É um objectivo mais a médio-prazo, que não é hábito em mim, mas há uma grande simbiose entre o Marinho e o Belenenses.  

- O que é que o fez, aos 53 anos, abandonar outra vez o Brasil para voltar a trabalhar no estrangeiro?

- Porque é que se é imigrante? Sai-se atrás de oportunidades que no país não lhe estão dando. Não adquiri um conceito fantástico no Brasil mas tenho clubes para trabalhar, só que queria recuperar a imagem que tinha deixado no futebol português, que estava desgastada. Não foi pelo dinheiro, porque a proposta financeira foi igual à que tinha no Brasil. Sou ambicioso por natureza. Hoje tenho de ser melhor que ontem e inferior a amanhã. Para saltar a primeira coisa que se faz é baixar. Adoro essas frases do povo, acho que representam bem a ambição. Vim para um dia, quem sabe, voltar a um clube grande, sempre com dívida de gratidão ao Belenenses. 

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