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Colunista e comentador

O cachalote que deu à e ao Costa

18 abr 2022, 08:12
FC Porto-Portimonense

A metáfora que o futebol português (não) merece: está doente, minado por dentro - como o cetáceo da Fonte da Telha — mas todos assistem e ninguém faz nada

Um cachalote deu à costa, na Fonte da Telha.

Um cachalote deu à costa no País dos Pintos, dos Silvas, dos Santos e dos Costas.

Os cachalotes são mamíferos conhecidos por mergulharem em águas profundas e acredita-se que tenha sido abalroado por uma embarcação, uma vez que, segundo as notícias, apresentava múltiplas fracturas.

O cetáceo tinha cerca de 15 metros e pesava qualquer coisa como 15 toneladas e ficou encalhado no areal horas a fio até morrer.

Era fim de semana de Páscoa, o sol aqueceu as pessoas foram à praia e as autoridades praticamente não reagiram.

“Não fizeram nada!” - sentenciaram algumas testemunhas.

Este cachalote pode ser a metáfora certa para o estado em que se encontra o futebol português, nas suas marés altas e baixas.

Como, aliás, se tem visto em vários estádios e agora mais recentemente no Dragão, perante a ‘falta de comparência’ do Portimonense, que se portou como o cachalote da Fonte da Telha.

Sim, já sei que alguns de vós, caros leitores, vão logo questionar-me… “e os casos do Braga e do Nacional na Luz, o caso da B SAD no Jamor?”, entre outras situações que suscitaram comentários de natureza diferente — ou silêncios — quando ocorreram.

É um desfiar o rosário tão enjoativo quanto comer um chispe no meio de um arroz doce.

“Não se passou nada ou não fizeram nada!” — exclama-se muitas vezes —, como aconteceu agora com o cachalote, na Fonte da Telha.

Precisamente: um dos problemas do futebol português é sempre que acontece algo a merecer crítica, aqueles que se sentem directa ou indirectamente visados por essas críticas, remeterem para outros casos alegadamente semelhantes ocorridos com clubes rivais ou adversários, em vez de se concentrarem nos motivos que suscita o tipo de observação.

É frenético e doentio.

E isso tem a ver com essa trupe colocada na pantalha que, salvo raras excepções, entre ex-futebolistas, ex-treinadores, ex-árbitros e também — ao que isto chegou! — ex-jornalistas ou jornalistas no activo, com cargos de chefia ou direção — cospem para as bancadas onde assentam os cotovelos, andam permanentemente com os telemóveis na mão a ver se alguém lhes envia mais uma chispa para o ambiente ficar ainda mais incendiado, porque é isso — dizem os seu patronos — o gerador de audiências e é isso que os ‘obriga’a defender este regime futebolístico do “quanto pior, melhor”.

É o país que temos: a pagar os perdões fiscais, as falências induzidas e a engolir cachalotes.

Toda a gente percebe, mas ninguém faz nada e os títulos, em rodapé, são de uma indigência intelectual impensável. Mas a malta ri-se, acha muita piada e compõem a sua mini-corporação de auto-elogios heróicos.

Custa-me dizer isto, porque há sempre profissionais muito bons que comem por tabela (o chispe e o arroz doce), mas — como ninguém diz abertamente, só em surdina — aqui vai: é muito mau e de uma falta de nível que até dói.

É a ‘técnica do cachalote’.

O PAPA FRANCISCO, na missa de Páscoa no Vaticano, deixou a mensagem: “Não nos habituemos à guerra, empenhemo-nos todos em pedir a paz de viva voz”.

No futebol, estamos todos tão demasiado habituados às ‘guerras’ que ninguém se preocupa e desperdiça a paz.

E isso é grave, muito grave, embora pareça um divertimento dentro de um grande negócio, no qual os comissionistas extraem todo o óleo do cetáceo para alimentar a farsa.

O futebol português é um enorme cachalote que vive em águas profundas. Foi abalroado por dezenas de anos de embates na sua integridade e quando deu á costa no país dos Costas, ficaram todos a olhar para ele, incluindo as autoridades.

Ninguém faz nada, ficam todos a olhar.

Todos conhecem as causas e as consequências. Mas ninguém faz nada.

Muitos dirigentes vão morrer super ricos, depois de fazerem pouco da Justiça e os intermediários também.

Por que raio não haviam de morrer os cachalotes?!…

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