"Algo está prestes a rebentar": Porque é que Wall Street ainda está assustada com os bancos

CNN , Allison Morrow
9 mai 2023, 08:22
Bolsa (AP / Helmut Fricke)

ANÁLISE. Sem um milagre vindo de Washington, as perspetivas para os bancos regionais não são boas

Um resumo do ponto de situação da crise bancária: 

A Reserva Federal norte-americana: "Os bancos estão bem". 

O Departamento do Tesouro: "Os bancos estão bem." 

Os bancos: "Estamos bem." 

Wall Street: "Vendam todos, os bancos estão a arder!" 

A questão é a seguinte: quando o Silicon Valley Bank se desmoronou a 10 de março, foi um problema a nível local – os depositantes assustados apressaram-se a levantar o seu dinheiro e o banco ficou sem dinheiro. Uma clássica corrida aos bancos. 

Sete semanas depois, apesar da intervenção do governo para salvaguardar os depositantes e conceder crédito aos bancos, o pânico enraizou-se em Wall Street, que agora se alimenta da sua própria ansiedade. 

"Estamos a assistir a uma grande preocupação de que algo está prestes a rebentar", disse-me Ed Moya, analista de mercado sénior da Oanda. "Este medo de contágio não abrandou de todo." 

Como uma corrida localizada aos bancos infeta Wall Street 

Depois de, na semana passada, o First Republic se ter tornado o terceiro banco norte-americano a falir este ano, os investidores transferiram a sua angústia para o PacWest Bancorp, outro banco regional da Califórnia, cujo preço das ações foi reduzido para metade na quinta-feira, depois de ter confirmado que estava a "explorar opções estratégicas" (leia-se: à procura de um comprador). 

A Western Alliance também caiu na quinta-feira, depois de o Financial Times ter noticiado que o banco estava a considerar uma venda. O credor do Arizona negou a notícia, fazendo reduzir as parte das perdas nas ações. Ainda assim, na quinta-feira, em Nova Iorque, as ações tinham caído 33%, e este ano desvalorizou mais de 65%. 

Da mesma forma, o banco regional do sudeste First Horizon estava a vacilar, tendo desistido de uma fusão de 13 mil milhões de dólares com o banco TD do Canadá. 

Embora esta última safra de bancos regionais tenha algumas semelhanças com os três que faliram este ano, eles não parecem ter a mesma dependência de depósitos não segurados que colocou os outros em apuros. 

O PacWest informou na quinta-feira que os levantamentos tinham abrandado e que 75% dos seus depósitos estavam segurados e que o banco continuava cheio de dinheiro. 

"O banco não registou fluxos de depósitos fora do normal na sequência da venda do First Republic Bank e de outras notícias", garantiu. "O nosso dinheiro e a liquidez disponível permanecem sólidos e excedem os nossos depósitos não segurados, representando 188%." 

Em tempos normais, esses números poderiam ter aliviado os receios dos investidores, disse Moya. Mas os tempos atuais não são normais. 

"Mesmo que os números não pareçam tão maus, assim que o mercado está de olho em ti, é o fim do jogo", disse. 

O pessimismo do mercado foi reafirmado por Bill Ackman, o investidor bilionário, que na quinta-feira escreveu no Twitter que os bancos regionais, em geral, estão em apuros. 

"A confiança numa instituição financeira é construída ao longo de décadas e destruída em dias", escreveu. "À medida que cada peça do dominó cai, o banco mais fraco seguinte começa a vacilar." 

Qual é a solução? 

Ackman e outros têm defendido que o governo deve intervir e retirar o limite do seguro de depósitos, que atualmente está nos 250.000 dólares - uma fração do que algumas empresas têm de manter nos seus saldos para gerir as suas operações diárias. 

Mas tal mudança exigiria um apoio bipartidário no Congresso. E nenhum interveniente racional no mercado está à espera disso. 

Os bancos também estão a enfrentar uma potencial recessão e mais aumentos das taxas de juro por parte da Fed. Mas uma barreira psicológica gigante poderá ser ultrapassada se os Estados Unidos aliviarem a sua crise do teto da dívida. 

No início desta semana, a Secretária do Tesouro, Janet Yellen, avisou que o governo iria atingir o teto da dívida por volta de 1 de Junho, a menos que o Congresso aumente o valor. É difícil exagerar o quão catastrófico seria o resultado de um incumprimento – pense-se no colapso financeiro global de 2008, ou algo muito possivelmente pior. 

O teto da dívida é a maior questão neste momento para os mercados. 

"Existe uma probabilidade de 90% de não entrarmos em incumprimento? Sim. Mas, tendo em conta os atores envolvidos, continuo preocupado", disse Moya. 

Como é que tudo isto vai acabar? 

Sem um milagre vindo de Washington, as perspetivas para os bancos regionais não são boas.

Há tanto pessimismo em Wall Street que os bancos mais pequenos vão ser esmagados. O PacWest não está a sofrer por ter feito más apostas ou por ter gerido mal a sua empresa – é apenas o próximo da lista, dizem os analistas.

A eliminação dos bancos regionais teria implicações enormes para a economia dos Estados Unidos, uma vez que estas operações de menor dimensão tendem a oferecer às empresas conhecimentos específicos de um sector que não podem ser obtidos junto dos grandes nomes de Wall Street, como o JPMorgan Chase ou o Bank of America.

A consolidação é particularmente arriscada neste momento nos Estados Unidos, quando a administração Biden está a tentar reforçar a indústria transformadora e as cadeias de abastecimento nacionais.

"Estamos a tentar reavivar os sectores produtivos da economia, distinguindo-os dos sectores financeirizados da economia", diz Robert Hockett, professor de direito e especialista em finanças públicas na Universidade de Cornell. "E no centro de tudo isso está o sector bancário regional... Os bancos de Wall Street estão muito mais virados para a economia global, muito mais virados para a especulação de vários tipos."

Essa especificidade do sector, observa Hockett, cria o dilema a que estamos a assistir agora: quase por definição, esses credores especializados não são tão diversificados nas suas participações. Muitos carregaram nos títulos do Tesouro, que, ironicamente, "são o mais aborrecido de todos os investimentos possíveis".

Outro problema: quem quer comprar um banco em dificuldades, mesmo em saldos, se o pode adquirir por cêntimos do dólar depois de falir – com uma garantia contra perdas, apoiada pelo governo dos EUA?

Isso significa que podemos esperar mais falências bancárias e mais pânico em Wall Street nas próximas semanas e meses.

Economia

Mais Economia

Patrocinados