Tom Cridland tem uma marca de roupa com garantia de 30 anos, trabalha em relações públicas e já foi alcoólico. Um dia decidiu cantar as canções de Elton John e foi um sucesso

29 dez 2023, 08:00
Tom Cridland em "The Rocket Man Experience" (DR)

O músico britânico apresenta esta sexta-feira, no Casino Estoril, o espetáculo "The Rocket Man Experience". À CNN Portugal recorda as férias de verão em Portugal, o país natal da sua mãe, como criou t-shirts que duram 30 anos, a batalha pela sobriedade e a importância da música na sua vida. Durante a pandemia, decidiu aprender sozinho a tocar no piano todas as canções de Elton John e transformar um 'hobby' no seu negócio principal

Em palco, Tom Cridland usa um fato colorido e tens uns óculos de sol exuberantes. Toca piano, canta, dança, improvisa. E, se fecharmos os olhos, é provável que nem notemos a diferença: podia ser Elton John a cantar "Crocodile Rock" ou "Candle In the Wind". Cridland diz que não se trata de uma imitação, mas de um tributo: "Eu não me esforço para imitar Elton", garante. "Uso uma roupa ao estilo de Elton, mas não tento imitá-lo, não uso perucas nem nada disso. Sou muito preciso na música, ele improvisa muito nos concertos e eu improviso da forma como ele faria. Mas não faço uma voz especial, a minha voz é naturalmente parecida com a dele e eu aproveito isso. Não acho que seja uma imitação, é mais um fã a cantar as canções de alguém que admira", explica.

Esta sexta-feira, Tom Cridland apresenta o espetáculo "The Rocket Man Experience" no palco do Casino Estoril, e garante será "muito parecido a um concerto de Elton John": "É 100% ao vivo, sem gravações. E são só hits, uns atrás dos outros". "Tocamos todos os sucessos - "Goodbye Yellow Brick Road", "Your Song", "Lion King" - e eu adoro. As pessoas sabem as letras e percebemos que estão a divertir-se, por isso também é bom para quem está no palco", assume o músico britânico.

Tom é um fã antigo de Elton John, mas só há pouco tempo decidiu fazer desta paixão a sua atividade principal. Para aqui chegar, foi preciso percorrer um longo caminho - que começou precisamente no Estoril, em Portugal, onde nasceu a sua mãe. Nos anos 70, a mãe foi para Inglaterra, apaixonou-se por um inglês e tiveram três filhos. Isso quer dizer que Tom fala português? "Só um bocadinho", responde, mas está a ser modesto pois a verdade é que, apesar do sotaque, consegue comunicar perfeitamente em português. "Durante a infância vinha a Portugal pelo menos três vezes por ano para ver a família, brincar com os primos e viajar um pouco pelo país", conta. Tem memórias de Cascais, de Campo de Ourique, do Alentejo. Formou-se em francês e português: "Tive uma boa nota mas só porque o curso tinha muitas disciplinas de história e literatura e podíamos responder em inglês", garante.

Na faculdade, conheceu Deborah. E deste então não mais se separaram. Estão juntos há 14 anos, mas só casaram há três meses, em Itália, país de origem da família materna dela. São inseparáveis, Deborah conhece-o melhor do que ninguém. E são também parceiros nos negócios: "Trabalhamos juntos. A Debb faz a parte séria e eu faço a parte divertida", indica Tom. E são muitos os negócios em que ele se mete. Tom Cridland é um empreendedor, está sempre a procurar coisas para fazer.

Após a licenciatura, tentou ser contabilista: "Desisti ao fim de seis semanas. Odiei. Mas foi muito stressante porque tinha de pagar a renda, por isso decidi criar o meu próprio negócio e tive a ideia de criar uma empresa de vestuário", recorda. "Ao princípio só fazia calças, em diferentes cores, não era muito interessante. As duas coisas que mudaram a empresa foram: primeiro, trabalhar com o Nigel Olsson e, depois, dar a garantia de 30 anos. Foi isso que fez com que o negócio descolasse."

Quando estava a tentar perceber qual seria a melhor forma de promover a sua roupa, Tom conheceu Nigel Olsson, baterista da banda de Elton John, que se tornou um dos principais clientes e um dos grandes divulgadores da marca. "Há cerca de dez anos, comecei a trabalhar com o Nigel. Andava à procura de alguém que me pudesse ajudar com a marca de roupa, alguém que fosse cool mas que não fosse muito famoso, porque se fosse uma celebridade não teria interesse em trabalhar com uma startup. Foi aí que me lembrei da banda de Elton John. Ele gostou da nossa roupa. Fizemos fatos para alguns dos concertos. E acabámos por ficar amigos."

Foi em 2015 que teve a ideia de dar uma garantia de 30 anos para as peças roupa (t-shirts e sweatshirts, casacos e calças). "Foi uma forma de nos diferenciarmos do resto da produção. O mercado está cheio de 'fast fashion' e nós quisemos dar às pessoas algo que fosse mais sustentável, que não tivesse que se deitar fora ao fim de uns meses. E funcionou bem. Fazemos peças clássicas, que não passam de moda. Toda a gente precisa de uma t-shirt branca ou azul", explica. "Sou eu que desenho as peças e temos uma unidade de produção na Serra da Estrela. Foi ideia da minha mãe, que disse que tínhamos de fabricar a roupa em Portugal. Então, eu descobri que havia alguns fornecedores portugueses que, de facto, se poderiam adequar ao nosso negócio. Porque nós precisávamos de poucos exemplares, as nossas encomendas são muito pequenas."

