Factos Primeiro: quantos americanos querem a verificação de antecedentes para comprar armas e que senadores estão a bloquear essa lei?

25 mai 2022, 18:50

O treinador dos Golden State Warriors fez declarações que ficaram virais nas redes sociais. Fomos ver de que falava ele

Um discurso angustiante e carregado de revolta. O vídeo da conferência de imprensa do treinador da NBA, Steve Kerr, está a correr o mundo. Em causa, estão as acusações desesperadas de quem defende uma legislação mais apertada no que diz respeito ao controlo das armas de fogo nos Estados Unidos.

"Não vou falar de basquetebol. Quaisquer perguntas de basquetebol não interessam. Temos crianças a serem mortas na escola. Quando vamos fazer algo? Estou cansado, cansado de chegar aqui e oferecer condolências às famílias", começou por dizer, numa altura em que o número de vítimas oficial ainda era de 14 crianças e um professor (o total subiu depois para 19 crianças e duas professoras).

As declarações de Steve Kerr endureceram ainda mais quando se dirigiu em específico à proposta de lei para a verificação de antecedentes, aquando da compra de armas de fogo:

"Vocês percebem que 90% dos americanos, independentemente do partido político, querem verificações de antecedentes, verificações de antecedentes universais? 90% de nós!", apontou o treinador, cujo pai foi assassinado por homens armados em 1984, quando trabalhava como reitor da Universidade Americana de Beirute.

Com cerca de 121 armas de fogo em circulação para cada 100 habitantes, os Estados Unidos são de longe a população mais fortemente armada do mundo, de acordo com um centro de estudos independente. No entanto, a legislação sobre a posse de armas é uma das questões mais polémicas e que provoca mais divisões na política norte-americana.

Os tiroteios em massa com muitos mortos, como o que aconteceu ontem em Uvalde, aumentam a pressão pública para endurecer as leis. Vários estudos da Civiqs, uma empresa de pesquisa de opinião e análise de dados, mostram que o apoio a novas leis de controlo de armas tende a aumentar imediatamente após um tiroteio trágico. A mudança tende a diminuir nas semanas seguintes, mas geralmente deixa o apoio às leis de controlo de armas mais alto do que quando começou.

E, de acordo com dados divulgados pela Reuters/Ipsos, a maioria dos norte-americanos apoia leis de armas mais rígidas e medidas como a verificação universal de antecedentes geralmente atraem o apoio de mais de 90% do público norte-americano - mas o apoio esmagador não se traduziu em vitórias esmagadoras para medidas de controlo de armas quando foram submetidas a votação pública. Mas já lá vamos.

O treinador virou-se depois para os "50 senadores que recusam votar a HR8" (uma referência aos representantes republicanos), uma lei que pretende aumentar a investigação dos antecedentes dos compradores de armas antes de estes adquirirem as armas.

"Existe uma razão para não o fazerem: para se manterem no poder. Pergunto-vos: vão colocar o vosso desejo de poder à frente das vidas das nossas crianças, dos nossos idosos, de quem vai à igreja?", questionou, recordando outros recentes ataques, como o que ocorreu em Buffalo.

projeto-lei de verificação universal de antecedentes foi apresentado pelo congressista Mike Thompson pela primeira vez em 2013. A lei alargaria as verificações de antecedentes para aqueles que compram armas pela Internet, em eventos e através de determinados negócios.

A Câmara dos Deputados, controlada pelos democratas, aprovou a lei duas vezes - a mais recente em março de 2021. Mas esta acabou por não passar no Senado.

E eis a razão: pequenos estados rurais onde a posse de armas é generalizada têm uma influência desproporcional no Senado norte-americano, onde é necessária uma supermaioria de 60 votos para avançar a maior parte da legislação na câmara de 100 assentos.

Mitch McConnell: a chave para desbloquear a lei

O senador Mitch McConnell, o líder da oposição, afirmou esta terça-feira que estava "horrorizado e com o coração partido" pelo tiroteio na escola primária no Texas. Mas o republicano do Kentucky, como muitos outros no seu partido que expressaram publicamente a sua consternação, não deu nenhuma indicação de que iria abandonar a sua oposição de longa data às medidas de controlo de armas.

E é mesmo McConnell - que controlou o Senado durante seis anos até 2021 e tem uma classificação A+ da National Rifle Association - que tem sido fundamental para bloquear os esforços democratas para aprovar medidas de segurança de armas, um recorde que reflete a profunda hostilidade do seu partido a praticamente qualquer proposta que pretende limitar o acesso a armas de fogo.

Questionado pela imprensa norte-americana se este tiroteio refletia a necessidade de o Senado aprovar medidas de controlo de armas, o senador Ted Cruz, republicano do Texas, culpou os democratas "e um monte de gente dos media" por se apressarem em "tentar restringir os direitos constitucionais de cidadãos cumpridores da lei."

"Isso não funciona; não é eficaz", disse Cruz. “Vamos aprender as circunstâncias deste assassinato em massa. Mas se olharem para o passado, sabemos o que é eficaz, e está focado nos criminosos, fugitivos e bandidos. Mas tão certo quanto a noite segue o dia, vocês podem apostar que haverá políticos democratas à procura de avançar na sua própria agenda política, em vez de trabalhar para impedir este tipo de violência horrível”.

Os esforços democratas para aprovar até mesmo um projeto de lei modesto para fortalecer a verificação de antecedentes para a compra de armas não conseguiram superar os bloqueios republicanos. Com o Senado dividido em 50/50, qualquer medida deste tipo teria que atrair o apoio de todos os democratas e pelo menos 10 republicanos para avançar.

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