Em ambos os casos há formulários que avisam para o risco de morte nas viagens, mas os reguladores têm papéis diferentes
Descer até ao fundo mar ou subir até ao espaço, ambas atividades altamente arriscadas e que requerem aos passageiros uma coisa: a assinatura de um termo de responsabilidade em que reconhecem os riscos associados, entre eles a morte.
Os passageiros que seguiam no Titan tiveram de ler e assinar uma nota de quatro páginas, nas quais era referido que a viagem para visitar os destroços do Titanic era “experimental”. Nesse mesmo documento a palavra morte vinha escrita por três vezes, mas os cinco passageiros que morreram a bordo do submersível decidiram ir na mesma. Como noutras viagens realizadas pela OceanGate, aos turistas foi explicado que o processo podia acabar como uma garrafa de coca-cola a ser esmagada por um martelo ou outras visões ilustrativas do perigo.
O antigo astronauta da NASA Leroy Chiao explicou num artigo publicado na CNN Internacional que “os passageiros devem tirar um tempo para se informarem sobre potenciais riscos e depois decidirem se querem ou não fazer parte”.
O também antigo comandante da Estação Espacial Internacional lembrou que isso faz parte do processo de escolha para viagens extremas. Algo que acontece também para ir ao espaço, e até com mais segurança.
É que, ao contrário do que aconteceu com o Titan, todos os voos espaciais comerciais têm de cumprir requisitos exigidos pelos Estados Unidos. É mesmo obrigatório por lei federal que se dê um formulário de consentimento aos passageiros de naves de empresas como a SpaceX ou a Blue Origin, o que não aconteceu com a OceanGate, apesar de o formulário ter sido entregue.
“Os operadores de voos comerciais devem avisar a tripulação e os participantes de voos espaciais por escrito de que o governo dos Estados Unidos não tem veículos certificados para lançamentos ou reentradas [na Terra] seguros ao ponto de levarem humanos”, pode ler-se numa nota da Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla original).
As empresas que operam voos espaciais são ainda obrigadas a garantir que tudo é explicado aos passageiros, incluindo as possibilidades de acidentes que resultem em “ferimentos graves, morte, deficiências ou total ou parcial perda de funções físicas e mentais”. A FAA garante ainda que os referidos consentimentos foram mesmo assinados antes de autorizar as descolagens.
Para já não é claro se os formulários de consentimento do Titan corresponderiam às regras da FAA, que são mais apertadas do que as das organizações que fiscalizam as viagens ao fundo do oceano.
Acresce ainda que a FAA regula todas as operações de lançamento e de reentrada das naves espaciais em órbita, garantindo a segurança de toda a tripulação. No caso do Titan nenhuma autoridade teve essa responsabilidade.