Julgamento de Sara Carreira: Ivo Lucas e Paulo Neves condenados por homicídio negligente grosseiro, Cristina Branco por homicídio negligente

12 jan, 10:38

O quarto arguido, Tiago Pacheco, foi acusado de condução perigosa e condenado ao pagamento de multa

Os quatro arguidos envolvidos no acidente que provocou a morte da cantora Sara Carreira foram condenados. Ivo Lucas, namorado da cantora, acusado de homicídio negligente grosseiro, foi condenado a pena suspensa de 2 anos e 4 meses. Paulo Neves, igualmente acusado de homicídio negligente grosseiro, foi condenado a 3 anos e 4 meses de prisão suspensa.

Cristina Branco, acusada de homicídio negligente, foi condenada a 1 ano e 4 meses de prisão suspensa.

Tiago Pacheco, acusado de condução perigosa, foi condenado ao pagamento de multa.

Todos os arguidos ficaram inibidos de conduzir: Ivo Lucas durante um ano; Paulo Neves por dois anos; Cristina Branco por nove meses e Tiago Pacheco durante cinco meses.

No Tribunal de Santarém, a juíza Marisa Ginja deu os factos como provados: “Quanto ao estado do tempo, estava de facto muito escuro, havia uns chuviscos, mas não estava nevoeiro. A visibilidade não estava afetada. As imagens da Brisa são esclarecedoras e permitem perceber que se trata de uma curva aberta, onde é visível a entrada de veículos. Havia visibilidade no local.”

A magistrada considerou que Ivo Lucas se “apercebeu do veículo”, quando se aproximava e que não conseguiu desviar-se “como devia ter feito”: “O veículo da arguida Cristina Branco estava sinalizado - estava com piscas, falamos em piscas grandes perfeitamente visíveis. Depois do embate de Cristina Branco, há oito veículos que passam e conseguem desviar-se. Havia condições para Ivo Lucas desviar-se do veículo de Cristina Branco e não embater.”

Para a juíza a morte de Sara Carreira ocorreu na sequência do embate do carro de Ivo Lucas, mas os três arguidos têm responsabilidades na morte da cantora: “Está aqui em causa um ato de distração de Ivo Lucas e Cristina Branco, que resulta num acidente e na morte. Foram os três arguidos que, ao omitirem os seus deveres, levaram à morte de Sara. Nenhum circulou com os cuidados a que estava obrigado. Todos os arguidos contribuíram para o resultado da morte.”

Sobre Paulo Neves, que seguia alcoolizado, a juíza recordou que o condutor “disse que bebeu bebidas alcoólicas e que conduziu”, acrescentando: “Concluímos que o arguido circulava com uma taxa de pelo menos 1,18 - análise foi feita quatro horas depois, o que compromete o teste. No momento em que este senhor fez o teste, a concentração máxima de álcool já diminuiu”.

“Ia a velocidade entre os 28 e 32 km por hora”, apontou ainda sobre Paulo Neves, dando como provado que circulava muito abaixo do limite permitido por lei.

“Conduzia de forma desatenta”, concluiu a juíza, sobre a fadista Cristina Branco: ” A arguida lembrava-se apenas em parte o que tinha acontecido. A partir do momento em que o carro de Paulo Neves ficou visível, a arguida teve tempo suficiente para reduzir a velocidade e desviar-se. Tinha um campo de visão desimpedido.”

O Ministério Público tinha pedido a condenação de Ivo Lucas, Cristina Branco e Paulo Neves, que, segundo o procurador, durante o julgamento, se limitaram a “assobiar para o lado”. O MP considerou que a conduta de todos os arguidos levou à morte da filha de Tony Carreira e a juíza deu, agora, os factos como provados.

Para Ivo Lucas, que conduzia o carro onde seguia Sara Carreira, o MP tinha pedido uma pena suspensa acima de dois anos e meio. Para a fadista Cristina Branco, que embateu no carro de Paulo Neves, foi pedida pena suspensa de pelo menos um ano. Para o condutor que seguia alcoolizado, o MP pediu pena suspensa de três anos e nove meses.

Para Tiago Pacheco, que embateu no carro de Ivo Lucas, o MP defendia a aplicação de uma multa superior a 600 euros.

Sara Carreira morreu a 5 de dezembro de 2020, na sequência de um acidente de viação ocorrido na A1.

O julgamento deste caso arrancou em outubro de 2023.

Tony Carreira no tribunal: "Vou virar a página, não volto cá mais"

Antes da leitura do acórdão, Tony Carreira disse que compareceu em tribunal por achar que devia isso à filha e revelou que não iria recorrer da sentença, porque o seu “objetivo era tentar perceber o que aconteceu”.

O cantor voltou a deixar a ideia de que não era movido por um sentimento de vingança: “Não tenho ódio por ninguém. Só estava aqui para perceber o que aconteceu. Mas, uma vez que toda a gente tem amnésia, o que posso fazer?”

“Vou fazer o luto e esse é um processo que vai durar toda a vida”, disse o músico, apontando que o resultado não mudaria “absolutamente nada”.

À saída do Tribunal de Santarém, já depois de ter ouvido a sentença, Tony Carreira reafirmou que não vai apresentar recurso: "Hoje vou virar esta página, aconteça o que acontecer, eu não volto cá mais."

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