Estado de emergência, porte de arma, mobilização de reservistas: como a Ucrânia se prepara para a guerra

23 fev 2022, 13:01

Secretário do Conselho de Segurança Nacional da Ucrânia garante que resposta de Kiev a uma agressão russa será "instantânea". Parlamento vai aprovar estado de emergência e reservistas já foram mobilizados

O Conselho de Segurança Nacional da Ucrânia pediu e os deputados deverão aprovar ainda esta quarta-feira o estado de emergência no país, que se prepara de forma cada vez mais evidente para uma agressão russa. 

Oleksiy Danilov, secretário do Conselho de Segurança da Ucrânia, anunciou, em conferência de imprensa em Kiev, que o estado de emergência - que será implementado por 30 dias e poderá prolongar-se por igual período - incluirá o "reforço da ordem pública e segurança em instalações cruciais". Vai ser aplicado em todo o território, exceto na região separatista, onde já vigorava a lei marcial - que só será imposta, desta vez, em caso de agressão.

"Dependendo das circunstâncias locais, pode haver medidas mais fortes ou mais suaves para assegurar a segurança do nosso país", revelou Danilov. "São todas medidas preventivas, com o objetivo de preservar a paz e a calma no país e para a economia continuar a trabalhar", garantiu o responsável.

O estado de emergência permitirá igualmente ao governo ucraniano a imposição de restrições nos movimentos e deslocações dos nacionais, controlo de fronteiras, inspeção de veículos, verificação de documentação ou recolher obrigatório - este último previsto apenas no caso de uma invasão russa.

Cada uma das regiões da Ucrânia poderá selecionar as medidas a aplicar, "dependendo do quão necessárias sejam", admitiu Danilov. Porém, a forma como se operacionalizará o estado de emergência não deixa de ser um enigma: nunca foi decretado, nem mesmo em 2014, aquando da anexação russa da Crimeia.

Mas o secretário do Conselho de Segurança de Kiev não deixou de ser assertivo: a resposta da Ucrânia a um eventual ataque será "instantânea", garantiu Danilov.

Parlamento aprova licença de porte de arma para autodefesa

O parlamento ucraniano, a Rada, passou a manhã desta quarta-feira a aprovar medidas não só de prevenção, mas visando igualmente a defesa dos cidadãos ucranianos, numa visível escalada das medidas que procuram fazer frente à iminente agressão russa: os deputados votaram mesmo uma lei que autoriza o porte de arma e sua utilização para autodefesa.  

A Rada aprovou ainda a imposição de sanções a 351 cidadãos russos, incluindo os deputados que apoiaram o reconhecimento da independência das regiões separatistas do leste da Ucrânia bem como o envio de tropas russas para Donbass.

As sanções incluem restrições a quase todos os tipos de atividades possíveis, proibindo a entrada na Ucrânia bem como o acesso a bens, capital, propriedades ou licenças para comércio e negócios. 

No que à mobilização militar diz respeito, a Ucrânia também não ficou à espera da entrada dos russos: em decreto, o presidente Volodymir Zelensky decidiu que devem apresentar-se os reservistas dos 18 aos 60 anos, para um período máximo de serviço de um ano.

A Ucrânia terá cerca de 900.000 soldados na reserva, segundo as estimativas dos especialistas citados pela BBC, e os primeiros 36.000 deverão apresentar-se entretanto, juntando-se às fileiras do exército. Quem ignorar a chamada enfrenta "responsabilidade criminal".

Mas o governo ucraniano não fechou ainda a porta a uma solução diplomática - bem como Putin, que esta quarta-feira, por ocasião do Dia do Defensor da Pátria, falou aos russos para dizer que o Kremlin "está sempre aberto ao diálogo direto e honesto para encontrar soluções diplomáticas para os problemas mais complexos", ainda que tenha sublinhado que os interesses e a segurança do país "não são negociáveis".

Na terça-feira, o presidente ucraniano garantiu que Kiev quer paz mas, se não agir agora. "amanhã podemos desaparecer", disse, num discurso à nação. 

Ministro russo, militares e deputados alvos das sanções da UE

O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, os comandantes da Força Aérea russa e da frota do Mar Negro, bem como 351 deputados russos, deverão ser alguns dos alvos das sanções que a União Europeia vai anunciar na tarde desta quarta-feira.

Segundo o The Guardian, a UE deverá impor congelamento de bens e proibição de entrada a 23 pessoas, três bancos e a uma "fábrica de trolls" de São Petersburgo - uma espécie de máquina de desinformação e propaganda que visa interferir com a opinião pública.

O governo russo também enfrentará maiores dificuldades em fazer aumentos de capital nos mercados financeiros europeus. 

Vladimir Putin ainda não deverá ser, pessoalmente, alvo de qualquer sanção específica.

Os estados-membros da União Europeia, através dos seus embaixadores em Bruxelas, deram luz verde na manhã desta quarta-feira ao primeiro pacote de sanções a aplicar à Rússia, que precisarão da aprovação formal dos ministros dos Negócios Estrangeiros, que é normalmente dada como certa após a aprovação dos embaixadores, e que deverá ser colocada por escrito ao início da tarde desta quarta-feira.

As sanções entrarão em vigor logo que sejam publicadas no Jornal Oficial da UE, o que deverá acontecer ainda hoje.

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