Comandante checheno procurado pela Ucrânia por crimes de guerra está na Turquia a liderar ajuda russa

CNN , Tim Lister, Victoria Butenko e Josh Pennington
9 fev 2023, 22:18
Daniil Martynov, à esquerda, é procurado pela Ucrânia por crimes de guerra. Créditos: Igor' Ivanko/SIPAPRE/Sipa USA/AP

Daniil Martynov, homem próximo do líder checheno Ramzan Kadyrov, está presentemente ao serviço do Ministério dos Serviços de Emergência da Rússia

Um comandante checheno procurado pela Ucrânia por alegados crimes de guerra cometidos nos primeiros meses da invasão está a liderar a ajuda russa na Turquia após o sismo.

Daniil Martynov esteve em vários locais da Ucrânia, concretamente nas primeiras semanas da guerra. É considerado próximo do líder checheno Ramzan Kadyrov e apareceu, inclusive, em vários vídeos publicados por Kadyrov no seu canal de Telegram.

Nos últimos dias, deu entrevistas a meios de comunicação russos desde a Turquia, depois de ter sido nomeado conselheiro para o Ministério dos Serviços de Emergência da Rússia.

As autoridades turcas estão numa corrida contra o tempo para resgatar os sobreviventes dos escombros após o terramoto de magnitude 7,8, que já causou milhares de mortos e o colapso de milhares de edifícios na Turquia e na Síria. Dezenas de países enviaram ajuda para as operações de socorro.

Em agosto último, os serviços de segurança ucranianos (SBU) alegaram que Martynov tinha cometido uma série de crimes de guerra na cidade de Borodyanka, a norte de Kiev.

Uma mulher empurra a sua bicicleta numa zona residencial de Borodyanka fortemente atingida pelas tropas russas, em abril passado. Créditos: Alexey Furman/Getty Images

O SBU descreveu Martynov como o chefe-adjunto das tropas da Guarda Nacional da República da Chechénia e disse que ele era "responsável pelo treino do destacamento de segurança pessoal de Kadyrov".

Alegou ainda que Martynov liderou a ocupação do hospital psiquiátrico de Borodyanka em março e que, por ordem sua, "quase 500 pessoas foram feitas reféns (entre pacientes, funcionários e moradores), incluindo mais de uma centena de pacientes acamados".

O hospital foi "transformado numa posição de tiro dos ocupantes", segundo o SBU, e Martynov foi acusado de "violação das leis e costumes da guerra, e abuso de prisioneiros de guerra ou civis".

A CNN noticiou a ocupação do hospital em março passado.

A diretora do hospital psiquiátrico, Maryna Hanitska, contou ao site russo independente Meduza, no ano passado, que os russos tinham "colocado minas" à volta da unidade hospitalar na primeira semana de março. "E assistimos enquanto eles escavavam trincheiras", acrescentou.

"Um soldado pôs-se à minha frente e apresentou-se. Ele disse que era Daniil Martynov, um coronel do exército russo. E disse que se nos comportássemos, viveríamos - não nos matariam e não nos fariam mal", descreveu Hanitska ao jornal online.

Hanitska afirmou também que Martynov lhe disse para agradecer publicamente a presença deles naquele local: "Agora vamos gravar um pequeno vídeo, vai agradecer-nos e será livre, estará sob a proteção do presidente russo, Vladimir Putin."

"Perguntei: 'porque é que tenho de estar agradecida? Ele inclinou-se perto da minha cara, olhou-me nos olhos, e disse: 'Pelo facto de estar viva'."

A CNN não pôde confirmar de forma independente que foi Martynov quem falou com a diretora do hospital.

Não há qualquer registo de que Martynov tenha respondido às acusações da Ucrânia. Mas, em agosto passado, Kadyrov refutou as alegações, sublinhando: "Em relação a Martynov, ele não trabalha para nós. Está a trabalhar com o Ministério dos Serviços de Emergência russo."

Numa gravação de voz, Kadyrov desafiou mesmo os serviços de segurança ucranianos: "Ok, SBU, digam-nos apenas a hora e o lugar e nós iremos descobrir quem são os verdadeiros criminosos."

Martynov foi sancionado em 2020 pelo Departamento do Tesouro norte-americano por "graves violações dos direitos humanos na Rússia". Disse que era "um conselheiro de segurança pessoal para Kadyrov, [e] agiu ou supostamente agiu em nome, direta ou indiretamente, de Kadyrov".

Vários vídeos partilhados no canal de Telegram de Kadyrov mostram Martynov em várias zonas ocupadas da Ucrânia.

Num deles é apresentado como membro das forças especiais chechenas na Ucrânia.

Entre os locais onde foi filmado estava a cidade de Popasna, no Lugansk, que foi arrasada por bombardeamentos russos.

É também visto na cidade de Lugansk e a visitar soldados feridos num local não revelado.

A CNN está a contactar o Ministério dos Serviços de Emergência da Rússia para comentar o papel de Martynov no ministério, bem como os serviços de segurança da Ucrânia.

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