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Professora da Iscte Business School

Políticas verdes: é preciso trabalhar o pilar social da sustentabilidade!

7 set 2023, 12:29

Decorrem até 8 de setembro em Lisboa duas conferências sucessivas de dimensão mundial sobre a “sustentabilidade”, “conhecimento” e o “capital intelectual”. A vigésima segunda European Conference on Research Methodology for Business and Management Studies, tal como a vigésima quarta European Conference on Knowledge Management, estão a trazer ao Iscte – Instituto Universitário de Lisboa alguns dos maiores nomes do pensamento europeu, americano e asiático sobre estes temas.

O ponto de partida para a discussão é que a gestão do capital intelectual permite tomar decisões de investimento mais conscientes, criando valor acrescentado para as organizações e para os países. Esta é a chave para criar riqueza e para construir uma sociedade mais sustentável, na qual a riqueza esteja ao serviço do bem comum.

Um dos primeiros oradores, Luiz de Mello, luso-brasileiro que é diretor de estudos políticos do Departamento de Economia da OCDE em Paris, recordou a exigência das metas do Acordo de Paris –reduzir 55% das emissões de carbono até 2030 e acabar com as emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2050. Chamou também a atenção para a necessidade de os governos recolherem melhor informação para minimizarem os efeitos económicos de uma descarbonização acelerada e, sobretudo, para recolherem a aceitação da sociedade e a sua participação ativa e empenhada neste processo.

É uma visão lúcida, essa de que os governos estão condenados ao insucesso nas suas políticas públicas se não basearem as decisões em informação de qualidade, produzida com as regras próprias do processo científico. Ora, o que a ciência nos diz é que, quer as famílias, quer as empresas, reagem muito melhor a estímulos positivos do que a negativos.

Apesar da relativa eficácia do aumento de impostos e de regulamentos mais apertados nos consumos energéticos, o que é facto é que, quer o acesso em tempo real à informação (leitura dos consumos hora a hora, por exemplo), quer os incentivos financeiros à reconversão tecnológica (subsídios às indústrias ou à eficiência energética nas habitações), produzem resultados muito superiores.

Isto deve orientar o nosso foco para a necessidade de trabalhar muito bem o pilar social nas tentativas de conter a emergência climática. Não só para escolher os estímulos certos a que as diferentes comunidades reagem, mas também para lhes dar as condições mínimas de vida e de conforto para que estas não se sintam ameaçadas pelo processo. Pessoas e famílias acossadas por uma escalada inflacionária que lhes diminui o poder de compra estão, naturalmente, menos disponíveis para aderir a pequenos gestos importantes para o combate às alterações climáticas. Isto é verdade em Portugal, na China onde um quinto dos jovens está desempregado, ou num Brasil que tarda em sair da crise em que caiu durante a pandemia da Covid-19.

São precisas políticas públicas que tornem evidente para o cidadão comum o potencial imenso de crescimento que a economia verde oferece, desde logo através dos ganhos de eficiência que o desenvolvimento tecnológico e a transição digital proporcionam. O processo de descarbonização não tem de implicar, nem recessão económica, nem desemprego. Pelo contrário, há imensos investimentos a fazer e uma necessidade da mesma ordem de formar trabalhadores qualificados para a nova geração de empregos que todos os setores irão criar e que a grande maioria das empresas irá necessitar.

O investimento no pilar social da transição verde deve começar na melhoria da informação ao dispor dos cidadãos – tal como deve começar na informação ao dispor dos governos e dos decisores empresariais.

As pressões económicas, sociais e ambientais estão a desafiar as organizações, as cidades, as regiões e os países pela necessidade de empreender esforços para alcançar desenvolvimento sustentável. Os mecanismos de tomada de decisão numa economia simultaneamente verde e digital implicam equilibrar os aspetos económicos, ambientais e sociais, única forma de uma governação transparente e inclusiva alcançar os seus objetivos.

A gestão do capital intelectual assume-se, neste processo, como um fator decisivo para a construção de uma sociedade mais sustentável. Os países com melhores indicadores de gestão do capital intelectual são também aqueles que têm melhores indicadores de sustentabilidade. As políticas verdes têm de produzir reputação, competitividade, riqueza e sustentabilidade que resultem em benefício dos cidadãos e da sua qualidade de vida.

Portugal está a ficar para atrás na posição de referência de gestão do capital intelectual. A sociedade portuguesa tem um enorme potencial, mas está a perder riqueza por não conseguir gerir e reter este ativo, o que terá um grande impacto no futuro. Será um preço demasiado alto para ser pago pelas próximas gerações.

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