Zelensky diz que Trump não compreende Putin porque nunca lutou contra ele

CNN , Ivana Kottasová e Kaitlan Collins
26 fev, 13:01
Volodymyr Zelensky (Associated Press)

Presidente da Ucrânia afirma em entrevista à CNN, em Kiev, que o homólogo russo "nunca vai parar"

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estará "contra os americanos" se decidir apoiar a Rússia em relação à Ucrânia, disse o presidente do país devastado pela guerra, Volodymyr Zelensky, no domingo.

Em entrevista à CNN, em Kiev, Zelensky disse que "não consegue compreender como é que Donald Trump pode estar do lado do presidente russo Vladimir Putin".

"É inacreditável", acrescentou.

Trump, que está à beira de se tornar o candidato presidencial republicano depois de vencer as primárias na Carolina do Sul, recusou-se no passado a dizer se quer que a Rússia ou a Ucrânia ganhem a guerra.

Zelensky disse acreditar que Trump - que também afirmou que acabaria com o conflito num dia, se fosse eleito - não compreendia os objetivos de Putin.

"Acho que Donald Trump não conhece Putin", disse Zelensky. "Sei que ele o conheceu... mas nunca lutou com Putin. (O exército americano nunca lutou com o exército da Rússia. Nunca... eu tenho uma melhor compreensão", argumentou.

"Acho que ele não entende que Putin nunca vai parar", sublinhou.

Zelensky disse à CNN que a Rússia está a gastar "milhares de milhões" na divulgação de informações falsas sobre a guerra e que tem sido bem sucedida na utilização da desinformação como arma - e em influenciar o debate nos EUA.

"Fiquei surpreendido com o facto de eles serem fortes mesmo nos Estados Unidos, na UE (União Europeia), em todo o mundo. Eles investem muito dinheiro nisto", apontou.

A inflação do número de vítimas ucranianas é apenas um exemplo de como a Rússia está a espalhar falsas narrativas, disse o presidente. No domingo, Zelensky revelou pela primeira vez o número de soldados ucranianos mortos no conflito até à data: 31.000.

Zelensky disse que era importante partilhar o número porque estão "fartos de mentiras", acrescentando que até alguns políticos norte-americanos têm partilhado números muito imprecisos.

A CNN não pode verificar de forma independente os números, que surgiram no fim de semana em que a Ucrânia assinalou dois anos desde a invasão total da Rússia. As autoridades americanas estimam que cerca de 70.000 soldados foram mortos e quase o dobro do número de feridos.

"Milhões vão morrer"

A Ucrânia tem tido um início de ano difícil. Sofreu uma grande derrota no início deste mês, quando as tropas ucranianas se retiraram de Avdiivka, uma cidade do leste que mantiveram durante uma década.

Zelensky e outros responsáveis ucranianos e ocidentais afirmaram que Avdiivka foi perdida porque as tropas não tinham munições suficientes para a defender.

No entanto, apesar das terríveis consequências desta escassez, o Congresso dos EUA continua a bloquear o pacote de ajuda militar de 60 mil milhões de dólares do presidente Joe Biden para a Ucrânia.

Zelensky assumiu que, sem a ajuda dos EUA, a Ucrânia não só terá dificuldade em obter novos ganhos no campo de batalha, como também terá dificuldade em continuar a defender-se este ano.

"As pessoas estarão preparadas, mas as munições não estarão preparadas e as brigadas não estarão preparadas... não só para a nossa contraofensiva, como não estarão preparadas para se defenderem, para se manterem fortes. Vai ser muito difícil", admitiu.

O momento é crucial, uma vez que Zelensky disse no domingo que a Rússia poderia tentar uma nova ofensiva já no final de maio.

Segundo Zelensky, o novo chefe do exército ucraniano, Oleksandr Syrskyi, está atualmente a elaborar duas versões de um plano sobre o que fazer a seguir. Se Kiev obtiver a ajuda dos EUA, poderá começar a fazer frente à Rússia. Caso contrário, terá de se concentrar apenas na defesa.

Zelensky contou que falou com o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, sobre o pacote de ajuda e que se sentiu otimista após essa conversa.

"Ele disse que vai fazer tudo para apoiar a Ucrânia, que está do nosso lado e que compreende o quão heroico é o nosso povo, os nossos soldados e civis", descreveu.

Zelensky acrescentou que, embora compreenda que os EUA estão a caminho das eleições, espera que seja possível chegar a um acordo.

"Se mudarem de ideias, é um grande problema para nós", reconheceu.

"Pedi ao presidente Biden que me ajudasse a mim e ao povo ucraniano e que, por favor, se reunissem uns com os outros, democratas e republicanos, para chegarem a um acordo."

Questionado por Collins sobre a afirmação do senador norte-americano JD Vance de que o resultado da guerra não se alterará mesmo que a Ucrânia receba o dinheiro, Zelensky disse que Vance "não compreende o que se está a passar" no terreno.

"Para o compreender, é preciso ir à linha da frente e ver o que se está a passar sem este apoio. E ele compreenderá que milhões de pessoas serão mortas", acrescentou.

"Ele não o compreende, claro, Deus vos abençoe por não terem a guerra no vosso território."

*Andy Carey, Madalena Araújo e Victoria Butenko contribuíram para este artigo

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