Jovem estrela norte-americana foi acusada de batota pelo campeão do mundo, mas garante que nunca o fez num jogo presencial, apenas online, quando era menor
Uma investigação conduzida por um dos maiores sites de xadrez online, Chess.com, indica que, "provavelmente", o Grande Mestre Hans Niemann tenha feito batota em mais de 100 jogos.
O documento de 72 páginas, divulgado esta terça-feira, refere que a estrela norte-americana, de 19 anos, terá enganado o sistema em dezenas de jogos, incluindo aqueles que davam prémio. O resultado da investigação ocorre semanas depois de o campeão mundial da modalidade, o norueguês Magnus Carlsen, ter acusado Niemann de batota.
My statement regarding the last few weeks. pic.twitter.com/KY34DbcjLo
— Magnus Carlsen (@MagnusCarlsen) September 26, 2022
A polémica no mundo do xadrez instalou-se desde então e não dá sinais de abrandar. Hans Niemann já tinha confessado ter feito batota quando era mais novo, entre os 12 e os 16 anos, em partidas online. Segundo o relatório, em 2020, o americano assumiu os seus atos ao chefe do website, o que lhe valeu ficar temporariamente banido da plataforma. Contudo, a investigação aponta a que "provavelmente" não tenha ficado por ali e que, mais recentemente, tenha voltado a desrespeitar as regras.
As mais recentes suspeitas e preocupações com a inconsistência e subida abrupta na classificação levaram a que o site encerrasse a conta do jogador no mês passado.
"Embora não duvidemos de que Hans é um jogador talentoso, notamos que os seus resultados são estatisticamente extraordinários", consta no esclarecimento, citado pela CNN.
Apesar da investigação ter estado focado nas competições online, o documento não deixa de mencionar a controvérsia do mês passado após as denúncias de Carlsen, alertando que os jogos presenciais em que Niemann participou "mereciam uma investigação mais profunda".
Contudo, a investigação assume "não existirem provas diretas que comprovem que Hans fez batota no jogo de 4 de setembro com Magnus ou que fez batota noutros jogos OTB [frente a frente] no passado".
Quando o campeão do mundo acusou o rival de batota
As declarações de Magnus Carlsen no Twitter marcaram o mundo do xadrez no mês passado, tendo surgido na sequência do seu abandono da Taça Sinquefield de 2022, em Saint Louis, Missouri, após a sua terceira derrota contra Niemann.
Segundo escreveu no texto partilhado, "o seu progresso [de Hans] no tabuleiro tem sido invulgar e, durante todo o nosso jogo na Taça Sinquefield, tive a impressão de que ele não estava tenso ou mesmo totalmente concentrado em jogadas críticas, ao mesmo tempo que me ultrapassou de uma forma que penso que só um punhado de jogadores poderia fazer”.
“Até agora só tenho podido falar através das minhas ações, e essas ações afirmaram claramente que não estou disposto a jogar xadrez com Niemann. Espero que a verdade sobre este assunto venha ao de cima, seja ela qual for”, rematou.
A realidade é que a Federação Internacional de Xadrez (FIDE), apesar de ter repreendido Carlsen por ter desistido do jogo, assumiu partilhar as "profundas preocupações do n.º 1 do mundo sobre os danos que a batota traz ao xadrez".
De acordo com o relatório da Chess.com, num jogo de tabuleiro real, a batota pode envolver "vários métodos, tais como: sinais manuais de um treinador próximo ou acesso a um telefone na casa de banho, um dispositivo escondido num sapato, ou um fio ou campainha colada ao corpo".
O jovem norte-americano negou veementemente as acusações durante uma entrevista ao Clube de Xadrez de Saint Louis, reiterando que o fez apenas no passado em jogos online e defendendo que nunca fez batota em jogos cara a cara.
"Eu fiz batota em jogos aleatórios no Chess.com. Fui confrontado. Confessei. E este é o maior erro da minha vida", disse. "E estou completamente envergonhado. Estou a dizer ao mundo porque não quero deturpações e não quero boatos. Nunca fiz batota num jogo de tabuleiro. E, exceto quando tinha 12 anos de idade, nunca fiz batota num torneio com prémios em dinheiro."
