"Eu fiz um aborto". Celebridades contam a sua história e lembram que é uma "questão de direitos humanos"

6 mai 2022, 16:00
Phoebe Bridgers (Paul R. Giunta/Invision/AP)

Atrizes, apresentadoras, modelos, escritoras e cantoras juntaram-se aos protestos nos Estados Unidos contra a possível revogação da decisão conhecida como "Roe V. Wade", em vigor desde 1973

A notícia de que o Supremo Tribunal dos Estados Unidos se prepara para reverter a decisão histórica de 1973, conhecida como "Roe V. Wade", que aprovou o direito ao aborto, levou várias atrizes, apresentadoras e celebridades a juntarem-se não só aos protestos, mas a começarem a revelar os seus testemunhos pessoais.

A primeira a fazê-lo foi a cantora e compositora Phoebe Bridgers, de 27 anos, que revelou no Twitter que, em outubro passado, enquanto estava em digressão, fez um aborto.

"Fiz um aborto em outubro do ano passado enquanto estava em digressão. Fui a [uma consulta de] planeamento familiar, onde me deram o comprimido do aborto. Foi fácil. Todos merecem este tipo de acesso", escreveu .

Na publicação, a cantora deixa ainda um site onde quem quiser pode deixar doações para as associações que ajudam mulheres que queiram interromper a gravidez.

Também a apresentadora do Channel 4, Cathy Newman, usou um artigo de opinião no jornal The Independent para revelar que, também ela, fez um aborto e que não se arrepende de o ter feito.

"Estou triste por ter feito um aborto mas nunca, por um segundo, me arrependi. Todas as mulheres - aqui, na América e no mundo - precisam de ter essa escolha."

Outra mulher que revelou ter feito um aborto quando já era mãe de duas crianças foi a modelo plus-size Tessh Holliday. Num longo texto no Instagram, a norte-americana escreve que por várias vezes na vida considerou fazer um aborto, mas que nunca achou que "fosse fazer o primeiro (e único) enquanto mãe de dois".

"Não foi uma decisão fácil, mas simplesmente eu não conseguia lidar mentalmente com outra criança, especialmente estando num casamento abusivo. Sabia que se o fizesse, não seria a mãe que sou hoje. Às vezes penso onde estaríamos. Já partilhei a minha história e estou a partilhá-la novamente porque sei o quão sortuda fui por poder fazer essa escolha", escreveu.

A modelo lembra ainda que não está sozinha nem representa "uma minoria", uma vez que "muitas das mulheres que fazem um aborto na América são casadas e muitas já são mães".

"Mas sabem o que é ainda mais comum nestas mulheres? A pobreza. E todos sabemos que neste país a pobreza está ligada à raça. O acesso ao aborto não é apenas uma questão das mulheres, se temos ou não controlo sobre nossos próprios corpos, é uma questão de direitos humanos. Façam-se ouvir. Votem. (...) Quero melhor para a próxima geração, não pior", acrescentou.

"Lutar para garantir que os direitos são preservados"

Esta não é, no entanto, a primeira vez que as celebridades usam a sua influência para se fazerem ouvir neste tema. Em 2019, quando o estado da Georgia criminalizou o aborto, foram várias as atrizes, cantoras e apresentadoras que revelaram ao mundo que tinha recorrido à interrupção voluntária da gravidez em alguma altura da sua vida.

Milla Jovovich, que agora se juntou aos protestos ao lado da filha, foi uma das mulheres que revelou que, em 2017, quando estava grávida de quatro meses e meio, teve de fazer um "aborto de emergência".

"Passei por um aborto de emergência há 2 anos. Estava grávida de 4 meses e meio e a filmar em locais da Europa Oriental quando entrei em trabalho de parto prematuro e disseram-me que tinha que ficar acordada durante todo o procedimento. Foi uma das experiências mais horríveis que já passei. Ainda tenho pesadelos com isso. Estava sozinha e indefesa. (...) Entrei numa das piores depressões da minha vida e tive que trabalhar muito para encontrar uma saída. (...) O aborto é um pesadelo. Nenhuma mulher quer passar por isso. Mas temos que lutar para garantir que os nossos direitos sejam preservados para conseguir fazer um [aborto] seguro se for preciso", escreveu Jovovich num post no Instagram em 2019.

Também April Love Geary juntou a sua voz à das mulheres que lutam por uma interrupção da gravidez segura. A modelo, que é casada com o cantor Robin Thicke e mãe de três filhos, revelou em 2019 que, cinco anos antes, tinha feito um aborto. 

"Tenho recebido uma data de mensagens a dizer coisas como 'Como é que podes apoiar o aborto quando és mãe?', por isso, este é o meu corpo, o meu corpo depois de ter feito um aborto em 2014, ter sofrido um aborto em 2014, ter tido bebés em 2018 e 2019. Estou feliz por poder tomar decisões sobre o MEU corpo sem ter de enfrentar nenhum tipo de punição. É assustador pensar que as mulheres não poderão optar por abortar se é isso que elas querem/é necessário", escreveu a modelo que, na descrição do seu perfil no Instagram, tem a frase "os homens não devem fazer leis sobre o corpo das mulheres".

Duas das vozes mais ativas na luta por um aborto seguro são Busy Phillips e Alyssa Milano. Assim que o jornal norte-americano Politico noticiou, citando documentos não divulgados, que o Supremo Tribunal dos Estados Unidos se prepara para anular a decisão histórica de 1973 que reconheceu o direito ao aborto, Alyssa Milano recorreu às redes sociais para divulgar um vídeo onde explica a história do aborto e por que é importante lutar pela "justiça reprodutiva". 

"Apoiam que o Governo diga o que podem ou não fazer com o vosso próprio corpo? Não? Vejam este vídeo para perceber porque isso é exatamente o que está por vir", avisa a atriz que, em 2019, revelou no seu podcast "Sorry Not Sorry", ter feito dois abortos em 1993.

Milano revelou que quando engravidou estava focada na carreira e, por isso, tomava a pílula. Para além disso, "não estava preparada para ser mãe", mas acabou por engravidar.

"Eu escolhi. Foi uma escolha minha. E foi absolutamente a escolha certa para mim. Não foi uma escolha fácil. Não era algo que eu queria, mas era algo que eu precisava - como a maioria dos cuidados de saúde", afirmou.

Por sua vez, Busy Phillips contou a sua história no programa “Busy Tonight", do canal E!, em 2019, quando condenou a decisão da Georgia de criminalizar o aborto. História que voltaria a contar na Comissão de Justiça e que deu origem à hashtag #YouKnowMe no Twitter.

A atriz e apresentadora lembrou que "uma em cada quatro mulheres na América faz um aborto" e que ela era esse um, pois fez um aborto quando tinha 15 anos.

"Fiz um aborto quando tinha 15 anos e digo-o porque estou genuinamente com muito medo pelas mulheres e meninas de todo o país", afirmou Busy Phillips, lembrando ainda que o corpo é seu e "não do Estado" e que são as mulheres e os médicos que devem "tomar decisões informadas sobre o que é melhor" para as mulheres.

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