França enviou blindados para a Arménia. Azerbaijão está furioso e acusa Ocidente de "fomentar novas guerras" no Cáucaso

Pedro Falardo , (artigo originalmente publicado a 22 de novembro de 2023)
23 nov 2023, 17:13
Ilham Aliyev (AP)

As tensões entre o governo azeri e a Arménia continuam altas após em setembro as forças de Baku terem lançado uma ofensiva contra a então autoproclamada República de Artsakh, mais conhecida pelo nome da região, Nagorno-Karabakh, que obrigou à fuga dos 120 mil arménios que lá viviam

O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, acusou esta terça-feira a França de “fomentar novas guerras” na região do Cáucaso ao fornecer armamento à Arménia.

"A França desestabiliza não só as suas antigas e atuais colónias, mas também a nossa região, o Cáucaso do Sul, ao apoiar tendências separatistas e separatistas", disse Aliyev, citado pela Reuters, durante uma conferência internacional em Baku. "Ao armar a Arménia, está a implementar uma política militarista, encoraja as forças revanchistas na Arménia e prepara o terreno para o início de novas guerras na nossa região.”

As tensões entre o governo azeri e a Arménia continuam altas após em setembro as forças de Baku terem lançado uma ofensiva contra a então autoproclamada República de Artsakh, mais conhecida pelo nome da região, Nagorno-Karabakh, que obrigou à fuga dos 120 mil arménios que lá viviam.

Os dois países já travaram duas guerras por este território, uma entre 1988 e 1994 e outra durante seis semanas no ano de 2020.

Após a operação na qual o Azerbaijão tomou o controlo da região, e devido aos receios internacionais de que Ilham Aliyev pudesse querer continuar a sua campanha, a França, país com uma grande diáspora arménia de mais de 700 mil pessoas, assinou um acordo com o governo de Yerevan para o fornecimento de armamento e equipamento de defesa, incluindo sistemas de defesa aérea Mistral, radares e carros blindados.

"Mantemos a nossa relação de defesa (com a Arménia), apesar de não fazermos parte das mesmas alianças militares e políticas. Baseia-se no simples princípio de que é preciso ser capaz de nos defendermos", disse o ministro da Defesa francês, Sebastien Lecornu, no dia 23 de setembro, durante uma reunião com o homólogo arménio, fazendo alusão ao facto de a Arménia fazer parte da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO, na sigla em inglês), aliança militar da qual faz parte a Rússia.

O primeiro ‘pacote’ francês de equipamento militar, composto por carros blindados Bastion, chegou ao porto georgiano de Poti no início da semana passada, de onde foi depois transportado para território arménio.

Para além de França, a Arménia também assinou acordos com a Índia para a compra de sistemas antidrone e de unidades do sistema de lançamento de foguetes múltiplos Pinaka.

As relações entre França e Azerbaijão estão a passar por um momento de maior tensão e não só devido ao fornecimento de armas à Arménia. No dia 13 de novembro, o Viginum, o Serviço para a Vigilância e Proteção Contra a Interferência Digital Estrangeira de França, revelou uma campanha de desinformação com origem no Azerbaijão destinada a danificar a reputação de França e a apelar ao boicote do Jogos Olímpicos de 2024, que se vão realizar em Paris de 26 de julho a 11 de agosto.

De acordo com o Le Monde, nos dias 26 e 27 de julho, cerca de 90 contas fizeram 1.600 publicações com os hashtags ‘#PARIS2024’ e ‘#BOYCOTTPARIS2024’, mostrando imagens de motins e confrontos na capital francesa, bem como visuais a apelar ao boicote da competição. O relatório aponta que quase todas as contas têm “pelo menos uma ligação” ao Azerbaijão, e que 40 delas foram criadas no mês das publicações e apenas divulgaram conteúdo relacionado com a tentativa de boicote.

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