Aspartame pode ser cancerígeno (mas OMS diz que não é necessário cortar no consumo)

CNN Portugal , com Lusa
13 jul 2023, 23:33
Adoçante (foto: Towfiqu Barbhuiya/Unsplash)

O aspartame é amplamente utilizado em vários produtos em substituição do açúcar desde a década de 1980, como bebidas dietéticas, pastilhas elásticas e gelatinas

O adoçante aspartame pode ser cancerígeno para os humanos, mas os dados científicos conhecidos não obrigam a alterar os valores diários de consumo aceitáveis, indica uma avaliação divulgada há instantes pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A conclusão consta de uma análise conjunta efetuada pela Agência Internacional para Pesquisa do Cancro (IARC, na sigla em inglês) e do comité misto de peritos da Organização Mundial da Saúde e da Organização da Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (JECFA).

O aspartame - feito de dois aminoácidos naturais, fenilalanina e ácido aspártico - ganhou popularidade por adoçar mais do que o açúcar e por ter ainda a vantagem de ser bem menos calórico. Esta combinação quase perfeita faz do aspartame estrela em vários alimentos processados e ultraprocessados, assim como em refrigerantes, sendo a Coca-Cola sem açúcar o produto mais sonante. Este adoçante, que pode ser encontrado nos rótulos com o nome edulcorante E951, tem sido amplamente estudado pela ciência desde a sua aprovação para consumo humano, que aconteceu na década de 1980, e, até agora, conseguiu passar pelos pingos da chuva mesmo quando se multiplicam as suspeitas de risco para a saúde. No entanto, os tempos de glória podem agora ter os dias contados.

Apesar de há dez anos uma revisão da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar ter concluído que o aspartame é seguro para o consumo humano, a verdade é que este adoçante vai passar a constar na lista de alimentos possivelmente cancerígenos, da qual faz parte, por exemplo, a radiação eletromagnética.

A IARC classificou o aspartame como possivelmente carcinogénico para os humanos, com base em informação limitada para um tipo de cancro do fígado, mas o JECFA concluiu que os dados avaliados não apontam para a necessidade de alterar a dose diária admissível previamente estabelecida de até 40 miligramas por cada quilo de peso do consumidor.

Tendo como exemplo um refrigerante dietético contendo 200 ou 300 miligramas de aspartame, um adulto com 70 quilos precisaria de consumir entre nove e 14 latas por dia para exceder a ingestão diária aceitável deste adoçante artificial, adiantaram as duas entidades.

"As avaliações do aspartame indicaram que, embora a segurança não seja uma grande preocupação nas doses que são comummente usadas, foram descritos efeitos potenciais que precisam ser investigados por mais e melhores estudos”, salientou Francesco Branca, diretor do Departamento de Nutrição e Segurança Alimentar da OMS, na apresentação dos resultados.

Sublinhando as "evidências (provas) limitadas" sobre a carcinogenicidade [propriedade causadora de cancro de uma substância], o IARC classificou o aspartame como possivelmente cancerígeno para o ser humano, integrando-o no grupo 2B, o terceiro de quatro níveis e geralmente atribuído quando existem provas limitadas e não convincentes de cancro em humanos ou provas convincentes de cancro em animais experimentais.

A classificação do potencial cancerígeno de alimentos e produtos é feita em quatro níveis, sendo que cada grupo apresenta um nível de gravidade. No grupo 1, em que a classificação de cancerígeno é certa e há evidências suficientes do impacto de determinados alimentos e produtos para o aparecimento da doença em pessoas e animais, está, por exemplo, o tabaco e a radiação solar. No grupo 2A, onde se incluem aqueles que são provavelmente cancerígenos estão, por exemplo, os pesticidas e o consumo de carne vermelha.

Tal como já foi mencionado, o aspartame será incluído no grupo 2B, o segundo nível mais baixo na avaliação de carcinogenicidade, não se sabendo ainda se irão ser apresentadas quantidades máximas recomendadas deste adoçante para evitar o risco de cancro.  Nas listas sobre a certeza da carcinogenicidade, o aspartame ficará à frente do grupo 3, que é aquele em que são incluídos os alimentos e produtos não cancerígenos.

Os dois organismos realizaram análises independentes, mas complementares, para avaliar os potenciais perigos cancerígenos e outros riscos para a saúde associados ao consumo de aspartame, através da revisão da literatura científica disponível.

"A descoberta de dados limitados de carcinogenicidade em humanos e animais, e de evidências (provas) limitadas sobre como a carcinogenicidade pode ocorrer, ressaltam a necessidade de mais pesquisas para refinar nossa compreensão sobre se o consumo de aspartame representa um risco carcinogénico", adiantou Mary Schubauer-Berigan, especialista da IARC.

A IARC e a OMS continuarão a monitorizar novas provas e incentivaram grupos de investigação independentes a desenvolver mais estudos sobre a potencial associação entre a exposição ao aspartame e os efeitos na saúde dos consumidores.

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