Kremlin recusa-se a culpar o Daesh pelo atentado em Moscovo e desafia EUA a "repensarem" esta narrativa

25 mar, 14:00
Presidente da Rússia, Vladimir Putin (AP)

“Gostaria que eles pudessem ter resolvido tão rapidamente o assassínio do seu próprio presidente Kennedy”

O Daesh reivindicou o atentado de sexta-feira numa sala de concertos em Moscovo e divulgou vídeos dos atacantes a disparar indiscriminadamente sobre as vítimas - 137, segundo o mais recente balanço -, mas o Kremlin continua a recusar-se a atribuir a autoria do ataque ao grupo jiadista, desafiando os EUA a reavaliarem a sua versão dos factos.

Esta segunda-feira, numa chamada telefónica com jornalistas, o porta-voz do Kremlin foi questionado sobre se a Rússia reconhece o Daesh como o autor do ataque, conforme reivindicado pelo grupo jiadista. “A investigação ainda está em curso. Não foi anunciada ainda nenhuma teoria sólida. Esta é apenas uma questão de informação preliminar”, respondeu Dmitry Peskov, citado pela agência de notícias estatal russa RIA Novosti.

Peskov adiantou ainda que os serviços de segurança russos estão “a trabalhar por conta própria”, prescindindo da ajuda dos serviços secretos norte-americanos, que já tinham avisado, no início deste mês, para a probabilidade de um atentado em Moscovo, exortando a população para que evitasse ajuntamentos, inclusive espetáculos.

De acordo com os EUA, o Daesh “é o único responsável” pelo atentado na sala de espetáculos Crocus City Hall. “Não houve qualquer envolvimento ucraniano”, assegurou a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson, num comunicado.

Volodymyr Zelensky fez questão de deixar claro logo de início que a Ucrânia nada teve que ver com o atentado. O presidente ucraniano acusou mesmo Vladimir Putin de tentar “remeter a culpa” para Kiev. "O que aconteceu sexta-feira em Moscovo é óbvio: Putin e os outros vilões estão apenas a tentar atribuir a culpa a outras pessoas", disse Zelensky no seu habitual discurso à nação, após as autoridades russas avançarem a hipótese de envolvimento ucraniano.

Apesar das garantias dos norte-americanos e dos ucranianos, a Rússia continua a recusar-se a culpar o Daesh. Esta segunda-feira, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo desafiou os EUA a reavaliarem as suas certezas sobre a autoria do atentado. “Atenção - uma pergunta para a Casa Branca: têm a certeza de que foi o Daesh? Podem repensar isso?”, escreveu Maria Zakharova, num artigo de opinião publicado no jornal Komsolmolskaya Pravda.

A porta-voz do Ministério russo acusou mesmo os EUA de estarem a tentar "encobrir" o envolvimento da Ucrânia no atentado, espalhando uma versão do “bicho papão" sobre o Daesh.

Já no domingo, Maria Zakharova ignorou os relatórios dos serviços secretos dos EUA que davam conta do envolvimento do Daesh no atentado. “Gostaria que eles pudessem ter resolvido tão rapidamente o assassínio do seu próprio presidente Kennedy”, ironizou, numa mensagem no seu canal do Telegram. “Mas não, há mais de 60 anos que não conseguem descobrir quem o matou. Ou talvez fosse Daesh também?”, acrescentou.

“Até que a investigação sobre o ataque terrorista em Crocus City Hall esteja concluída, qualquer frase de Washington a encobrir Kiev deve ser considerada como prova”, argumentou. “Afinal, o financiamento das atividades terroristas do grupo criminoso organizado de Kiev pelos democratas liberais americanos e a participação nos esquemas corruptos da família Biden já se arrastam há muitos anos", disse ainda.

Os representantes do Kremlin e do Ministério dos Negócios Estrangeiros reproduzem assim a narrativa de Vladimir Putin, que no sábado acusou a Ucrânia de ter “preparada uma janela” para que os suspeitos do atentado conseguissem passar a fronteira, tendo sido detidos no momento em que “tentavam fugir em direção à Ucrânia”.

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