Comandante russo morto enquanto fazia jogging terá sido seguido através de app de corrida

CNN , Mariya Knight, Olga Voitovych, Andrew Carey, Tim Lister e Josh Pennington
12 jul 2023, 08:00
Stanislav Rzhitsky foi baleado mortalmente enquanto corria. Strava

Serviços secretos da Ucrânia revelaram como Rzhitsky foi aparentemente baleado, numa declaração invulgarmente detalhada no Telegram. Mas não assumiram qualquer responsabilidade pela morte do comandante

Um comandante de submarino russo que foi morto a tiro enquanto fazia jogging na segunda-feira pode ter sido seguido através de uma popular aplicação de corrida, segundo os meios de comunicação social locais.

Stanislav Rzhitsky foi morto na cidade de Krasnodar, no sul do país, por uma "pessoa desconhecida", informou a agência noticiosa estatal TASS, acrescentando que "o motivo do crime está a ser investigado".

Os suspeitos da morte de Rzhitsky já foram identificados, segundo a TASS. Os meios de comunicação social russos noticiaram mais tarde que o assassino de Rzhitsky poderá ter utilizado a Strava, uma aplicação amplamente disponível utilizada por corredores e ciclistas, para seguir os seus movimentos.

Os percursos de corrida e de ciclismo de Rzhitsky aparecem numa conta em seu nome naquela aplicação. Um dos seus circuitos regulares de jogging, que realizava quando trabalhava em Krasnodar, inclui o parque onde foi morto.

Segundo a publicação online Tsargrad, o atacante "planeou o assassinato com tanto cuidado que o momento do ataque não apareceu em nenhuma câmara de videovigiância".

"O assassino esperou no parque perto do complexo desportivo 'Olympus', onde Rzhitsky fazia regularmente corridas matinais. O homem morreu no local, o atirador está em fuga."

O perfil Strava em nome de Rzhitsky mostra que, em 2014, também costumava andar de bicicleta em Sevastopol, onde está sediada a frota russa do Mar Negro.

A CNN não pôde confirmar de forma independente a autenticidade do perfil do Strava, mas é possível ver que inclui muitas fotografias dele.

Os serviços secretos da Ucrânia revelaram como Rzhitsky foi aparentemente baleado, numa declaração invulgarmente detalhada no Telegram. Mas não assumiram qualquer responsabilidade pela morte do comandante.

"O comandante do submarino estava a fazer jogging no parque do '30.º Aniversário da Vitória' em Krasnodar. Por volta das 6 da manhã, foi atingido sete vezes com uma pistola Makarov. Em consequência dos ferimentos de bala, Rzhitsky morreu no local", refere o comunicado.

"Devido à chuva intensa, o parque estava deserto, pelo que não houve testemunhas que pudessem fornecer pormenores ou identificar o atacante."

Rzhitsky comandava um dos submarinos russos da classe Kilo da frota do Mar Negro, capaz de disparar mísseis de cruzeiro Kalibr, de acordo com a informação ucraniana e notícias russas.

Os ataques com mísseis lançados por submarinos têm sido responsáveis por alguns dos mais destrutivos ataques a cidades ucranianas, incluindo um, há quase um ano, na cidade central de Vinnytsia, que matou dezenas de pessoas, incluindo três crianças.

Uma declaração posterior do departamento de comunicações estratégicas das forças armadas ucranianas procurou - à primeira vista - minimizar as sugestões de que Kiev poderia ter realizado o ataque.

Numa linguagem que primava pelo desprendimento, talvez mesmo pelo sarcasmo, a declaração dizia que Rzhitsky tinha chegado à conclusão de que os ataques com mísseis que matavam civis eram ineficazes.

"Obviamente, foi eliminado pelos seus próprios homens por se recusar a continuar a cumprir as ordens de combate do seu comando relativamente aos ataques com mísseis contra cidades ucranianas pacíficas", conclui o comunicado. 

A família de Rzhitsky garantiu que ele "não participou" na guerra contra a Ucrânia "de forma alguma" e que tinha tentado deixar as forças armadas russas em 2021.

Rzhitsky apresentou um pedido de demissão das Forças Armadas russas em dezembro de 2021. O seu pai disse que ele estava em Sevastopol nessa altura e que não foi para o mar. O pai acrescentou que, antes da demissão, o filho tinha comandado um submarino baseado em Sebastopol.

Em agosto de 2022, já com a guerra em curso há vários meses, o comandante foi finalmente despedido e mais tarde conseguiu um emprego na administração de Krasnodar.

Os pais de Rzhitsky contaram que falaram com o filho no dia anterior à sua morte e que ele estava "de ótimo humor", segundo o meio de comunicação russo Izvestia.

"Se ele tivesse alguma suspeita, poderia ter mudado os planos, as rotas e assim por diante. Mas ele não disse nada", afirmou o pai.

O Comité de Investigação da Rússia já pediu um relatório sobre o andamento da investigação da morte de Rzhitsky.

Segundo alto funcionário russo morto

Nos últimos meses, a guerra na Ucrânia estendeu-se à fronteira com a Rússia, com relatos de intensos ataques de bombardeamentos, ataques de drones e breves incursões em aldeias, numa aparente tentativa de desestabilizar a vacilante invasão de Moscovo.

Segundo as autoridades ucranianas, um alto comandante russo foi morto perto da cidade de Berdiansk, ocupada pelos russos, na região de Zaporizhzhia, no sudeste do país.

O conselheiro de Vadym Boichenko, o presidente da câmara ucraniana de Mariupol, disse que o tenente-general Oleg Tsokov foi morto nesta terça-feira. O presidente da Câmara não reside atualmente em Mariupol, que está sob controlo russo.

A CNN não está em condições de verificar de forma independente as informações sobre a causa da morte de Tsokov - o que privaria a Rússia de um dos seus generais mais experientes. Tsokov seria também o general russo mais graduado a ser morto na Ucrânia.

No entanto, um canal russo do Telegram, o Military Informer, escreveu na terça-feira que um "ataque de mísseis de cruzeiro britânicos Storm Shadow no posto de comando de reserva do 58.º Exército perto de Berdyansk" matou "o vice-comandante do Distrito Militar do Sul, tenente-general Oleg Tsokov".

Tsokov, 51 anos, parece ter sido uma estrela em ascensão nas forças armadas russas. Em 2021, discursou numa cerimónia no Kremlin, com a presença do presidente Vladimir Putin, para cadetes militares. Agradecendo a Putin por impulsionar a modernização das forças armadas da Rússia, Tsokov disse: "Para nós, ser oficial não é apenas um serviço. É a vocação e o significado de toda a vida, a vontade de sacrificar a vida pela nossa grande Pátria".

No meio de uma turbulência persistente na estrutura de comando da Rússia, Tsokov continuou a ser promovido durante a campanha. Um decreto presidencial de fevereiro promoveu-o ao posto de tenente-general.

Permaneceu nas forças armadas russas, apesar de os bloguistas militares russos terem noticiado que tinha sido ferido em setembro passado na zona de Svatove, em Kharkiv.

Nessa altura, parece ter sido o comandante do 20.º Exército de Guardas, tendo sido recentemente promovido do comando da 144.ª Divisão de Fuzileiros Motorizados.

Analistas independentes e o próprio registo da CNN indicam que a Rússia perdeu cerca de dez generais em combate desde o início da invasão.

*Natasha Bertrand, Katie Bo Lillis, Radina Gigova e Allegra Goodwin contribuíram para este artigo

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