V. Guimarães-Benfica, 0-4 (crónica)

19 nov 2000, 00:42

João Tomás é o salvador? Terminaram todos os constrangimentos ou, pelo menos, foram adiados. Depois de uma primeira parte constrangedora, veio o golo de Chano e um «hat-trick» de João Tomás para levar Mourinho ao céu. O Benfica conseguiu a primeira vítória fora de casa esta temporada e volta a acreditar no campeoanato, sabendo-se que na próxima jornada recebe o Sporting na Luz. O futuro é menos risonho para Autuori, que já não deve saber o que fazer com a equipa.

As convulsões no Benfica durante a semana encontraram um escape na goleada de hoje em Guimarães. O Vitória foi o adversário ideal, pois atravessa um período ainda mais complexo do que os encarnados, devido à grave crise de confiança e ao claro défice qualitativo no plantel. 

A exibição dos encarnados não foi nada de transcendente, nomeadamente no primeiro tempo, em que o golo de Chano foi a mais injusta das punições para o adversário combalido. A salvação chegou na segunda parte, impelidos pela vantagem e o desnorte da defesa vimaranense. João Tomás tomou partido dos atributos de ponta-de-lança e levou a equipa ao céu com um hat-trick inédito esta época. O avançado é, aliás, um dos poucos que entra moralizado em campo, que oferece algo de novo à equipa através da recuperação de bolas, remates de fora da área e assistências para os colegas. 

O descalabro do Guimarães foi uma ajuda essencial para o largo triunfo encarnado. A equipa até entrou bem no jogo, mas deixou-se abater pela vantagem à beira do intervalo, entrando para a segunda parte com a sensação de que não haveria muito a fazer depois de terem criado tantas situações para marcar e na segunda vez que o Benfica foi à baliza marcou. Com esta derrota os números começam a ser demasiado pesados, numa equipa que não entrou bem no campeonato e que continua sem trilhar caminhos saudáveis. Depois dos quatro golos sofridos no Bessa, é mau demais voltar a infligir nova goleada, desta vez em casa. 

Bom prenúncio para futuro próximo  

Pouca gente estaria à espera desta vitória, pelo menos de forma tão retumbante. O Benfica ainda não tinha conseguido triunfar fora da Luz esta época e o único golo que tinha apontado foi no empate em Leiria, num livre de Chano. Curiosamente, foi o espanhol que quebrou esse jejum, voltando a marcar praticamente da mesma forma. A primeira barreira psicológica estava ultrapassada. 

Todos os constrangimentos seguintes foram fáceis de superar. Meira passou a não ouvir os assobios constantes dos adeptos vitorianos, que não deixavam de o apupar quando tocava na bola e até chegaram a colocar uma faixa no Estádio bem provocativa - «Meira Mercenário. De vitoriano a cem por cento a... benfiquista desde pequenino». A exibição foi serena e positiva, sem bem que o desempenho medíocre de Congo lhe tenha facilitado a vida. 

Estar a vencer fora de casa pela primeira vez este campeonato fez bem ao Benfica. Mourinho recuperava o sorriso, os adeptos podiam pular à vontade e os jogadores retomavam o prazer de festejar em casa alheia. Um sentimento vivido pela última vez há vários meses. É que o último triunfo dos encarnados extramuros aconteceu a 6 de Maio, com um golo de Sabry em Alvalade, que serviu para adiar a decisão do título para a última jornada. A última fase negativa tinha acabado de desvanecer do subconsciente e a próxima jornada do campeonato pode ser olhada com maior optimismo. É que, depois do compromisso da Taça de Portugal, com a deslocação a Campo Maior, o próximo adversário a viajar até à Luz é o Sporting. Melhor prenúncio não podia haver... 

Maniche despertou, João Tomás marcou 

O futebol rende-se às evidências, por isso Autuori só se pode penitenciar pelos erros dos seus jogadores, que têm sido demasiados. Durante o primeiro tempo viu Enke a realizar uma exibição superior, que salvou pelo menos dois golos, e Chano a marcar quase à beira dos 45 minutos. Depois do intervalo, assistiu à desorientação da sua defesa e ao consequente instinto matador de João Tomás. O ataque vimaranense quase não existiu na segunda parte, pela óbvia desmotivação de Congo, Fangueiro, Lima, Sérgio Júnior e Hugo Cunha. 

Por outro lado, o meio-campo dos encarnados ganhava novo alento e Maniche lançava-se para uma exibição bem agradável e sem a ajuda positiva de Calado e Chano. O primeiro tempo foi demasiado mau para os dois jogadores e o que fizeram depois não é suficiente para que isso seja esquecido. Mourinho apenas confirmou uma virtude nesta vitória: João Tomás. Só o ponta-de-lança foi realmente superior a tudo o que aconteceu no exterior do balneário durante a semana. Miguel e Carlitos não fizeram esquecer Sabry e Poborsky, tal como Chano não soube trazer a criatividade de Dani ao meio-campo. 

Lições diferentes para os dois técnicos. Ambos têm planteis debilitados e sedentos de reforços, notando-se uma grande diferença para o FC Porto e o Sporting. No Benfica, o sumo de duas vitórias consecutivas oferece segurança e deve fazer com que Mourinho pare de escrever cartas a Vilarinho. Por outro lado, os dois desaires seguidos do Guimarães deixam Autuori com a cabeça na guilhotina, pronta a ser «decepada» pela exigência de Pimenta Machado.

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