Rejeitou golo por fair-play: «Um atleta deve manter a dignidade»

10 dez 2015, 11:52
Sandro Freitas

Sandro Freitas explica decisão que terá levado a derrota do seu Marítimo em Vila Praia de Âncora

Sandro Freitas foi a grande figura do duelo entre Marítimo e o ADJ Vila Praia na 1ª eliminatória da Taça de Portugal em hóquei em patins. O jogador madeirense viu o árbitro validar um golo que poderia garantir a vitória da sua equipa. Porém, decidiu repor a verdade
.

A bola não chegou a entrar. Nessa altura, Marítimo e Vila Praia seguiam empatados (7-7). Faltavam três minutos para o final do encontro. Sandro Freitas – autor do pretenso golo -intercedeu junto do árbitro e provocou a mudança de decisão.

O jogo seguiu para prolongamento e a equipa de Vila Praia de Âncora selou o triunfo com um golo de ouro.

No dia seguinte, Sandro Freitas falou com o Maisfutebol
e não demonstrou qualquer tipo de arrependimento perante um gesto que mudou a história do encontro. Com prejuízo natural para a sua equipa, que se viu afastada da Taça de Portugal.

«Foi um gesto natural, nem falei com ninguém antes de o fazer. Sei que se calhar, se falasse com alguém antes de decidir, podia surgir no calor do momento uma opinião contrária, porque já fomos prejudicados muitas vezes com situações do género. Mas penso que foi a atitude certa e tenho sentido o apoio de todos no clube», começou por dizer.

O Marítimo realizava o terceiro jogo no norte do país em igual número de dias. «Estávamos empatados, a dois minutos no final, e esse golo poderia resolver a questão a nosso favor. Ainda por cima, era o terceiro jogo que fazíamos e notava-se bastante o desgaste, que se tornou ainda mais evidente no prolongamento. Acabámos por perder, é certo, sem que me tenha arrependido do gesto», garante.

«Como disse, já fomos prejudicados em várias situações do género. Temos apenas uma derrota no campeonato, frente ao Fânzeres, em que nos anularam dois golos quando a bola entrou mesmo. É o chamado vale-tudo, em que o árbitro erra e ninguém o tenta ajudar, mas penso que todos devemos contribuir para a verdade no desporto», salienta o jogador.
 



A formação madeirense ocupa o segundo lugar na zona norte da terceira divisão e defrontou, curiosamente, o líder da prova. Sandro Freitas explica que o duelo estava a ser marcado por alguns lances duvidosos: «O trabalho do árbitro não é fácil, pode errar como nós, e aquele jogo não lhe estava a correr nada bem, já tinha tomado várias decisões polémicas. Se validasse aquele golo seria ainda pior.»

«A nossa vida deve ser pautada pela honestidade e pelo bem», insiste o madeirense, explorando a ideia: «Por acaso estava a falar com o preparador-físico do Vila Praia sobre o que é um bom atleta. É aquele que tem grandes registos ou o que mantém sempre a dignidade? Acho que um atleta deve manter a dignidade, isso é o mais importante»

Será que este foi o melhor lance da carreira de Sandro Freitas? Merece um enorme aplauso, sem sombra de dúvida. «Valorizo bastante o que fiz e acaba por ser curioso, não fui aclamado a nível nacional pelo desempenho no hóquei mas surge agora esse reconhecimento por um gesto natural. Infelizmente, temos de lidar com a insularidade e sentimos dificuldades de crescimento do desporto na ilha», salienta.

«Ainda hoje li um comentário de um adepto do Marítimo a dizer que fomos tontos, que se fosse ele deixava passar, deixaria que o golo fosse validado. E acredito que muitos fizessem o mesmo. O próprio treinador do Vila Praia, que tem larga experiência, disse que nunca viu um gesto semelhante. Mas fiquei feliz por ter esta atitude e 99,9 por cento das pessoas têm-me dado os parabéns por isso mesmo», congratula-se o jogador.
 



Sandro Freitas, tal como o treinador do Vila Praia, nunca assistiu a um gesto semelhante. Porém, espera que a sua atitude constituía um pequeno passo no sentido certo. «Jogo hóquei desde os 6 anos e, em 24 nesta modalidade, nunca assisti – infelizmente – a um gesto como este.»

«Penso que vocês (jornalistas) têm um poder enorme para passar uma mensagem positiva e espero que medidas como estas tenham impacto sobretudo nos mais jovens, que estão a começar e podem ser mais facilmente influenciados», remata o jogador do Marítimo.

Os jovens da CRIAMAR – associação de solidariedade social sediada no Funchal – ficam com o belíssimo exemplo do seu coordenador desportivo. Se um deles repetir o gesto no futuro, terá valido a pena.

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