A Tom Cridland Clothing acabou por ter grande sucesso. Começou como uma startup, com um empréstimo de 6 mil libras, e em 2017 já valia um milhão de libras. Nessa altura, Tom começou a ser solicitado para dar entrevistas e palestras para ensinar outros empresários a expandirem o seu negócio, e foi daí que surgiu a ideia de criar uma empresa de relações públicas. Ambas as empresas - de roupa e de relações públicas - mantêm-se em atividade, apesar de, entretanto, Tom se ter tornado conhecido por outras atividades.

Nesta altura, apesar de todo o sucesso, Tom Cridland lidava com um sério problema de adição ao álcool. "A determinada altura decidi parar de beber. E tive muita sorte porque consegui fazê-lo sem necessitar de ir para uma clínica. Depois disso, tudo na minha vida melhorou, podia fazer exercício, era mais saudável, tornei-me uma pessoa melhor", afirma. Neste caminho para a sobriedade, que ocorreu em 2017, a música acabou por ter um papel importante. "Para além do álcool, a música era a única coisa que me divertia. Por isso, decidi dedicar-me à música, aprender a tocar bateria, como Nigel, e começar a tocar com um amigo. Formámos um pequeno grupo, The Tomicks, e começámos a fazer concertos em bares e pequenos festivais pelo Reino Unido. Isto salvou-me, deu-me um objetivo. A música ajudou-me a ficar sóbrio", admite.

Tom confessa que tem uma "personalidade aditiva": quando decide dedicar-se a algo de que gosta muito não consegue parar, tem de fazer mais, de conseguir mais, é assim que funciona. "A música tornou-se um vício", diz. "Para se ter muito sucesso tem de se gostar muito do que se faz. Há hobbies que não permitem ganhar dinheiro. Mas o ideal é transformar um desses hobbies no teu trabalho."Foi o que ele fez. E conta como no livro livro "Million Dollar Addict" - onde explica "como parar de beber e como começar a enriquecer", e como tudo isto só é possível se houver relacionamentos importantes. No caso dele, foi determinante a presença de Deborah, que o apoiou em todas as aventuras.

Tom tocava bateria e cantava mas não estava completamente satisfeito. "Ser baterista não é muito prático, não dá para viajar com a bateria de um lado para o outro. Além disso, do ponto de vista do negócio não estava a correr muito bem", conta. "Então lembrei-me de tocar as músicas de Elton John, que eu adoro e que toda a gente conhece. Por causa do Nigel, fui a tantos concertos do Elton John, que aprendi as letras e passei a conhecer as músicas todas. E também percebi como é importante ter uma banda que toca ao vivo, todos os concertos são diferentes. Eles não usam gravações. E isso é muito fascinante. Comecei a descobrir a história do Elton John, a sua importância nos anos 70. Ao longo destes anos todos, eles faziam mais de 120 concertos por ano, é uma loucura."

"Gosto muito das melodias e do facto de as músicas terem vários acordes. É uma música muito complexa. Gosto de praticamente todas as canções do Elton, mas as minhas preferidas são "Funeral for a Friend" e "I Guess That's Why They Call It the Blues". A de que gosto menos é "Cold Heart", que ele fez com a Dua Lipa, e que é mais um remix, não parece tanto uma canção de Elton John", diz.

Tom decidiu interpretar os temas dele, tocar piano e ter uma banda a acompanhá-lo. "Gostei dessa ideia e depois só tive de perceber como pô-la em prática. Tinha de aprender a tocar piano. Mesmo sem o confinamento, eu teria aprendido a tocar, porque já tinha decidido fazê-lo." Mas foi durante a pandemia, quando estava em fechado em casa com Deborah, que se dedicou a essa tarefa. Aprendeu sozinho, treinando até conseguir todas as músicas de Elton John. "Não estudei música nem tinha qualquer talento. Mas trabalhei para isso. Comecei a tocar piano durante a pandemia de covid-19. Os músicos da minha banda são todos profissionais, estudaram música e vivem para a música. Para mim é mais um hobby. Mas eu ensaiei muito para conseguir tocar. Eu só sei estas músicas. Não me peçam para tocar Beethoven. Não sei ler música, não sei teoria", sublinha, entre gargalhadas.

Durante a pandemia também iniciou um podcast, "Greatest Music of All Time", no qual entrevistava músicos e outras celebridades, mas assim que o confinamento terminou só pensava em como poderia pôr de pé o seu tributo a Elton John. "Treinei muito e depois decidi que tinha de começar a tocar ao vivo, ainda que não estivesse preparado. Não há nada como tocar para melhorar." O projeto ganhou asas, finalmente, quando Tom se juntou aos Stylistics: nos últimos dois anos, o grupo tem andado em digressão e assim vai continuar, pelo menos durante 2024, enchendo salas com a música de Elton John. "Eu adoro estar em palco. E se isso pode ser um negócio rentável, melhor ainda. É um privilégio enorme poder fazer isto", admite Tom Cridland.

Empreendedor como é, Tom não sabe durante quanto tempo vai continuar a fazer o tributo a Elton John. "Preciso abrandar", reconhece. Fazer digressões é bom mas "gostava de ter filhos, dedicar-me mais à família", quem sabe até gravar um álbum com músicas originais. "Alguma coisa há de acontecer", diz, entusiasmado. Por agora, é "The Rocket Man".

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