Para já o governo não especificou se se trata de um simples lenço na cabeça ou de uma veste para cobrir todo o rosto
O governo talibã do Afeganistão espalhou esta sexta-feira por Cabul cartazes afirmando que as mulheres “devem” usar o ‘hijab’, apresentando também uma fotografia de uma burca, o que constitui mais um sinal do endurecimento do regime.
Os cartazes, espalhados por vários locais e em estabelecimentos comerciais na capital afegã, são acompanhados de um pequeno texto em que se afirma que, “segundo os princípios da 'Sharia' [lei islâmica], as mulheres devem usar o ‘hijab’, sem especificar se se trata de um simples lenço na cabeça ou de uma veste para cobrir todo o rosto.
Os cartazes foram mandados imprimir pelo Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício do Afeganistão, departamento governamental muito temido durante o primeiro regime dos talibãs (1996-2001) e restaurado pelos islâmicos após terem reconquistado o poder em meados de agosto de 2021.
Um porta-voz do ministério confirmou esta sexta-feira que está por detrás da iniciativa, embora minimizando o alcance da medida.
“Os cartazes foram publicados pelo ministério, mas isso não significa que se uma mulher não seguir os conselhos, ela seja punida ou espancada. É apenas um incentivo para seguir a Lei Sharia para as mulheres muçulmanas. Mesmo que uma mulher se cubra com um véu simples, tudo bem. De modo geral, esses cartazes são um incentivo”, disse ele.
O ‘hijab’, ou ‘hijabe’, é o conjunto de vestimentas preconizado pela doutrina islâmica para a privacidade, a modéstia e a moralidade.
A burca, também chamada ‘chadri’ ou ‘paranja’ na Ásia central, é uma veste feminina que cobre todo o corpo, da cabeça aos pés, e é usada pelas mulheres muçulmanas em muitos países islâmicos.
No Afeganistão, mesmo antes de os talibãs regressarem ao poder, a grande maioria das mulheres afegãs já se cobria com pelo menos um lenço de cabeça. Muitas delas também usavam a burca, mesmo nas áreas controladas pelo Governo anterior, apoiado pelos Estados Unidos.
Desde de reconquistarem o poder em Cabul, os talibãs estão a tentar ser reconhecidos pela comunidade internacional, afirmando-se “mais moderados” do que durante a primeira passagem pelo domínio do país.
No entanto, a publicação dos cartazes soma-se a uma série de outras medidas que visam impor a sua visão rigorosa do Islão.
Uma delas foi a decisão de que as mulheres que desejam viajar longas distâncias devem ser acompanhadas por um homem da sua família próxima, e de que os motoristas de transportes públicos devem aceitar transportar mulheres apenas se estas usarem o “véu islâmico”.
Os talibãs também emitiram diretrizes regionais, pedindo, por exemplo, a decapitação de manequins em lojas da região de Hérat (oeste).
“Isto não é bom. Vai criar medo”, disse à agência noticiosa France-Presse (AFP) Shahagha Noori, que dirige um restaurante onde o cartaz foi exposto.
“O que eles estão a tentar fazer é espalhar o medo entre as pessoas. Eles chegam a chamar prostitutas às mulheres apenas porque o rosto está visível ou se usam calças”, disse um estudante e ativista dos direitos humanos afegão sob condição de anonimato.