A socialista Alexandra Leitão pede ao Governo que evite o "fim do SNS": "Não será preciso dar tudo o que os médicos pedem, mas também não é ficar tão aquém relativamente ao que eles pedem"

6 nov 2023, 11:31

Ex-ministra teme perda "irrecuperável" do "grande símbolo do Estado Social" em Portugal - o SNS - caso não haja acordo entre o Governo e os médicos

O braço de ferro entre médicos e Governo - que se prolonga há mais de um ano entre negociações que terminam sem acordos e consequentes greves nos hospitais . é "provavelmente o maior desafio que este Governo terá de enfrentar", antecipa Alexandra Leitão. A antiga ministra socialista da Administração Pública diz mesmo que, se as partes não chegarem a acordo, "podemos ter prazo o fim do SNS".

"É preciso que se encontre uma plataforma de entendimento com os médicos. Não será dar tudo o que eles pedem, mas também não é ficar tão aquém relativamente ao que eles pedem, sob pena de o grande símbolo do Estado Social de Portugal se vir a perder. E isso será irrecuperável", disse Alexandra Leitão no programa "O Princípio da Incerteza", emitido este domingo na CNN Portugal.

Alexandra Leitão defende uma "reestruturação" do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que, nas suas palavras, está hoje "assente na realização de horas extraordinárias por parte dos profissionais de saúde". Mas este problema não surgiu agora, vinca a antiga ministra, que argumenta que a atual situação no SNS se deve a um "problema estrutural" que é a falta de médicos. "Diga a Ordem dos Médicos o que disser", salienta, baseando-se em números que observou em "vários estudos" e que demonstram que "no ano letivo de 1979/80 havia 800 vagas em medicina", em contraste com as 1.500 vagas abertas este ano.

Ora, esses médicos, que são "precisamente as pessoas necessárias para formar outros especialistas", têm hoje cerca de 50 anos, observa Alexandra Leitão, argumentando, por isso, que hoje não se consegue formar especialistas em Portugal "porque não temos quem os forme".

"Dir-se-á: ‘Mas hoje já saem 1.500 e portanto isto a prazo vai resolver-se’. O problema é que, primeiro, não estou certa de que as 1.500 pessoas que se formam hoje sejam suficientes e, portanto, que este problema estrutural esteja de facto a ser resolvido. Segundo, é verdade que é um problema que vai ainda demorar a resolver-se fruto deste problema estrutural."

Sendo este um problema estrutural, o que explica que só agora esteja a provocar o 'caos' no SNS? Para a antiga ministra, há "várias razões" que explicam este panorama, desde logo o facto de termos hoje "uma demografia com mais pessoas envelhecidas", a par com "um conceito de ato médico que também restringe aos médicos um conjunto de atuações que noutros países são feitos, por exemplo, por enfermeiros, como acontece no Reino Unido".

"Sem médicos motivados para trabalhar no SNS - e quando digo motivados é ao nível de carreiras, de condições de trabalho e de salários - não há nenhuma reestruturação que funcione", adverte Alexandra Leitão. "Eu não sei se o justo são os 8,5% de aumento ou se são os 30% que os médicos querem. Uma coisa eu sei: é preciso haver um acordo que comece a resolver este problema."

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