«Este país não é para velhos»

24 jan 2008, 23:07
Arquivo

O filme não reflecte a realidade portuguesa, mas o título encaixa na perfeição. Mariana precisa de cuidar da mãe, incapacitada após um aneurisma cerebral. Mas não pode faltar mais do que 15 dias por ano ao trabalho. Procurar um lar público não é opção com listas de espera de dois anos: «Cenário é catastrófico», diz CGTP

O nome do filme dos irmãos Coen não reflecte esta realidade. Mas o título encaixa como uma luva quando se fala na assistência a membros do agregado familiar. Sobretudo quando falamos na assistência a ascendentes, cujas benesses se resumem a 15 dias de faltas justificadas por ano, sem direito a remuneração.

Idosos abandonados nas urgências


Envelhecimento da população atinge pico em 2030


«O trabalhador tem direito a faltar ao trabalho até 15 dias por ano para prestar assistência inadiável e imprescindível em caso de doença ou acidente» do familiar. O artigo 203.º da Regulamentação do Código de Trabalho explica as circunstâncias e o 204 tira as dúvidas quanto à remuneração desses dias: zero.

Como cuidar da minha mãe?


Mariana M. vasculha agora na legislação o que não poderá encontrar: uma forma de cuidar da mãe que, pouco depois do Natal, sofreu um aneurisma cerebral que a deixou 15 dias num hospital. Agora, em casa, necessita de vigilância 24 horas por dia. Sem noção do tempo ou do espaço, mas com mobilidade que lhe permite tentar sair de casa, Mariana explica que a sua mãe «necessita de cuidados permanentes», que passam agora pelas mãos de neuropsiquiatras e terapeutas ocupacionais.

Lares públicos: «Cenário catastrófico»


Para Mariana é claro. «O que o Estado quer é que a minha mãe vá para um lar. Assim eu já não falto ao trabalho». Mas sobre os lares públicos, Maria do Carmo Tavares, dirigente do CGTP, traça um cenário «catastrófico. Para uma população de dois milhões de habitantes, no distrito de Lisboa, há 18 mil lugares». Vagas, não existem. «Os lares estão superlotados e o apoio domiciliário, que sempre podem ajudar quem tem idosos ao seu cuidado, apresentam um défice avassalador».

O país está a ficar «velho» e ao contrário da sua mãe, Mariana trabalha fora desde o dia em que saiu da faculdade. «A família não está estruturada para cuidar dos seus velhos
, os números mostram que a população está a envelhecer e apoio do Estado não corresponde às necessidades», explica Maria do Carmo Tavares ao PortugalDiário
.

E o envelhecimento da população portuguesa é claro: apesar de termos passado de sete para dez milhões de pessoas, desde a década de 30 do século passado, a subida explica-se com o envelhecimento e não com o aumento da natalidade, a mais baixa de sempre. Mas para a velhice dos pais, os filhos não encontram solução, porque «este país não está para velhos».

Relacionados

Patrocinados