BCE só vai parar depois do verão

ECO - Parceiro CNN Portugal , Alberto Teixeira
16 jun 2023, 09:34

Analistas esperam mais duas subidas das taxas. Lagarde já anunciou aumento em julho e só um “terramoto económico” evitará novo aperto em setembro. BCE precisa de “matar dragão da inflação”.

Sem pausas e com pressa. Christine Lagarde já anunciou que o Banco Central Europeu (BCE) não vai fazer paragens na subida das taxas de juro para chegar o mais rapidamente possível ao destino de 2% de inflação e, surpreendentemente, antecipou um novo aumento no próximo mês. Mas nem será o último aperto, como esperaria o Presidente Marcelo. Só depois do verão o banco central terminará a caminhada.

Os analistas acreditam que o banco central vai promover outro aumento em setembro, apontando-se a taxa terminal para os 4% neste ciclo que, feitas as contas, terminará com uma subida acumulada de 450 pontos base em pouco mais de um ano.

Para quem tem crédito, isto poderá significar um aumento da prestação mensal que uma família ou empresa paga ao banco. Pelo menos a julgar pelo que espera que venha a ser o comportamento das Euribor, que estão indexadas aos contratos da casa com taxa variável: é expectável que venha a atingir o pico nos 3,85% em setembro no caso da Euribor a 3 meses e nos 3,91% em dezembro no caso da Euribor a 6 meses.

“O BCE simplesmente não se pode dar ao luxo de estar errado sobre a inflação. O banco quer e precisa de ter certeza de que matou o dragão da inflação antes de considerar uma mudança de política”, comentou Carsten Brzeski, economista chefe do ING.

A autoridade monetária da Zona Euro “não mudará sua postura de aperto até que a inflação subjacente mostre sinais claros de um ponto de inflexão”, acrescentou o responsável, para rematar com a sua previsão: “Não veremos isso na reunião de julho e provavelmente também não na de setembro. Na verdade, achamos que seria necessário um terremoto económico para que o BCE não subisse também em setembro”.

O Danske Bank espera que o BCE suba a taxa de juro de depósitos dos atuais 3,5% para os 4% até setembro — sugerindo-se duas subidas de 25 pontos base nas próximas duas reuniões — e considera que o “ónus da prova será revertido após julho” quando forem conhecidos novos dados sobre a inflação. Até agora o discurso oficial tem sido de necessidade de continuar o aperto enquanto a inflação subjacente não der sinais credíveis rumo ao objetivo de 2%.

O staff do banco central reviu em alta as projeções para a inflação, que se manterá acima dos 2% até 2025. Este ano a inflação ficará nos 5,3%, encontrando-se em rota de descida que ainda não descansou o BCE: as pressões inflacionistas “permanecem fortes”, “embora alguns indicadores evidenciem sinais preliminares de abrandamento”.

Enquanto isso, as perspetivas para a economia saíram enfraquecidas, com a Zona Euro a apresentar, ainda assim, crescimentos este ano e nos próximos, o que dá alguma margem para as autoridades monetárias manterem a política monetária em níveis restritivos.

O economista do ZEW Friedrich Heinemann acrescenta outros dois fatores que jogam a favor da subida dos juros: por um lado, o atual governo italiano está a adotar uma política orçamental relativamente cautelosa, evitando que os juros dos títulos do governo italiano fujam do controlo; por outro, “o desastre do Credit Suisse permaneceu um caso isolado na Europa”.

Por tudo isto, todas as atenções estarão viradas para a reunião de 26 de outubro, que está agendada para Atenas, na Grécia. Até lá teremos um verão quente.

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