Uma dieta vegana difere de uma dieta vegetariana na medida em que elimina não só a carne animal, mas também os laticínios, os ovos ou qualquer outro ingrediente derivado de animais
Gémeos saudáveis que seguiram uma dieta vegana durante oito semanas apresentaram níveis mais baixos de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), melhores níveis de açúcar no sangue e maior perda de peso do que os irmãos que seguiram uma dieta de carne e legumes, segundo um novo estudo.
"Verificou-se uma redução de 10% a 15% no colesterol LDL, uma redução de 25% na insulina e uma redução de 3% no peso corporal em apenas oito semanas, tudo isto através da ingestão de alimentos reais sem produtos de origem animal", afirmou o principal autor do estudo, Christopher Gardner, professor investigador de medicina no Stanford Prevention Research Center em Palo Alto, Califórnia, Estados Unidos.
Uma dieta vegana difere de uma dieta vegetariana na medida em que elimina não só a carne animal, mas também os laticínios, os ovos ou qualquer outro ingrediente derivado de animais. Uma dieta estritamente vegetal pode ser mais rica em fibras, vitaminas, minerais e fitonutrientes em comparação com outros padrões alimentares, disse Gardner, que também é diretor do Grupo de Investigação de Estudos de Nutrição em Stanford.
"Os resultados deste estudo confirmam o benefício da atual orientação alimentar para reduzir o risco de doenças cardiovasculares", indicou Alice Lichtenstein, diretora e cientista sénior do Laboratório de Nutrição Cardiovascular da Universidade de Tufts à CNN. Ela não esteve envolvida no estudo.
"A dieta com mais gordura insaturada em relação à gordura saturada, mais cereais integrais em relação aos refinados, menos calorias, mais fibras e vegetais e menos colesterol resultou num perfil de fatores de risco de doenças cardiovasculares mais favorável do que a dieta de comparação", observou.
O estudo foi invulgar porque utilizou gémeos geneticamente idênticos, a maioria dos quais partilhava comportamentos de estilo de vida semelhantes, incluindo cortes de cabelo e vestuário.
"O desenho do estudo com gémeos é elegante porque controla em grande parte os fatores genéticos e ambientais que podem influenciar os resultados do estudo", explicou Frank Hu, professor de nutrição e epidemiologia e presidente do departamento de nutrição da Harvard T.H. Chan School of Public Health, em Boston. Ele não esteve envolvido no estudo.
"No entanto, o recrutamento de gémeos idênticos para estudos de intervenção dietética é um desafio; é por isso que o desenho tem sido raramente utilizado em estudos nutricionais", reconheceu Hu. "Além disso, os resultados de gémeos idênticos podem não ser generalizáveis à população em geral."
Benefícios dos alimentos vegetais ricos em fibras e com menos gordura
O estudo, publicado na revista JAMA Network Open, envolveu 22 pares de gémeos idênticos. Em cada par, a um gémeo foi atribuída uma dieta vegana, enquanto ao outro foi atribuída uma dieta omnívora. Cada um seguiu a respetiva dieta durante oito semanas. Durante as primeiras quatro semanas, todas as refeições foram fornecidas a cada gémeo, para que pudessem ver os tipos de alimentos que deveriam ingerir.
"Sinto que muitas pessoas que fazem uma dieta vegana pensam: 'Oh, ótimo, os refrigerantes são veganos. As panquecas são veganas'. Não, são refinados ultraprocessados", avisou Gardner. "Então, tentámos obter uma dieta vegana saudável e mostrar-lhes rapidamente o que era isso por quatro semanas."
O grupo da carne e dos vegetais também recebeu refeições que eram um passo à frente da sua alimentação normal.
"Eu gosto muito de equilíbrio nos meus estudos", sublinhou Gardner. "As pessoas que seguiram a dieta omnívora comeram mais vegetais, mais cereais integrais, menos açúcar adicionado e menos cereais refinados do que na sua dieta habitual. Também não comiam carne de má qualidade, era tudo de boa qualidade. Por isso, tiveram de facto algumas melhorias na dieta."
Depois de cada par de gémeos ter aprendido os tipos de alimentos a ingerir, foi-lhes pedido que preparassem as suas próprias refeições e lanches adequados à dieta para a segunda metade do estudo, explicou Gardner.
Os marcadores biológicos, incluindo sangue e fezes, foram recolhidos de cada gémeo no início do estudo e novamente nas semanas quatro e oito. Surpreendentemente, os gémeos que seguiram a dieta vegana eram mais jovens nas medidas de idade biológica versus idade cronológica, dados que serão apresentados num estudo futuro, indicou Gardner.
No entanto, a melhoria dos biomarcadores cardiovasculares, como a redução do colesterol LDL, a resistência à insulina e a perda de peso eram de esperar, afirmou Gardner.
"Os vegetarianos têm mais fibras e menos gordura saturada. Isso vai explicar o colesterol LDL. Mais fibra vai explicar menos insulina em jejum, porque a libertação de glicose na corrente sanguínea é mais lenta", apontou. "E todos os vegetais, frutas e grãos são mais volumosos do que a carne e, portanto, as pessoas podem estar mais saciadas e comer menos calorias."
Dietas restritas
Mas, como acontece com todas as dietas que restringem as pessoas dos alimentos que estão habituadas a comer, manter o curso pode ser difícil.
"Para ser sincero, os gémeos que seguiam a dieta vegana tinham menos satisfação porque era muito restritiva. Portanto, há certamente o outro lado da questão: 'Eu podia ter comido mais, mas não tinha fome de mais grãos e mais vegetais'."
Apesar da rápida melhoria na saúde, as pessoas não precisam de se tornar veganas para beneficiarem das conclusões do estudo, garantiu Gardner. A redução do consumo de carne e de produtos de origem animal pode ser feita lentamente, pouco a pouco.
Hu, de Harvard, concordou: "Embora este estudo tenha demonstrado que uma dieta vegana pode proporcionar vantagens adicionais em comparação com uma dieta omnívora saudável, não significa que toda a gente se deva tornar vegana ou vegetariana."
"As escolhas alimentares são influenciadas por uma série de fatores, tais como as condições de saúde individuais, as preferências pessoais, as tradições culturais e as considerações éticas e ambientais", destacou.
