A manobra "borrego": a explicação profissional para a aterragem falhada em Londres de voo da TAP

18 fev 2022, 20:16

Esta foi uma manhã atípica no aeroporto de Londres, devido às fracas condições provocadas pela tempestade Eunice. A aterragem de um voo da TAP, que estava marcada para as 11.05, não aconteceu e o avião foi forçado a desviar-se para Paris. As imagens são impressionantes

"O comandante é o principal responsável pela segurança dos passageiros, desde o início até ao fim do voo", começa por dizer Alfredo Mendonça. E, de acordo com o presidente da Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea, deve ter sempre em conta dois tipos de segurança: security, que consiste na proteção dos passageiros em situações como terrorismo, e safety, que passa pela segurança do próprio voo - e é neste ponto que deve ser seguida uma série de critérios antes da descolagem.

"Durante a preparação, é imprescindível a confirmação do peso do avião, em função das condições meteorológicas e do destino", explica o piloto. Além disso, tem de haver combustível "mais do que suficiente" para dar resposta a qualquer tipo de complicações que possam surgir durante a viagem, seja um desvio de rota ou ficar no ar em espera, que por sua vez deve rondar os 30 minutos e uma distância de 1500 pés. No caso desta manhã, que envolveu o voo TP1354 da TAP, com ligação entre Lisboa e Londres, Alfredo Mendonça garante que o depósito se encontrava suficientemente cheio para um trajeto mais longo. "Fez uma descida para tentar aterrar, mas não conseguiu face aos ventos fortes da tempestade", o que levou o comandante a esperar até perceber que a alternativa mais adequada seria seguir para Paris. A esta manobra os profissionais da aviação chamam "borrego". 

As regras exigem que "tudo seja calculado previamente", e tal envolve a previsão "ao minuto" das condições atmosféricas, "sobretudo quando se trata de viagens de 12 horas, ao passo que para Londres são cerca de 3". "Quanto mais perto estivermos do acontecimento, melhor", conclui. O destino alternativo também está incluído no plano de voo que é efetuado antecipadamente. Desta forma, se o piloto perder as comunicações no ar e não for capaz de aterrar, as equipas em terra já estão ao corrente do que se passará a seguir.

"É uma das coisas que não conseguimos evitar"

Dentro do avião é o chamado pilot not flying, o comandante, que decide os passos a seguir. “É obrigatório por lei, a menos que esteja o Presidente da República a bordo”, graceja Alfredo Mendonça. Já o copiloto, ou pilot flying, é quem dirige. O controlo de tráfego aéreo não permite que estejam sozinhos no ar, mas o responsável deve comunicar toda e qualquer alteração que tencione fazer.

À semelhança do que acontece durante a tempestade Eunice, se o avião não conseguir aterrar e ultrapassar o período de espera, que vai depender do combustível, a alternativa passa por seguir a rota previamente definida para estas situações, mas o comandante pode ainda solicitar um trajeto mais direto. “Se estiver aflito, é declarada emergência e passa à frente”.

E os passageiros? É seguidamente transmitida a informação sobre o estado meteorológico e o que se irá passar. Numa situação em que uma pessoa esteja aterrorizada, “o pessoal de cabine foi treinado para lhe dar conforto” e, acrescenta, “desde o 11 de setembro que os pilotos têm a porta fechada e bloqueada, não podem sair para reconfortar ninguém”.

Problemas sérios não costumam surgir mas, já em terra, a alteração das rotas "cria um efeito bola de neve". "Os passageiros são forçados a esperar por vezes dois ou três dias e precisam de hotéis e aviões maiores", algo que acontece com mais frequência no Funchal devido ao mau tempo. Também é comum na altura do Inverno, com grandes nevoeiros. 

No final, a questão que se impõe é: Conseguem evitar? O presidente da APPLA diz que não, "meteoreologia é uma das coisas que não conseguimos evitar", mas "há muitas soluções e tem de ser analisado caso a caso". Por outro lado, considera que "há aviões mais capazes do que outros" e que conseguem, por exemplo, aterrar sem visibilidade. "O próprio avião tem de ter um instrument landing system", um sistema de aproximação por instrumentos que fornece orientação durante a aproximação a uma pista. Requer mais dinheiro? É certo que sim, mas para o piloto "nada pode ser mais caro do que a segurança de todos". 

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