“Lágrimas nunca conquistaram a liberdade a ninguém”: Ucrânia usa Twitter como arma (humorística) contra a Rússia

24 fev 2022, 23:36
@Ukraine (fonte: Twitter)

Memes e provocações sustentadas no sarcasmo e humor negro têm como propósito criar relevância para o problema, movimentar a comunidade internacional e combater a desinformação, uma das armas também utilizadas por Moscovo

@Ukraine é o nome da conta de Twitter pertencente ao governo ucraniano mas que não assenta nos tradicionais padrões formais de comunicação estatal. Aqui reinam os memes, as provocações e, quase sempre, um alvo recorrente: a Rússia.

Durante a madrugada desta quinta-feira, Vladimir Putin deu início ao que chamou “operação militar especial” em Donbass. A @Ukraine respondeu pouco depois das 5:00 (hora de Portugal Continental), não com bombardeamentos e colunas militares mas sim com um tweet.

Por volta das 13:00, novo ataque. Uma nova publicação em que se pode ler: “Identifica a Rússia e diz-lhe o que pensas sobre ela”. As reações não tardaram e cerca de uma hora depois a publicação já contava com cerca de quatro mil partilhas, 10 mil comentários e quase 30 mil gostos. O objetivo? Criar relevância para o problema, movimentar a comunidade internacional e combater a desinformação, uma das armas também utilizadas por Moscovo.

Em janeiro, o cérebro desta página aceitou dar uma entrevista ao jornal norte-americano Washington Post, recusou surgir em público, mas respondeu a um conjunto de questões através de mensagens enviadas no próprio Twitter. “Imaginem uma pessoa genuinamente boa que passou por muito no passado, conseguiu superar as dificuldades e acabou por desenvolver um sentido de humor peculiar e negro como resultado. Isto é a Ucrânia”, respondeu a @Ukraine.

“Rimo-nos face a ameaças, não por as subestimarmos, mas porque mais poderíamos fazer? Deitar-nos e chorar? Lágrimas nunca conquistaram a liberdade a ninguém”, reiterou o responsável pela @Ukraine.

O gestor da @Ukraine explica que, “muito provavelmente, o público mais alargado, especialmente em países mais distantes da Ucrânia, conhece muito pouco sobre as causas reais por trás da agressividade e ameaças da Rússia contra a Ucrânia” e que essa partilha internacional é uma das maiores valências desta página.

Uma das partilhas que mais circularam na rede foi um meme que comparava tipos de enxaquecas com ter a “Rússia como vizinha”. Ao Washington Post, a @Ukraine disse “que teve um objetivo com este meme, que era explicar às audiências mais distantes que a Rússia era o problema e não a Ucrânia, o Ocidente, os EUA, a NATO, os aliens”.

“Este meme conseguiu isso mesmo, transportar uma mensagem muito simples, mas importante: A Rússia é a enxaqueca, a Rússia é o problema por trás da atual escalada de tensão”, referiu.

Em 2016, Yarema Dukh foi um dos cofundadores da página quando ocupava o cargo de assessor de imprensa do gabinete presidencial ucraniano. Com as guerras internas entre o governo de Kiev e as forças pró-russas a escalar, Dukh viu no Twitter uma oportunidade de captar a atenção internacional para a Ucrânia e assim acabou por nascer a @Ukraine.

A página manteve-se algo formal durante o primeiro ano de existência. Mas, em maio de 2017, mudou de estratégia e passou a provocar a conta principal da Rússia no Twitter, por culpa das origens de Anna Yaroslavna, uma princesa francesa do século 11 nascida na antiga Rússia de Kiev, que ocupava parte da atual Ucrânia, Bielorrússia e Rússia.

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