A tensão continua a crescer entre a Rússia e a Ucrânia. Esta reação do Kremlin acontece no mesmo dia em que os principais diplomatas da Rússia e dos Estados Unidos se reúnem de urgência
O Kremlin reagiu esta sexta-feira a uma iniciativa do parlamento russo para reconhecer duas regiões separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia como estados independentes, alegando que é importante evitar medidas que possam aumentar as tensões.
Segundo avança a Reuters, o parlamento da Rússia realizará audiências na próxima semana com vista a apelar ao presidente Vladimir Putin para que reconheça a autoproclamada República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhansk.
Esta reação do Kremlin acontece no dia em que os principais diplomatas dos Estados Unidos e da Rússia se encontram em Genebra, por isso, o porta-voz, Dmitry Peskov, afirma que é importante não tentar marcar pontos políticos numa situação tão frágil.
Peskov adiantou ainda que o Kremlin não esperava que o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, entregasse uma resposta por escrito às suas amplas demandas por garantias de segurança do Ocidente na sexta-feira.
O destacamento de tropas russas junto à Ucrânia suscitou preocupação entre os países ocidentais, que temem uma guerra entre os ex-vizinhos soviéticos, cujos laços têm sido tensos desde a anexação da Crimeia por Moscovo e o início de uma insurgência apoiada pela Rússia no leste da Ucrânia, em 2014.
Reconhecer formalmente as duas regiões separatistas no leste da Ucrânia como independentes é visto como um passo que Putin poderá dar, se não conseguir garantir as garantias de segurança que está a pedir ao Ocidente.
O que esperar do encontro entre Estados Unidos e Rússia
Esta sexta-feira, os principais diplomatas da Rússia e dos Estados Unidos reúnem-se de urgência, com as crescentes tensões sobre o território ucraniano em cima da mesa. O encontro acontece na sequência de uma série de reuniões entre as autoridades de ambos os lados, na semana passada, que não produziram avanços.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, deslocou-se a Genebra para conversar com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, após uma passagem pela Europa para reforçar os compromissos dos aliados norte-americanos para atingir a Rússia com sanções, se esta prosseguir com uma invasão da Ucrânia.
"Permitir um avanço russo na Ucrânia arrastaria-nos de volta a um tempo muito mais perigoso e instável, quando este continente e esta cidade [Berlim] estavam divididos em dois... com a ameaça de uma guerra a pairar sobre a cabeça de todos", afirmou Blinken, em Berlim.
No lado oposto, a Rússia quer que o Ocidente prometa que a Ucrânia não se juntará à aliança da NATO. O que acontecerá a seguir pode mesmo comprometer toda a estrutura de segurança da Europa.
Já na quinta-feira, Blinken alertou Moscovo sobre as graves consequências se alguma das suas forças cruzar a fronteira. De referir também que a Rússia tem 100.000 soldados na fronteira, mas nega estar a planear uma invasão.
O governo norte-americano adiantou que Blinken tentará oferecer a Lavrov uma "rampa diplomática" para aliviar as tensões. Tal acontece depois de Joe Biden, ter afirmado, na quarta-feira, que acredita que a Rússia "vai avançar" na Ucrânia e alertado sobre um "desastre para a Rússia". Contudo, também pareceu sugerir que uma "pequena investida" poderá atrair uma resposta mais fraca dos Estados Unidos e dos seus aliados.
A mensagem provocou uma repreensão do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que escreveu no Twitter: "Não há investidas menores. Assim como não há baixas menores e pouca dor pela perda de entes queridos".
We want to remind the great powers that there are no minor incursions and small nations. Just as there are no minor casualties and little grief from the loss of loved ones. I say this as the President of a great power 🇺🇦
— Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) January 20, 2022